
Passavam poucos minutos das 20h00, quando as Warpaint subiram ao palco. Emily Kokal, Theresa Wayman, Jenny Lee Lindberg e Stella Mozgawa apresentaram um espetáculo cheio de energia, tão característica delas, mas também tão cheio daquela emoção, quase comovente, que elas conseguem trazer para palco. ‘Keep it Healthy’, Undertown’, a elétrica ‘Love is to Die’, ‘Disco/ / Very’ e ‘No Way Out’ foram algumas das canções que animaram o público. Mas foi quase no final, quando já algum do público se preparava para ir até outros palcos, que uma cover os fez voltar atrás: ‘Ashes to Ashes’, de David Bowie.
No palco Super Bock era a vez de Slowdive, uma excelente surpresa. A banda de rock alternativo proporcionou um bom momento a quem já os conhecia e a quem ainda não tinha tido curiosidade de os procurar. Embalada por temas, como ‘Crazy for You’, ‘Catch the Breeze’, ‘When the Sun Hits’ e ‘She Calls’, entre outros, a banda britânica foi o contraponto para o concerto mais aguardado da noite, os Pixies.
Confesso que nunca criei, na minha adolescência, qualquer empatia com a banda norte-americana liderada por Black Francis. Uma onda mais roqueira, também influenciada pelo punk e pelo surf rock, pautou a música dos Pixies, que sempre fizeram mais sucesso na Europa do que no seu país de origem. Mesmo sem ser fã, ou apreciadora, reconheço que os Pixies apresentaram um concerto potente, imaculado, onde a voz de Francis pautou a atuação, excetuando o momento em que o baterista David Lovering entoou ‘La la Love You’.
‘Bone Machine’, ‘Madgalena 318’, ‘Ed Is Dead’, ‘Hey’ e ‘Monkey Gone to Heaven’ foram desfilando ao longo da noite, a par com o sucesso radiofónico ‘Here Comes the Man’. Para o fim, deixaram ‘Where is My Mind’, num espetáculo que ficou marcado pela postura de bad boys ‘não temos tempo para conversa fiada’. E nem um “is good to be back”, depois de, em novembro, terem esgotado o Coliseu dos Recreios, lhes foi arrancado. Bad boys até ao fim.
Passavam cerca de 15 minutos da meia-noite, quando a música instrumental do dinamarquês Anders Trentemoller continuou a saga das bandas mais dedicadas à música eletrónica. Um dos remixers mais respeitados da cena mundial apresentou temas como ‘Still on Fire’, ‘Shades of Marble’, ‘Candy Tongue’ ou ‘Never Stop Running’, algumas vezes entoados pela voz mágica de Marie Fisker.
No palco ali perto, o ATP, a banda de rock alternativo Loop fazia as honras. Pouco público para ver os britânicos, que já existem desde 1986, apesar de nunca terem marcado de forma significativo o rock europeu.
Quase em simultâneo, os Mogwai subiam ao palco NOS e os Darkside ao palco Pitchfork. As melodias instrumentais complexas dos primeiros, algumas com mais de cinco minutos de duração, contrastavam com a boa-disposição que se vivia na tenda, onde imperava a dança.
E acabou por ser a música instrumental a causar mais ‘mossa’ na segunda noite do Primavera, que acabou por livrar-se da chuva, depois do temporal que se havia abatido sobre a cidade durante a manhã. Os espetáculos foram, na maioria, propícios àquele ambiente só possível no Primavera, quando o público se senta na relva e aprecia a música tranquilamente. Como dizia um espanhol com quem me cruzei no final da noite, frequentador do Primavera Barcelona há vários anos: “Este é melhor, aqui as pessoas vêm realmente para ouvir a música”. Não diria melhor.
Texto: Helena Ales Pereira
Fotografias: Nuno Gabriel Moreira
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