O projeto “Fado para dois” concretizou-se já em dois CD e em vários “espetáculos em várias partes do país e no estrangeiro, sendo esta uma possibilidade de o apresentar em Lisboa”, disse à Lusa Natalino de Jesus.

O fadista explicou que, “na realidade, são três espetáculos num, na medida em que cada um interpreta fados do seu repertório a solo e, depois, a dois recuperam-se temas da memória fadista, e que fizeram os alinhamentos dos álbuns”.

Lenita Gentil, por seu turno, salientou “a importância da memória, sem a qual o fado, como qualquer género musical não tem uma definição e perde o contexto”. “Por outro lado, é importante que se perceba que, para tudo o que hoje acontece em torno do fado, e ainda bem, só é possível pelos que vieram atrás”, disse Lenita Gentil.

Os dois fadistas, que serão acompanhados por Fernando Silva, na guitarra portuguesa, Carlos Macieira, na viola, e Paulo Ramos, na viola baixo, vão também homenagear o músico e compositor Martinho da Assunção, nascido há cem anos.

O violista Martinho d'Assunção, falecido em março de 1992, começou a destacar-se em 1927, como noticia o jornal Guitarra de Portugal, que, após um concerto no Teatro Politeama, em Lisboa, sublinhou o virtuosismo de “tão pequenito tocador de viola”.

Natalino de Jesus irá interpretar o último tema que Martinho d’Assunção compôs, “Quando em Lisboa”, com poema de Rui Manuel, que gravou em disco, e Lenita Gentil irá interpretar, do mesmo compositor, “Gota Abandonada”, um poema de Maria de Lourdes de Carvalho, que foi também uma criação sua.

A intérprete gravou para a discográfica Alphabeta um LP inteiramente composto por Martinho d’Assunção, com letras de Maria de Lourdes de Carvalho.

A fadista congratulou-se pelo facto de “o fado não ser já o parente pobre da música portuguesa” e observou que, “atualmente, não há ninguém quem não cante fado”. “Toda a gente canta, é espantoso!”, rematou.

Do seu repertório Lenita Gentil afirmou que “é incontornável” a interpretação de “Preciso de espaço”, de Vasco de Lima Couto e Verónica, um tema que, afirmou, se lhe “colou à pele”, e irá cantar temas do novo CD, editado no ano passado.

Natalino de Jesus irá interpretar, entre outros, "Eu canto este meu fado, este meu povo", de José Luís Gordo e Arménio Melo, e “Loucuras não”, de António Rocha e Fernando J. Silva.

Em dueto, entre outros temas, Natalino de Jesus e Lenita Gentil vão interpretar “Lisboa ao entardecer” (Jan Tisky/Rogério Oliveira), "Vielas de Alfama" (Max/Artur Ribeiro), "Lado a lado" (Jerónimo Bragança/Nóbrega e Sousa), e "Lugar vazio" (J. Bragança/N. Sousa).

Os fadistas preparam um terceiro álbum em conjunto e, à Lusa, Natalino de Jesus referiu que este é “um projeto muito bem aceite, dada a sua dinâmica, e o facto de revisitar a memória fadista, e muitas pessoas conhecerem os temas e surpreenderem-se com uma interpretação a dois”

Lenita Gentil estreou-se com 16 anos, aos microfones dos Emissores do Norte Reunidos, por intermédio do maestro Resende Dias, e conta com mais de 80 discos gravados. Em 1964, apresentou-se pela primeira vez na televisão e, entre outros prémios, ganhou o Festival da Canção da Figueira da Foz (1967), o Óscar da Imprensa (1968), o Festival Hispano-Português do Douro (1966, 1968, 1969 e 1970) e o Prémio da Crítica nas Olimpíadas da Canção, em Atenas (1973).

Natalino de Jesus profissionalizou-se como fadista aos 15 anos, após ter vencido a Grande Noite do Fado de Lisboa, em 1985, tendo desde então gravado mais de 200 temas em vários discos.

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