Mísia disse que o novo álbum é “uma prenda a Amália Rodrigues”, e salientou que para si, “foi importante ter mais de 20 de anos de trabalho num reportório próprio”, antes de abordar o de Amália, apesar de pontualmente ter já cantado temas da fadista falecida em 1999, nomeadamente “Lágrima” (Amália Rodrigues/Carlos Gonçalves).
“Tenho o meu repertório próprio com os meus poetas e os meus músicos", sublinhou Mísia, que acrescentou: “Quando comecei a cantar não quis apoiar-me no repertório da Amália por uma questão de prudência, mesmo, e de sentido das realidades”.
“Fiz um trajeto meu, muito meu, com os meus poetas, os meus músicos, com a minha pesquisa, criando o meu próprio repertório e agora, depois de fazer o meu caminho, de mais de 20 anos, quis fazer algo inspirado no repertório de Amália”, sentenciou a fadista.
A ideia do álbum surgiu em junho de 2014, quando Mísia apresentou no Festival de Fado de Madrid, o espetáculo “Tributo a Amália”, e em dezembro desse mesmo ano entrou em estúdio em Lisboa, acompanhada pelos mesmos músicos com que atuou em Madrid, Luís Guerreiro na guitarra portuguesa, Daniel Pinto, na viola e viola baixo, e Fabrizio Romano, ao piano.
O duplo álbum é constituído por um CD em que Mísia interpreta, acompanhada ao piano, as composições de Alain Oulman, e de alguns poetas eruditos que Amália gravou, e no outro CD, acompanhada à guitarra e à viola, o repertório mais tradicional da fadista, nomeadamente “À janela do meu peito”, “Flor de lua” e “Rosinha da serra de Arga”, do folclore minhoto.
“Este disco não é exclusivamente inspirado no repertório amaliano, tem quatro temas novos que foram feitos para a Amália, já depois ter morrido”, realçou Mísia.
Os temas novos são “Amália, sempre e agora”, de Amélia Muge, com música de Mário Pacheco, “Uma lágrima por engano”, de autoria da própria Mísia, com música de Fabrizio Romano, “Amália que não existo”, de Tiago Torres da Silva, na música de Carlos Gonçalves para “Que fazes aí Lisboa”, um poema que Amália gravou no seu último álbum de inéditos, “Obsessão” (1989), e “Madrinha de nossas horas”, de Mário Cláudio, na melodia tradicional do Fado Idanha, de Ricardo Borges de Sousa.
O álbum inclui ainda o tema “María la portuguesa”, de Carlos Cano, que compôs esta canção para Amália, e com a qual gravou, e que Mísia interpreta com Martirio.
“A biografia de Amália continua-se a fazer”, sustentou Mísia, para quem a criadora de “Povo que lavas no rio”, é “sempre nova e diferente”. “O youtube e o tempo trabalham a favor de Amália”, sentenciou.
Para Mísia “o papel de Amália não foi ainda suficientemente reconhecido e referenciado” na proclamação do Fado como património Imaterial da Humanidade, pela UNESCO.
Amália, sobre Mísia, afirmava: “esta ao menos não imita ninguém”, disse a fadista à Lusa, que citou “pessoas que conviveram com Amália Rodrigues, fadista e poetisa falecida em outubro de 1999.
@Lusa
Comentários