À semelhança do que acontece no disco, a entrada em palco fez-se ao som de Ninguém Tropeça nos Dias, crescendo intenso que, debaixo de misteriosas luzes vermelhas, foi contendo a explosão que haveria de surgir logo de imediato com a frenética Juarez. Caos instalado. Desde aí ficou esclarecida qual seria a intensidade e entrega do resto do concerto.

Logo de seguida, e ainda em modo "Turbo Lento", chegou Panteão, um dos temas que mais se destaca no novo álbum e que cresce imenso em palco, mas que, ainda assim, não conseguiu gerar o entusiasmo que Nós os Outros e Juventude Sónica, os primeiro resgates ao passado da noite, originaram um pouco depois, com o primeiro grande sing-along da noite.

Recuperando um dos tesouros de "Olhos de Mongol", surgiu Estuque, recebido com um entusiasmo contagiante - verdadeiro momento de comunhão, onde a energia entre a banda e público se tornou una.

A partir daí, o ambiente tornou-se absolutamente perfeito. Seguiram-se Pirâmica, Sapatos Bravos e Febril (Tanto Mar), interpretadas de seguida e a adivinharem um futuro risonho ao novo álbum. Nesta altura, o ambiente estava ao rubro, com crowdsurf intenso nas filas da frente. Qualquer dúvida que pairasse no ar sobre "Turbo Lento" ou sobre a eventual forma dos Linda Martini, foi dissipada, com a alegria latente na cara do público e banda.

Com Belarmino, Mulher a Dias, Tamborina Fera e Amor é Não Haver Polícia, chegou a parte mais punk do concerto, o momento de descarregar todas as energias, que terminou da melhor forma, em acalmia, com o novo single Volta, talvez a música mais bonita que os lisboetas já escreveram.

No encore, os Linda voltaram a palco para agradecer aos fãs e, em jeito de recompensa, entregarem uma versão assombrosa de Este mar, tema instrumental que diz mais que muitas palavras, e Cem metros Sereia, que terminou de forma habitual um concerto onde banda e público saíram de alma cheia.

Os Linda Martini são, neste momento, um colectivo coeso, onde cada um dos seus músicos é genial à sua própria maneira: Hélio continua um monstro atrás da bateria; Cláudia continua poderosa e subtil, cada vez mais madura e dona da sua própria identidade e estilo; e as guitarras continuam agitadas, desalinhadas, frenéticas, cheias da vontade de viver.

Sempre com a lucidez que lhes é característica, os Linda Martini deram um concerto brilhante, proporcionando uma noite de partilha, sendo que nem a ausência de verdadeiros pilares da sua carreira como Amor Combate e Dá-me a Tua Melhor Faca conseguiram tirar mérito a uma atuação verdadeiramente vencedora, em todos os sentidos.

Alinhamento:

Ninguém Tropeça nos Dias
Juarez
Panteão
Nós os Outros
Juventude Sónica
Estuque
Pirâmica
Sapatos Bravos
Febril(Tanto Mar)
Belarmino
Tremor Essencial
Ratos
Aparato
Mulher a Dias
Amor é Não Haver Polícia
Volta

Este Mar
Cem Metros Sereia

Texto: David Silva

Fotografia: Nuno Gabriel Moreira