A cantautora de Leiria estreou-se com “Antwerpen” em 2017 e, cinco anos depois, prepara-se para entrar numa nova fase do projeto Surma, com “Alla” - que significa “todos” em sueco -, disco que começa a ser revelado em “Islet”, cuja letra e videoclip espelham fases da adolescência da cantautora, como o ‘bullying’ que sofreu.

Este primeiro tema é como “um mergulho no meu subconsciente”, retratado em vídeo na passagem de etapas, simbolizadas em salas que Surma atravessa, até à libertação final.

“A música fala um bocadinho sobre uma fase específica da minha vida, dos ‘bullyings’ que os miúdos passam”, um exercício autobiográfico que a artista gostava que funcionasse como “mensagem de esperança e de força”, para ajudar vítimas do mesmo problema.

“É para as pessoas que estão a passar por isso perceberem que não estão sozinhas no mundo. E pode demorar o seu tempo, mas, apesar de passarmos por estas dificuldades todas, encontramos sempre a nossa liberdade, os nossos amigos, e a nossa vida”.

Sobre o vídeo, “muito inspirado n’’A Voz Humana’”, de Pedro Almodóvar, Débora Umbelino destaca o trabalho de produção da Casota Collective, que construiu quatro salas de raiz para as filmagens.

“Foi um trabalho heroico”, considera Débora, lembrando as duas semanas de construção e as filmagens, “muito intensas e emotivas”, que chegaram a durar “das 10:00 da manhã às 5:00 da manhã”.

“Islet” foi realizado por Telmo Soares, músico do First Breath After Coma e um dos elementos da produtora Casota Collective.

Quanto a “Alla”, segundo disco de Surma que a Omnichord edita na primeira semana de novembro, mostrará “o meu lado mais vulnerável e transparente”, promete Débora Umbelino.

O novo registo foi gravado na Casa do Vento, em Torres Vedras, Fábrica da Cultura, em Minde, e no espaço Serra, em Leiria.

“Não tem nada a ver com o ‘Antwerpen’ no que toca a sonoridade, estética ou processos”, antecipa a cantautora, que contou com produção de Rui Gaspar, também dos First Breath After Coma.

Além do ‘bullying’, há várias temáticas sensíveis no novo disco, como a androginia ou os problemas de afirmação pessoal: “Sinto-me madura para falar nestes temas. É um disco muito pessoal, muito inspirado nas viagens que fiz neste tempo, absorvendo outras culturas, fazendo amizades”.

Musicalmente, e apesar de ter sido feito em pandemia, o álbum afasta-se de qualquer registo depressivo: “Pelo contrário: estamos vivos, estamos bem, passámos por uma fase muito má, com muitas mortes e coisas péssimas. Mas é ‘bola para a frente’”, diz Débora, admitindo que o tom de “Alla” é “um bocadinho mais festivo”.

“Se calhar é porque estou numa fase boa da minha vida”, acrescenta.

Uma fase que representa também um salto no projeto Surma, que, depois de um percurso a solo, terá em palco a companhia do baixista e contrabaixista João Hasselberg e do percussionista Pedro Melo Alves, ambos compositores.

“São grandes amigos e sempre quisemos fazer uma coisa a três. Este álbum é o tempo certo para criarmos esse trio. Estas músicas têm essa vida toda ao vivo. Partilhar tudo isto ao vivo vai ser muito bonito de se ver”, concluiu.