Mas esta mulher de 40 anos não é uma devota qualquer. Dolma, mais conhecida pelo apelido «A monja cantora», é a mais improvável das estrelas musicais.Tem feitouma digressão pelo mundo para mudar a vida de milhares de meninas nepalesas atingidas pela pobreza.

Jágravou 12 álbuns e hámais de uma década que participa em festivais eespetáculos na Europa e nos Estados Unidos. O dinheiro que consegue com a sua música, uma adaptação contemporânea dos sons tradicionais tibetanos, vai quase inteiramente para projetos de educação e bem-estar promovidos por monjas budistas.

No entanto, a história de Dolma tem uma parte obscura - uma infância marcada pela brutalidade que ela acredita que a teria deixado consumida pelo ódio caso um professor não tivesse reconhecido o seu talento.

Nascida numa família de tibetanos que fugiram da ocupação chinesa etendo crescido junto a um mosteiro budista em Katmandu, Dolma declara ter sido agredida diariamente pelo pai e diz que asua juventude foi «fisicamente e emocionalmente dolorosa».

Mas «a rebelde em mim assumiu o controlo»,diz, lembrandocomo optou por fugir da sua família aos 13 anos para se dedicar à religião. «Eu era corajosa o suficiente para dizer que não queria mais aquilo», disse à AFP em entrevista.

Mudou-se para um mosteiro localizado nas montanhas sobre Katmandu onde encontrou um professor, Tulku Urgyen Rinapoche, um mestre budista influente no Nepal. «Todo o crédito pela pessoa que sou hoje vai para o meu professor. Eu não sei o que eu seria se não tivesse sido abençoada com os ensinamentos dele. Isso transformou o meu ódio em compaixão».

Dolma aprendeu inglês ao falar com estrangeiros que visitavam o mosteiro e aprendeu o canto espiritual com Rinapoche e a sua esposa, Kunseong Dechen, mas poderiater-se ficado pelo cantar para algumas monjas e turistas no mosteiro se não se tivesse cruzado com o músico americano Steve Tibbetts.

Tibbetts, cuja música reflete a influência das suas viagens pela Ásia, estava a passar por Katmandu quando ouviu Dolma a cantar no mosteiro e decidiu gravar as suas músicas. A princípio, a cantora mostrou-se hesitante mas, depois de consultar o seu professor, decidiu aproveitar a oportunidade.

«Eu não tinha a certeza, mas ele disse-me que aquelas eram canções espirituais, cheias de bênçãos, assim quem quer que as escutasse, seria beneficiado», lembrou Dolma. A carreira disparou de imediato com uma digressão pelos Estados Unidos em 1998.

Depois de ter recebido convites para tocar em todo o mundo e de as vendas dos seus álbuns terem aumentado, Dolma começou a usar sua fama para ajudar meninas desamparadas no Nepal.

Em julho de 2005, construiu a escola Arya Tara, uma casa de aproximadamente 100 meninas, para alunas com idades entre os 7e os23 anos,para membros decomunidades budistas do Himalaia. Segundo ela, «a maioria veio de vilas, onde os pais acham que as suas filhas não precisam ir à escola».

A autobiografia, «My Voice for Freedom», publicada na França em 2008, foi traduzida em 12 línguas incluindo o nepalês. Apesar de a sua carreira estara ter muito sucessono Ocidente, Dolma continuava,a princípio, relativamente desconhecida em casa.

Mas, em 2005, depois de lançar «Momento de felicidade», um álbum com a música «Phulko Ankhama» (In the Eyes of Flowers), que se tornou um hit instantâneo, transformou-se numa celebridade no Nepal.

«Quando ando na rua, as pessoas vêm dizer-me: 'Oh Ani Choying!'. Esboçamum largo sorriso. É uma verdadeira benção saber que posso proporcionar um momento de prazer para alguém».

SAPO/AFP