Ouvidas hoje na Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, as duas associações que representam os músicos, artistas e lojistas do centro comercial Stop admitiram que os que lá trabalham diariamente estão preocupados e a viver momentos difíceis.

Pela Associação Cultural de Músicos (ACM) do Stop, Rui Guerra e José António Pereira denunciaram o "jogo de interesses" em torno do centro comercial, nomeadamente, interesses imobiliários.

"A nossa maior preocupação é o futuro do Stop. As obras podem ser feitas e o Stop pode ser legalizado, mas a legalização não nos protege, nem garante que ficamos lá", destacou Rui Guerra, acrescentando que a grande preocupação, neste momento, passa por garantir aos músicos, artistas e lojistas que vão poder continuar as suas atividades naquele espaço.

Também Mariana Costa, da associação Alma Stop, defendeu que a situação em que se encontram "é instável, quer seja o edifício legalizado, ou não".

Para as duas associações, é "preciso vontade política", tanto da Câmara do Porto como do Ministério da Cultura, para avançar com a declaração de utilidade pública do Stop, o único instrumento que, defenderam, permitirá garantir a continuidade dos músicos e artistas no centro comercial.

"Queremos uma garantia de que de hoje para amanhã continuamos lá", referiu Rui Guerra, acrescentando que a legalização do edifício acarreta perigos para os músicos e artistas.

Pela Alma Stop, Henrique Ruas lamentou também o facto de os músicos serem "chutados entre entidades públicas" e se encontrarem "encruzilhados numa cacofonia de opiniões e despejos", lembrando que centenas de pessoas "estão num limbo".

Questionadas sobre a alternativa apresentada pela Câmara do Porto para acomodar os músicos - a Escola Pires de Lima - as duas associações afirmaram que o projeto desenhado para aquele equipamento não inclui os músicos, defendendo que a "alternativa ao Stop é o Stop".

"O Stop tem características que não são reproduzíveis em qualquer espaço, lugar ou tempo, porque só existem ali pela orgânica própria de quem desenvolve aquele espaço e investimento que foi feito", defendeu Henrique Ruas.

As duas associações lamentaram ainda o silêncio do Ministério da Cultura sobre a situação do Stop e apelaram aos representantes parlamentares para insistirem junto das autoridades que podem intervir na resolução desta matéria.

Pelo BE - partido que requereu a audição das associações - o deputado José Soeiro criticou as "muitas desculpas por parte das autoridades públicas", defendendo que o Ministério da Cultura tem de ser "chamado a constituir parte da solução deste problema" e considerando a declaração de utilidade pública uma "peça importante" para garantir o futuro dos músicos.

Também o deputado Alfredo Maia, do PCP, defendeu que os músicos "estão reféns de um conjunto de incógnitas e circunstâncias que não dominam", considerando que cabe ao ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, assegurar a manutenção do Stop, seja através da declaração de utilidade pública ou de outro instrumento legal.

Para o PS, a solução "deve passar por um diálogo firme entre os músicos, proprietários e câmara municipal", afirmou a deputada Maria João Castro, destacando que o poder local "é fundamental" para encontrar uma solução.

Já o deputado social-democrata João Montenegro salientou que o partido luta pela salvaguarda daquele espaço cultural, mas também quer que o mesmo reúna condições de segurança adequadas.

A deputada Patrícia Gil Vaz, da Iniciativa Liberal, disse entender que deve ser declarada utilidade pública daquele espaço, destacando os diversos problemas que o Stop tem enfrentado nos últimos meses.

Pelo Chega, o deputado Jorge Galveias destacou que, com o encerramento do Stop, a cidade do Porto "perde um dos espaços mais autênticos e representativos da cultura" portuguesa, defendendo ser essencial reabilitar o espaço e devolvê-lo à cidade.

O Stop vai continuar a funcionar por tempo indeterminado na sequência de uma providência cautelar interposta pelos proprietários à decisão da câmara de encerrar o edifício, confirmou na sexta-feira o presidente da Câmara do Porto.

O Stop, que funciona há mais de 20 anos como espaço cultural, com salas de ensaio e estúdios, viu a maioria das suas frações serem seladas em 18 de julho, deixando quase 500 artistas e lojistas sem terem para onde ir, mas reabriu a 4 de agosto, com um carro de bombeiros à porta.