O lendário cantor jazz e pop norte-americano Tony Bennett morreu esta sexta-feira aos 96 anos.

A morte foi confirmada à agência de notícias norte-americana Associated Press pela agente Sylvia Weiner.

Tony Bennett ficou famoso no início dos anos 1950 com sucessos como “Because of You”, tendo relançado a sua carreira a partir de meados dos anos 1990, com duetos com figuras pop, destacando-se mais recentemente duetos com Amy Winehouse e Lady Gaga.

O músico editou mais de 70 álbuns e venceu 20 Grammys, incluindo um de Carreira em 2011. Vendeu mais de 50 milhões de discos em todo o mundo.

Bennett foi diagnosticado com doença de Alzheimer em 2016, mas continuou a atuar e a gravar álbuns até 2021.

"Está a fazer muitas coisas que várias pessoas com demência não conseguem fazer", contou em 2021 Gayatri Devi, a neurologista responsável pelo diagnóstico do artista. "Ele é mesmo um símbolo de esperança para alguém que sofre de uma perturbação cognitiva", acrescentou.

"A vida é uma dádiva, mesmo com Alzheimer", confessou o artista na altura nas redes sociais.

Press Room - 57th Annual Grammy Awards
Press Room - 57th Annual Grammy Awards Tony Bennett com Lady Gaga

DE NOVA IORQUE E LAS VEGAS PARA O MUNDO

Anthony Dominick Benedetto nasceu a 3 de agosto de 1926 em Nova Iorque. Cedo se tornou um dos maiores intérpretes da música norte-americana.

Nos anos 50, começou a acumular sucessos que perduraram até à década seguinte, como "Because Of You", "Cold, Cold Heart", "Rags To Riches", “Stranger In Paradise" e "I Left My Heart In San Francisco".

O seu amor pelo jazz nunca foi esquecido nem a sua admiração por nomes como Billie Holiday e Louis Armstrong. Entre os músicos de jazz que serviram de colaboradores durante a sua longa carreira destacam-se Charles Panely e Chuck Wayne (no álbum "Cloud Seven"), Count Basie, Bill Evans, Nat Adderley, Herbie Mann, Joe Marsala, Stan Getz, Chico Hamilton, Gene Krupa, Ruby Braff, Al Cohn e Bobby Hackett.

Statue of Liberty Museum opening celebration in New York
Statue of Liberty Museum opening celebration in New York créditos: Lusa

Conhecido já como "cantor-lenda", Tony Bennett passou grande parte da sua carreira em Las Vegas, onde se estreou em 1950. A partir dessa data, tornou-se num ícone norte-americano, atuando nas maiores e mais concorridas salas de Las Vegas, do Hotel Hilton ao Caesars Palace.

A par de Sinatra, Perry Como e Dean Martin, é apontado com um dos mais importantes cantores norte-americanos de origem italiana, que dominaram o panorama musical norte-americano durante décadas. Sinatra chegou mesmo a considerá-lo o melhor cantor da sua área, em 1965, numa entrevista à revista Life.

O último disco de Tony Bennett, "Love for Sale" (2021), inclui versões de Cole Porter e a participação de Lady Gaga.

Além da música, a grande paixão do artista foi a pintura. "Gosto tanto de pintar como de cantar", confessou à Associated Press em 2006. As suas obras foram expostas em coleções públicas e privadas.

Passou também pela Sétima Arte, tendo-se estreado no cinema em 1966 no filme “Sucesso sem Escrúpulos”, de Russell Rouse. Mais tarde voltou ao cinema, mas a fazer de si próprio, em filmes como “Uma Questão de Nervos”, de Harold Ramis, e “Bruce, o Todo Poderoso”, de Tom Shadyac.

Aos 64 anos, foi transformado num desenho animado da série “Os Simpsons” e, aos 82, teve uma participação na série “Entourage”, da HBO.

Bennett era casado com Susan Crow e deixa duas filhas, dois filhos e nove netos.

A sua última aparição pública aconteceu em agosto de 2021, no espetáculo com Lady Gaga “One Last Time”, no Radio Music City Hall, em Nova Iorque.

O cantor atuou algumas vezes em Portugal, as últimas das quais em 2003, nos casinos do Estoril e da Póvoa de Varzim. Há também registo de concertos por cá em 1988 e em 1998.

Em 2017, numa entrevista à revista digital JazzWax, de Marc Myers, Tony Bennett lembrou a parceria e o modo como o trabalho com Bill Evans o marcou. Recordou então um diálogo com o pianista, antes de um concerto, quando este lhe disse "apenas interessava seguir a verdade e a beleza" da música e "ficar por aí".

"Segui o conselho de Bill [Evans] e pensei nas suas palavras durante todo o concerto. Ainda hoje penso no que ele me disse naquela noite, antes de seguir em frente", confessou.

Tony Bennett e Lady Gaga - "The Lady Is A Tramp":