SAPO: A primeira vez que atuaram no Rock in Rio-Lisboa foi em 2008. Quais são as memórias que guardam deste concerto e do público português?

Peanut: Lembro-me de estarmos em cima do palco e ver pessoas a passar mesmo à nossa frente a fazer ‘slide’, como no Exército. Este foi uma das primeiras experiências que tivemos com uma boa plateia portuguesa. Tocámos no Coliseu do Porto e em alguns festivais e queríamos sempre voltar a Portugal. Recordo-me particularmente do concerto no Coliseu, porque o público fazia-se ouvir muito, era louco. Esperamos encontrar o mesmo desta vez.

SAPO: O que podemos, então, esperar do concerto no Rock in Rio-Lisboa?

Peanut: Até agora já lançámos quatro discos e posso dizer que logo no dia a seguir ao nosso concerto no Rock in Rio-Lisboa será lançada a coletânea “Souvenir: The Singles 2004 – 2012”.

Em relação ao concerto propriamente dito, vamos tocar os êxitos dos nossos quatro álbuns, como “Ruby”, “Kinda Girl You Are” ou “Little Shocks. É bom saber que a nossa coletânea de êxitos está quase a sair e na qual estão reunidas algumas das músicas que as pessoas ouviram na rádio em todo o mundo. É porreiro poder subir ao palco e dizer “aqui estão alguns êxitos dos Kaiser Chiefs”.

Sempre que se faz uma pausa na digressão e depois se recomeça-se são precisas algumas semanas para voltar a pôr tudo a funcionar. Mas como no verão passado marcámos presença em vários festivais e fizemos digressão no Reino Unido, na Europa, na América e na Austrália, sentimos que o nosso espetáculo está cheio de energia. Espero que os nossos fãs portugueses tenham sentido a nossa falta e vai ser bom vê-los novamente.

SAPO: Vai ser um concerto espontâneo ou tudo irá estar bem planeado?

Peanut: Conheço bem o Ricky Wilson (vocalista dos Kaiser Chiefs) e ele vai fazer tudo para puxar pelo público e criar algo espontâneo. Em termos do alinhamento sabemos perfeitamente quais são as canções que combinam e aquelas que não casam bem umas com as outras.

Vai ser um concerto divertido, porque queremos interagir com o público e que este se envolva connosco. O concerto será à maneira dos Kaiser Chiefs, mas esperemos que a audiência corresponda.

SAPO: Em junho de 2011 aparecia no vosso ‘site’ uma aplicação que permitia aos fãs escolher 10 entre 20 canções dos Kaiser Chiefs e compor, assim, o seu próprio álbum com uma imagem de capa personalizada e por um preço específico. Como é que surgiu esta ideia?

Peanut: A ideia foi do Ricky Wilson. Um amigo dele era ‘designer’ criativo e o Ricky perguntou-lhe o que se podia fazer para interagir com os fãs. Nos dias que correm, cada álbum tem de ser especial, tem de ter alguma história associada. Nós tivemos uma experiência anterior, mas que foi feita no álbum errado. Durante um mês, as faixas de “Off with Their Heads” (2011) estiveram disponíveis para ‘download’, mas a experiência deixou-nos um pouco frustrados, porque não era aquilo que queríamos fazer no mundo da música.

De repente, em 2010, começámos a trabalhar neste projeto secreto. Quando demos por nós, estávamos a escrever 20/30 canções para o projeto. Não sabíamos se a ideia resultava e se a tecnologia estava à altura...Foi uma surpresa para todos. Não disse aos meus pais, aos meus amigos, a ninguém. Foi algo de muito novo para nós.

SAPO: No mesmo mês, os Kaiser Chiefs lançaram um disco com 12 dessas 20 canções. O álbum enquanto objeto ainda é considerado importante no mundo da música?

Peanut: É uma boa pergunta. A arte de se fazer um disco mudou muito. Nos anos 60, com a explosão do ‘rock n roll’, as coisas eram bem diferentes em relação ao que acontece hoje. Hoje, uma nova banda ou grupo lança apenas uma canção, que se pode propagar pelo mundo como um vírus, mas depois desaparece. O processo de criação de um álbum tem os seus altos e baixos, mas ainda é importante. Mesmo assim quisemos que os fãs se envolvessem e demos-lhe a possibilidade de decidirem o alinhamento e a capa. Fizemos isto porque as coisas mudaram. Quando damos a oportunidade de as pessoas terem o seu próprio disco, é como se o mesmo fizesse parte delas. É uma nova etapa que teve de ser feita.

SAPO: A versão norte-americana do vosso álbum está disponível gratuitamente na Internet. Está é a forma que a banda encontrou para se adaptarem aos efeitos provocados pela pirataria?

Peanut: Por vezes temos de fazer coisas de que não gostamos tanto. Sejamos honestos. Eu consigo ir a um qualquer ‘site’ de ‘torrents’ e sacar o álbum gratuitamente e, por isso, temos de dar motivos para as pessoas continuarem a estar envolvidas com a banda, mesmo que seja apenas comprar uma ‘t-shirt’ ou um ‘poster’.

Infelizmente, as pessoas pensam que não têm de pagar para ter música. É o conceito da pirataria. Mas produzir e criar música e promovê-la custa dinheiro e tempo.

Vivemos tempos de mudança e ainda não se sabe bem o que fazer para lidar com esta situação. A indústria tem vindo a perder muito dinheiro e já não é um negócio muito lucrativo.

SAPO: Já tiveram a oportunidade de olhar para o cartaz e de saber quais as bandas que vão tocar no mesmo dia que os Kaiser Chiefs no Rock in Rio-Lisboa 2012?

Peanut: No final da noite em que atuamos (3 de junho), Bruce Springsteen é o cabeça-de-cartaz. Nunca vi um concerto dele, mas estou interessado em assistir. Também quero ver o concerto de Stevie Wonder no dia anterior (sábado, 2 de junho). Sei ainda que os James vão atuar no mesmo dia que nós.

Acho que chegamos a Lisboa no sábado e vou ver se consigo assistir ao concerto de Stevie Wonder. Estou bastante entusiasmado com a oportunidade de o poder ver ao vivo.

O Bruce Springsteen inspira-se naquilo que se passa no mundo e cria canções precisas e consegue transmitir as frustrações ou as celebrações vividas no mundo. Sou fã das músicas de Stevie Wonder. Ele fez grandes canções e sempre que ouvimos as músicas dele descobrimos coisas novas.

@Daniel Pinto Lopes