A inclusão desta comunidade é, assim, pela primeira vez patenteada no coro das cerimónias de uma JMJ, estando a participação a ser encarada com grande entusiasmo pelos seis elementos do projeto Mãos Que Cantam, a que se juntarão nos próximos meses jovens surdos de múltiplas dioceses do país.

No espaço D. Ajuda, no antigo Mercado do Rato, (Lisboa) os membros do Mãos Que Cantam começam agora a tomar contacto com os cânticos – que deverão ser cerca de meia centena -que, nos dias da Jornada, irão cantar com as mãos lado a lado com os “cantores ouvintes” que compõem o coro principal.

O mentor do projeto, surgido há 12 anos, é Sérgio Peixoto, músico e diretor do Coro da Universidade Católica.

“Há cerca de 12 anos, no Instituto de Ciências da Saúde, abriu o curso de Língua Gestual Portuguesa para Professores Surdos e, na altura, o diretor da faculdade, professor Alexandre de Castro Caldas, mais a professora Ana Mineiro, vieram ter comigo e perguntaram se não seria interessante integrar estes alunos na universidade de uma maneira diferente”, diz Sérgio Peixoto, recordando como tudo começou.

Consciente de que, por serem surdos, “era um bocadinho mais complicado”, não deixou, no entanto, cair em saco roto a pergunta: “porque não através da música?”

“Na altura, não sabia nada sobre a comunidade surda, não tenho familiares surdos, na altura não tinha sequer amigos surdos. Mas, foi um desafio e eu fiquei muito interessado, mais curioso. E, daquele lado [dos potenciais elementos para o coro], também havia um grupo que se mostrou interessado e também curioso”, afirma, acrescentando: “combinámos um ensaio e eu, obviamente, combinei com uma intérprete, e combinámos lá numa sala da universidade”.

“Só que a intérprete chegou atrasada. E quando eu cheguei, já eles [os elementos surdos] estavam na sala e, quando eu entrei, a única coisa que consegui dizer foi ‘Olá!’. E foi nesse momento que senti o que era ser minoria, porque eu era o único que não conseguia comunicar, porque eles, entre eles, comunicavam com a Língua Gestual Portuguesa”, afirma Sérgio Peixoto, que também nesse momento decidiu que queria enveredar por aquele caminho de quebrar barreiras de comunicação através da música e da Língua Gestual Portuguesa.

A partir daí, começou a trabalhar com aqueles elementos, até que começaram a interagir com outros grupos, desde logo o Coro da Universidade Católica, até artistas como os Xutos e Pontapés, Jorge Palma ou Cuca Roseta.

Até que chega a possibilidade de participar na JMJ.

“Eu faço parte da equipa que está responsável pela parte musical das cerimónias da Jornada Mundial da Juventude e, naturalmente, percebeu-se que seria importante, mesmo nesta ideia de inclusão, a participação do projeto Mãos Que Cantam. Pela primeira vez, há um coro de pessoas surdas na Jornada Mundial da Juventude”, diz, sem disfarçar o orgulho, deixando o desejo de que “nas próximas jornadas, noutros países, esta semente tenha frutos e que nesses países também se incluam pessoas surdas a fazer música”.

O hino da JMJ Lisboa 2023, “Há Pressa no Ar”, já está em Língua Gestual Portuguesa, num trabalho de uma jovem escuteira do Algarve, que também irá participar no coro em agosto.

Se agora apenas os seis elementos do Mãos Que Cantam se juntam no espaço D. Ajuda a Sérgio Peixoto e à tradutora Sofia Figueiredo, considerada uma peça fundamental neste trabalho, nos próximos meses, talvez a partir do final de maio, já estarão juntamente com o “coro dos ouvintes” a ensaiar, e a partir de final de junho e no mês de julho, os ensaios serão já feitos com a própria orquestra que será orientada pela maestrina Joana Carneiro.

Neste momento, está a ser finalizada “a passagem dos textos [dos cânticos] para gesto”, para depois começar a ser trabalhada a música.

O Acolhimento, a Via-Sacra, a Vigília e a Missa de Envio são os momentos em que, para já, está prevista a participação dos elementos surdos no coro da JMJ.

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