Nos anos 70, em plena era disco, havia quem viesse de Espanha dançar no 2001, a discoteca estabelecida debaixo da bancada do Autódromo do Estoril. Diziam que era a única na Península em que tinham a garantia de só ouvir rock. E as cassetes gravadas com os sets do 2001, do News ou do Palm Beach, os discos particulares trazidos pela vasta comunidade estrangeira a habitar na área, as cassetes que chegavam à “linha” pelos surfistas globais de Carcavelos ao Guincho e pelo pessoal da Nato em Oeiras, fizeram da região uma área diferente na mentalidade, no gosto e no consumo musical.
Em 1980, uma noite nas casas noturnas iconográficas do “rock da linha”, não passava sem “Don’t Stop Believin” (Journey), “Urgent” (Foreigner), “Edge of Seventeen” (Stevie Nicks), “Keep on Loving You” (Reo Speedwagon) e “Hidin’ from Love” (Bryan Adams). Uma linha musical que ganharia vários cognomes como “rock da bota” (os músicos rock de final dos anos 70 gostavam de botas e coletes à cowboy) ou, depreciativamente, “rock azeiteiro”. Mas “AOR”, “Rock FM”, “Classic Rock” e “Melodic Rock” acabaram por ser as gavetas mais aceites.
Na primeira parte desta peça explicámos como Bryan Adams “entrou no gosto” dos frequentadores das discotecas da linha do Estoril logo com o primeiro álbum; e de como os DJs locais pegaram numa tema em que mais nenhum país - incluindo o Canadá - pegou, e fizeram dele o primeiro “Hino da Linha”: “Tonight”. Constatámos também que poucos prestaram atenção aos primeiros dois discos, que venderam pouco acima de 50.000 cópias cada, apesar de mais de metade das canções já serem coescritas com Jim Vallance (6 em 9 em “Bryan Adams” e 6 em 10 em “You Want It You Got It”). Ou seja, apesar de fundamental para o sucesso, não foi por Jim ter começado a trabalhar com Bryan Adams que as coisas aconteceram. Na segunda parte mostrámos como o manager Bruce Allen abriu o caminho durante 10 anos para Bryan Adams explodir nos Estados Unidos. Está na hora de conhecer mais alguns dos principais obreiros do sucesso de Bryan Adams. Disco a disco.
A “Life of Bryan” é mais ou menos conhecida: filho de um diplomata militar canadiano, teve uma infância nómada que incluiu Lisboa até se fixar em 1974 em Vancouver, estado da Columbia Britânica, na costa Oeste do Canadá. Comprou a primeira guitarra aos 11 anos e a segunda um ano depois na tal loja “Five And Dime” de que canta em “Summer Of 69”. "Comprei uma Les Paul de imitação numa loja Five and Dime de Ottawa, Canada, em 1971. Antes disso tive uma Strat de imitação que comprei em Reading, Inglaterra, em 1970. Na altura sentias mesmo que ter uma Les Paul era importante. Embora eu fosse fã do Ritchie Blackmore, e ainda sou, estava mergulhado no “Rockin The Filmore” dos Humble Pie. Peter Frampton e Steve Marriott estavam com Les Pauls. Esse álbum é o céu para a guitarra rock”.
No segundo liceu em que andou teve um professor de música que o ensinou a olhar para as canções de forma crítica. Entregou correio, andou nas obras, trabalhou em “pet shops”, lavou pratos no Tomahawk Barbecue no turno 18-24 para comprar o primeiro amplificador. A família preferia que ele seguisse uma carreira escolar regular, mas Adams era do contra. Abandonou os estudos aos 16 anos e gastou o dinheiro poupado para a universidade num piano. Mas começou como guitarrista e vocalista dos Sweeney Todd, uma estadia que foi curta. Em 2004, Bryan Adams contou ao canal canadiano Much Music que saíu do grupo um ano depois porque estava farto de tocar em bares “merdosos”. Queria pelo menos tocar em bares melhores e achou que se conseguisse lançar um álbum subiria um degrau.
Os Prism e Jim Vallance
O trajeto de Jim Vallance é menos conhecido por vontade do próprio, que prefere compor em casa ou estúdio do que saborear a fama à custo de cansativas digressões. Teve aulas de piano aos 7 anos, mas não gostava e abandonou aos 10. E durante algum tempo desligou-se mesmo da música, focando-se mais no basebol e nos livros aos quadradinhos. Até ver os Beatles na televisão, a 9 de fevereiro de 1964. Tinha 11 anos e durante dois mendigou à família por uma bateria, mas os pais preferiram dar-lhe uma guitarra: menos espaço, menos barulho, etc. Mas na eterna guerra de gerações, se os pais o contrariaram, a avó resolveu contrariá-los e comprou-lhe uma bateria usada. Tornou-se autodidata na bateria e vários instrumentos; não é canhoto, mas toca guitarra como tal porque queria ser como Paul McCartney.
Em 1971 foi para a Universidade estudar música e teve de escolher dois instrumentos, piano e flauta. Também não gostou, tirou um ano sabático até que em 1973 um amigo convida-o para as audições de uma nova banda, os Sunshyne. Um grupo de “jazz rock” em que pontuava também o trompetista Bruce Fairbairn, que mais tarde, como produtor, revolucionaria a indústria da gravação do Canadá e transformaria Vancouver num centro do “rock” mundial.
Os Sunshyne evoluiriam para um caminho mais rock e Fairbairn começou a sondar as editoras para um contrato, mas percebeu que tinha de melhorar as canções. Pediu ajuda a Vallance, que escreveu sete temas novos, incluindo “Open Soul Surgery”, a canção que lhes garantiu um contrato com a editora canadiana GTO Records. Em 1976 Vallance e Fairbairn gravam o álbum com músicos dos Sunshyne e de várias outras bandas de Vancouver, incluindo os próprios Vallance (bateria e teclas) e Fairbairn (sopros). Quando entregam o disco à GTO têm um nome diferente, Prism, e o melhor manager do país, Bruce Allen. Jim Vallance tinha assumido o nome de Rodney Higgs em todas as funções: autor, músico e produtor. O próprio assumiu que foi uma jogada calculista para não comprometer o seu nome caso os Prism falhassem. Só que comercialmente não falharam: o álbum seria “Platina” no Canadá e levaria duas canções de Vallance ao top americano, abrindo caminho a digressões nos dois países. Mas mal acaba a primeira digressão, Vallance sai da banda comprometendo-se a continuar a compor-lhe música no seu estúdio caseiro. É nesse resguardo calmo que ele quer estar.
E é nesse registo que os caminhos de Bryan Adams e Jim Vallance se cruzam, como recorda o compositor ao Ottawa Citizen em novembro de 2022. “Era 9 de janeiro de 1978 e eu tinha ido à Long and McQuade [loja de música] em Vancouver, na 4th Avenue. Pode ter sido algo tão simples como comprar cordas de guitarra. Bryan estava lá, fomos apresentados e conversámos rapidamente. Tínhamos os dois deixado as nossas respetivas bandas, eu tinha acabado de sair dos Prism e o Bryan dos Sweeney Todd; e nenhum de nós tinha um plano. Trocámos números, reunimos-mos mais tarde e não parámos. Bryan tinha 18 anos e vivia com a mãe”.
Jim Vallance também identifica o que o impressionou mais na altura: “Desde o primeiro encontro – acho que eu tinha 25 anos e ele 18 – tive uma sensação de energia intensa e motivação. Ele parecia imparável e senti-me realmente atraído por isso. E quando nos reunimos alguns dias depois descobri que ele também era um ótimo guitarrista, um bom compositor e que os dois amávamos os Beatles, os Stones e os Led Zeppelin. Tínhamos muitas influências comuns na música. Foi uma conexão perfeita em muitos aspetos”.
Como se diz na gíria, “juntou-se a fome à vontade de comer”: Jim Vallance não queria ser artista, fazer digressões e ser famoso; queria apenas fazer canções e precisava de alguém que as cantasse nem que fosse para gravar as cassetes-demo. Bryan queria crescer como artista, gravar canções e estava disposto a qualquer sacrifício. Numa entrevista em 2007, admitiu que nessa altura Vallance tinha de lhe emprestar dinheiro para a viagem de autocarro, mas este apenas confirma no seu site que chegou a levá-lo várias vezes a casa da mãe.
Um acidente chamado “Let Me Take You Dancing”
Em fevereiro de 1978, apenas duas semanas depois de começarem a trabalhar na casa de Jim Vallance, nasceu “Let Me Take You Dancing”, o single que seria editado nove meses depois. Bryan recorda no site de Jim Vallance: "No começo, costumávamos passar horas e horas na cave do Jim a brincar com ideias. Lembro-me muito claramente de como foi a primeira vez em que ele colocou bateria na nossa primeira demo. Fiquei completamente impressionado com a bateria - apenas bombo, caixa, prato e alguns microfones e ele foi capaz de montar a base da nossa primeira faixa - e depois adicionou o baixo! Havia mijo de gato em todo o lado e andámos naquele buraco meses até que tivéssemos músicas suficientes para eu ir em busca de um contrato de gravação. Depois voltámos para o buraco escuro - até que a caixa de correio vomitou os nossos primeiros cheques de royalties!".
Muito se passou nesses meses no estúdio caseiro de Jim Vallance, habituando a dupla a um relacionamento fraternal e criativo de teimosia e perfecionismo, persistência e resiliência. “Era trabalho a sério. Sessões de 8 a 12 horas só com uma canção ou uma letra”, diz Vallance. “Stay” foi a segunda ou terceira que escreveu com Adams e chegou a ser gravada para o primeiro álbum, com orquestra e sopros, mas não entrou no disco. Acabou por sair no álbum “Small Change” (81) dos Prism. Datam também deste período “I’m Ready”, “Remember” e “Hidin From Love”.
Foram 9 meses intensos: a diferença de idade e o currículo da dupla gerava oportunidades diferentes e Jim não abandonara o trabalho de “músico de sessão”, compositor ou produtor de que tinha dado provas desde 1976. As jornadas conjuntas eram interrompidas constantemente com dias e semanas em que Jim se ausentava noutras atividades. Bryan aproveitava para ir batendo portas com “demo tapes”, levando com não após não. Além de todas as editoras que o recusaram, outra recepção que conheceu bem o seu traseiro foi a da Bruce Allen Talent. O manager dos Bachman Turner Overdrive e dos Loverboy deu-lhe seca durante semanas recusando recebê-lo. Ironicamente, e talvez mesmo sem dar por isso, Allen aceitaria Bryan por outra via.
Em 1978 a grande “cash cow” da Bruce Allen Talent continuava a ser os Bachman Turner Overdrive e tentava-se a todo o custo travar o declínio assinalado pela quebra de vendas dos dois últimos discos, tanto nos Estados Unidos como no Canadá. A editora, a Mercury de Chicago, contratara o produtor que dera êxito aos Styx e levara os Ohio Players a n.º 1, mas continuava a faltar o essencial: as canções. O manager Bruce Allen também trabalhava os Prism e é ele que recorre a Jim Vallance. Jim entra nas gravações do oitavo álbum dos Bachman Turner Overdrive como compositor e arranjador, mas a banda vai-lhe aumentando a intensidade da participação passando-o a diretor musical e finalmente a produtor, dando-lhe como primeira missão despedir o produtor imposto pela Mercury. Em setembro e outubro de 78 Vallance produz, toca teclas, guitarras, percussão, contribui com coros e duas canções e leva os Bachman Turner Overdrive a gravar um tema de Bryan Adams: “Wastin Time”. A perseverança de Bryan e o altruísmo e generosidade de Vallance obrigaram Bruce Allen a reconhecer o seu talento e deram-lhe o manager com quem ainda hoje trabalha.
Contratado por um dólar
O mesmo se passou em termos editoriais: recusado por todas as editoras com porta aberta no Canadá, é o diretor de publishing da A&M canadiana que aceita englobar as canções da dupla no catálogo de propostas que faziam a produtores e artistas... a custo zero. A Irving-Almo assina-o por um dólar em 1978 porque no Canadá tem de haver troca de dinheiro para um contrato ser válido. Adams aceita um péssimo contrato desde que financiem as gravações das suas demos e é assim que a gravação de “Let Me Take You Dancing” é custeada. Em setembro de 2007, contou a Rhiz Kahn da Al Jazeera que assinou contrato para o primeiro álbum por quatro canções e apesar de não encontrar registo público do conteúdo dessa primeira “demo tape”, calculo que, incluíam o single e também “I’m Ready”, “Remember”, “Wastin Time” e “Jealousy”.
Porque “I’m Ready” foi lançada por Ian Lloyd no álbum “Goosebumps”, editado em 1979. A ligação foi feita pelo produtor Bruce Fairbairn, que conhecera o trabalho da dupla quando ajudaram a sua banda, os Prism. “Jealousy” também deve datar desta altura porque entrou no álbum que Jim Vallance produziu para os Prism em 1979 - onde entraram também “You Walked Away Again” (Adams) e “Take It Or Leave It” (Vallance-Adams); “Wastin Time” (Adams) entrou no álbum que Vallance produziu para os Bachman Turner Overdrive juntamente com “Jamaica” e “Rock’n’roll Hell” de Vallance; quanto a “Hidin From Love”, é o próprio Jim Vallance que o afirma no seu site: “Escrevemos a música em fevereiro de 1979 no "estúdio" temporário que montei na sala de estar da minha casa alugada em Vancouver. Choveu muito na noite anterior e o meu estúdio na cave estava com água até os tornozelos! A música foi inspirada por uma combinação de estilos e influências, principalmente The Cars e Toto. O primeiro álbum dos Cars, em particular, teve uma grande influência nas nossas primeiras composições”.
“Let Me Take You Dancing” ainda hoje é renegado pelo artista e é praticamente impossível encontrá-lo no streaming. Na ficha técnica nem sequer constam guitarras, tendo Adams apenas cantado e coproduzido com Vallance que tocou baixo, bateria e teclas. Contrataram músicos de sessão para os coros e secção de metais e… foi horrível. “Em 1978, Bryan ainda não tinha ‘encontrado’ a sua voz, ainda cantava com um alcance agudo e frágil, um resquício do seu tempo com os Sweeney Todd, onde se esperava que imitasse o anterior vocalista”.
O que é certo é que a canção começou a ganhar airplay na rádio canadiana e a A&M Canadá (desta vez a Records) assina-o enquanto artista; para o lançar nos Estados Unidos decide aproveitar o airplay registado nalgumas rádios de Nova Iorque para agarrar de frente as pistas de dança. Estávamos no auge da era disco e do Studio 54 quando um respeitado “remixer” de Nova Iorque remisturou “Let Me Take You Dancing” para encaixar na febre disco da cidade. E se a voz ainda não estava formada, acelerar a batida para encaixar a canção nas pistas de dança nova iorquinas pôs o cantor a soar a um “macaco com hélio”, segundo diz Vallance no seu site. O que é certo é que a amargura de detestar a primeira edição possibilitou a Bryan o seu primeiro álbum já que o single vendeu mais de 240.000 cópias e convenceu a A&M Records Canadá a financiar a despesa. Dentro de algum tempo, Bryan Adams saltaria para atuações em m bares melhores, o seu primeiro objetivo.
O primeiro álbum
Jim Vallance: “Gravámos a maior parte do primeiro álbum do Bryan no Manta Studios em Toronto, que na época estava mais bem equipado do que a maioria dos estúdios de Vancouver. Começámos a gravar no Manta a 29 de outubro de 1979 e terminámos exatamente um mês depois. Voámos de volta para Vancouver no dia 30 de novembro e passámos um dia no Pinewood Studios gravando (entre outras coisas) os “backing vocals” de Fred Turner em "Don't Ya Say It". No dia 4 de dezembro voámos para Los Angeles para gravações e misturas adicionais no Sunset Sound, com o engenheiro Bobby Shaper e o assistente Gene Meros. Depois de um mês na fria Toronto, em comparação Los Angeles estava tropical. Adams e eu hospedámo-nos no hotel Le Parc em West Hollywood e alugámos um Volkswagen Beetle para a nossa estadia de duas semanas. Lembro-me de Bryan e eu dirigindo pela Fountain Avenue, tarde na noite depois de um longo dia no estúdio. O ar da noite estava quente e lembro-me de ter pensado “Uau, a vida é boa”.
Bryan ainda tinha contrato com a A&M Canada na época, e a A&M USA não tinha interesse direto no álbum, mas, independentemente disso, o A&R David Kershenbaum passou pelo Sunset Sound um dia para ouvir (David era uma figura respeitada da indústria musical, tendo produzido álbuns para Cat Stevens, Tracy Chapman, Duran Duran, etc.). David não teve muito a dizer depois de ouvir as faixas que gravámos, mas não parecia particularmente impressionado. Comentou, no entanto, o quão curto o álbum era - apenas quatro músicas de cada lado - e recomendou fortemente que gravássemos material adicional. Gravámos rapidamente uma versão de "Wastin' Time" (uma das músicas que Bryan contribuiu para o álbum "Rock 'N Roll Nights" dos BTO, e que eu havia produzido no ano anterior). Bryan tocava guitarra, eu tocava bateria e David Hungate (Toto) tocava baixo.
Apesar de sua aparente falta de entusiasmo, Kershenbaum deve ter percebido o potencial de Bryan, porque é o responsável por ligar Bryan ao produtor Bob Clearmountain para o segundo álbum ("You Want It You Got It"). Bryan continua a trabalhar com Clearmountain até hoje, e acredito que a apresentação de Bob é uma das ocorrências mais significativas na carreira de Bryan.
Mesmo que o produto final não tenha conseguido captar a atenção do público, Adams e eu divertimo-nos muito a gravar. Na verdade, mal podíamos acreditar na nossa sorte: um orçamento de gravação "real", incluindo despesas de viagem e alimentação... éramos como crianças numa loja de doces! Trabalhávamos muito, os dias eram longos, mas não deixava de haver diversões. Uma noite (16 de novembro de 1979), fizemos uma pausa na gravação e fomos ver uma nova banda inglesa apresentar-se a algumas centenas de fãs no Danforth Music Hall de Toronto. Essa nova banda jovem era The Police, e eles eram incríveis! Três ou quatro noites por semana comíamos no Le Chaumière, um pequeno restaurante francês perto do nosso hotel. Estava alguns degraus acima do que podíamos pagar na época, se não fosse a A&M a pagar a conta! Na maior parte, tivemos total liberdade criativa durante a gravação.
Pessoalmente, acho que deveria levar um tiro por produzir o primeiro álbum (Bryan é creditado como coprodutor, mas na verdade, eu sou o culpado). Em 1980 eu não tinha a habilidade, o conhecimento ou a experiência para construir um álbum de classe mundial a partir do zero e, como resultado, o álbum de estreia de Bryan é uma misturada de estilos e influências musicais. Como o Bryan disse durante uma entrevista ao VH-1 em 1996: ‘O primeiro álbum foi um monte de demos glorificadas. Não sabíamos o que estávamos a fazer’. Cinco ou seis anos depois, eu finalmente aprendi o suficiente para fazer um trabalho bastante decente na produção do álbum "Thin Red Line" dos Glass Tiger - mas depois disso desisti da produção para sempre e concentrei-me apenas nas composições”.
O próprio Bryan Adams admitiu num post no Facebook a 16 de fevereiro de 2021: “Há 41 anos, lancei meu primeiro álbum. Quando ouço agora, (sinto que) era apenas uma coleção de demos com bom som, escritas principalmente com o Jim. Nunca tinha levado nenhuma das músicas para a estrada, pois ainda não tinha banda, ao contrário do álbum seguinte, onde todas as músicas foram tocadas em bares e ensaiadas com uma banda. Faz uma grande diferença se puderes ensaiar a tua música com uma banda antes de gravá-la. Aprendes sempre qualquer coisa. De qualquer forma, naquela altura eu era um músico falido que teve uma hipótese no que parecia ser uma empresa respeitável. Sem nenhum manager ou alguém do meu lado para me orientar, continuei cegamente, seguindo aquela bússola interna que me empurrava para frente. Qualquer lugar era melhor do que onde eu estava, e é engraçado refletir sobre isso agora, porque no final das contas, tudo o que fez foi tirar-me dos bares de merda e colocar-me em bares de merda melhores. O anúncio dizia “Artista A&M” e estou grato por aqueles dias de bar porque foi onde descobri como fazer as coisas funcionarem; foi difícil para caraças, mas eu sabia que não iria ficar por ali; tinha outros planos… Mas não poderia ter chegado lá sem fazer este álbum primeiro; por isso, obrigado a Jim (Vallance), Brian Chater (Almo Irving Publishing), Jerry Lacoursier e Michael Godin (Presidente e A&R da A&M Records Canadá) e à minha mãe”.
O álbum sai em fevereiro de 1980 e durante o ano Bryan Adams percorre o circuito de clubes do Canadá em 25 concertos desabridos onde roda as nove canções do álbum de estreia, enquanto nos intervalos compõe com Vallance e ensaia com a sua banda de estrada.
Pelo meio, Bruce Allen começa a introduzi-lo no mercado americano; a 24 de abril, por exemplo, abre um superconcerto dos Journey em Orlando, na Florida, antes de Sammy Hagar e Aerosmith; testa-o em sete concertos na primeira parte da digressão canadiana dos colegas Loverboy; mas os media, canadianos ou norte-americanos, não reagem por aí além. O álbum é trabalhado com três singles - “Give Me Your Love”, “Remember” e “Hidin’ From Love” - mas só o último é que penetra num top, com uma performance fraca: n.º 64 no Canadá foi o pico. Nos Estados Unidos também não aconteceu nada, mas, sem que se soubesse, sob as bancadas do autódromo do Estoril e nos leitores de cassetes dos jovens da linha do Estoril era já um dado adquirido.
Bruce Allen, o manager, sabia o que tinha de ser feito para mudar as coisas, sabia o que resultara com os Bachman Turner Overdrive e estava agora a acontecer com os Loverboy: furar nos Estados Unidos para poder vencer em casa. Bryan confiava na recetividade do publico dos clubes aos temas que aperfeiçoara entre os palcos e a casa de Jim Vallance. Seguro de que estava no caminho certo, pretendia chamar ao segundo disco “Bryan Adams Hasn’t Heard of You Either”. Mas disso falamos depois.
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