A pianista encontra-se no arquipélago das Canárias, no âmbito do 31.º Festival de Música, e tinha previsto atuar na segunda-feira última, em Santa Cruz, na ilha de Tenerife, recital que cancelou devido à “pior gripe” da sua vida, como disse à agência noticiosa Efe, que já a afastara dos concertos em Amesterdão, no final da semana passada.
Na quarta-feira, às 20:30, Maria João Pires sobe ao palco do auditório Alfredo Kraus com o pianista francês Julien Brocal, que foi seu aluno num curso realizado na Cité de la Musique, em Paris, em janeiro de 2013.
O programa abre com “Pour le Piano” (L. 95), de Claude Debussy, seguindo-se “Miroirs”, de Maurice Ravel, e termina com duas sonatas de Ludwig van Beethoven, a n.º 26, em Mi Bemol Maior, "O adeus" (opus 81 a), e a derradeira, a Sonata n.º 32, em dó menor (opus 111).
Julien Brocal, de 27 anos, depois do curso em Paris, foi convidado por Maria João Pires a frequentar a Chapelle Musicale Reine Elisabeth, em Bruxelas, onde a pianista é mestre residente.
Em conferência de imprensa, hoje, em Espanha, Maria João Pires, de 70 anos, advertiu para o perigo que representa a competitividade no mundo artístico, dominado pelas exigências mercantilistas, que, no seu tempo, não tinham qualquer papel, porque “era sempre o público quem encontrava o artista”.
A pianista afirmou que pertence a uma geração que conhece a “parte sagrada da arte” e a missão que deve cumprir, como tal, e porque é uma pessoa ativa, iniciou há um ano um programa com jovens, que pretende lutar contra as regras dominantes do mercado.
É no âmbito desse projeto, desse objetivo - dinamizar a comunicação entre artistas de distintas gerações - que se insere o recital de quarta-feira, no Auditório Alfredo Kraus, atuando com o pianista francês Julien Brocal.
Dois dias mais tarde, sexta-feira, a pianista apresenta-se a solo, também no auditório Alfredo Kraus, com a Orquesta Filarmónica de Gran Canaria, dirigida por Trevor Pinnock, cravista e regente - o mento de The English Concert - que considera “um verdadeiro músico" e com o qual, afirmou, “gosta muito de trabalhar”.
Nesta atuação vai interpretar o 4.º Concerto para piano e orquestra, de Beethoven, peça sobre a qual Maria João Pires comentou que a dificuldade de interpretação radica, como em qualquer outro compositor, na capacidade que se tenha de “ver a obra, não como algo que se possui, mas algo que se escuta e transmite”.
A pianista disse que concebe a música como um meio “para melhorar o mundo” e “não um património” das pessoas que vão às salas de concerto, e criticou as escolas de música atuais, porque ensinam técnicas, mas não a “transmissão” da arte.
Maria João Pires defendeu a forma de ensino do Renascimento, que é a que procura aplicar no seu projeto, do qual se afirmou “muito admirada”, pela aceitação que teve entre os promotores musicais.
A pianista disse ainda, segundo a Efe, que acredita que, quando conseguir provar que o seu projeto “funciona”, este será copiado por outros, não pelos da sua idade, mas pelos que agora têm 50 anos.
Pires considerou ainda que as críticas e queixas contra as “coisas que estão mal” são partilhadas por muitos artistas, com a diferença de que “nada fazem” para que estas mudem.
Boston, com o maestro Bernard Haitink, Budapeste, com o maestro Ivan Fischer, Londres, no Royal Festival Hall, e Paris, no Théâtre de la Ville, com outro dos seus jovens alunos, Julien Libeer, são outras etapas previstas no percurso de concertos de Maria João Pires, para 2015.
@Lusa
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