Hélio Morais, o baterista-ídolo da multidão presente, abriu o alinhamento, entre sorrisos e convites à expressão corporal, com “Queluz Menos Luz”. De uma “Casa Ocupada” para a tempestade sonora de “Turbo Lento”, sairam “Sapatos Bravos” e “Ratos”.

Na plateia, prepara-se o espaço para demonstrações de entusiasmo, com a dança, a voz, as mãos. Para viver um concerto dosLinda Martiniem toda a sua essência é fundamental um lugar cativo nas cinco primeiras quase-filas de gente. Do amor de putos em “Juventude Sónica”, do amor de sangue quente em “Febril” e do incentivante “Juárez” há lições de vida para guardar na memória.

Da intimidade vem, por sua vez, “Partir para Ficar”, do estreante “Olhos de Mongol”. Acalmam-se os ânimos e as hipóteses do público partir numa viagem de crowdsurfing noite fora.

Movida a sonoridades tormentosas, Gisela João pisa o cenário, de vestido branco e sapatos de pele, pronta para arrebatar a alma rock que há em nós. Ao celebrar uma paixão mútua, “As Putas Dançam Slows” mostrou o poderio vocal da fadista, numa fusão musical sem barreiras estilísticas. E “Pirâmica” deu aso à aventureira Gisela, num mergulho rumo às mãos dos lisboetas – “Teve que vir um cisne para fazer o primeiro stage-dive da noite”.

O canto preencheu todos os espaços em que o corpo precisava de respirar e o amor estava ali, a dançar, a dançar, a dançar... A pulmões cheios entoou-se “Adeus Que Me Vou Embora”, de António Variaçõe, e o compasso, esse, marcou-o uma das melhores linhas de baixo do concerto inteiro.

Os clássicos “Amor Combate” (2006) e “Cem Metros Sereia” (2010) deram continuidade à performance, num disfarçado encore. Vivia-se em cima dos ombros dos amigos, vivia-se de mão dada, vivia-se de testa suada, e a vontade de ficar era incansável.

Cláudia Guerreiro, a menina-senhora Linda Martini, não cessou o poderio percussivo do baixo, Hélio não deu descanso às baquetas, Pedro Geraldes dançou a valsa de guitarra ao peito e André Henrique cantou com o coração nas mãos, no segundo regresso ao palco. “Dá-me a tua melhor faca”, um tema certeiro, monstruoso e cru confirmou o ideal de que esta é a verdadeira banda de rock à portuguesa.

Sangue, suor e lágrimas, numa partilha onde a música de sempre oferece um novo pormenor à vida. Um brinde!

Alinhamento:

Queluz Menos Luz
Sapatos Bravos
Ratos
Juventude Sónica
Febril (Tanto Mar)
Juárez
Partir Para Ficar
Volta
Panteão
Belarmino Vs
As Putas Dançam Slows
Pirâmica
A Corda do Elefante Sem Corda
Adeus Que Me Vou Embora

Amor Combate
Cem Metros Sereia

Dá-me a Tua Melhor Faca

Texto: Sara Fidalgo

Fotografias: Marta Ribeiro