“Não são os angolanos e os portugueses que têm obstáculos uns com os outros, naquilo que podem trocar, neste momento da sua história”, distingue o músico, que lançou recentemente o duplo álbum "Se eu fosse angolano".

Entrevistado pela Lusa, em Lisboa, onde esteve a passar uns dias, Mosquito atribui os “problemas” entre Portugal e Angola ao “ego gigantesco de um lado e de outro” e à “aristocracia de pensamento em relação ao que se quer e se admite”.

É com alguma mágoa que Nástio Mosquito diz nunca ter sido convidado para atuar em Portugal, embora já tenha exposto no Museu Berardo, que, no início do ano, fez uma exposição com seis artistas plásticos angolanos. Mas não é suficiente para quem foi parar à arte contemporânea “por acidente” e se assume como músico. É nessa condição que gostava de apresentar “Se eu fosse angolano” em Portugal, onde viveu entre os oito e os vinte anos, iniciando “o desabrochar” artístico e mantendo, desde então, contactos com vários artistas portugueses, sobretudo músicos.

Em Portugal, “há uma mentalidade (...) de preservação muito grande e isso fecha”, lamenta. “Acham que estão a proteger Portugal para os portugueses”, mas “o que acaba por acontecer é que impedem que os portugueses tenham acesso”, contrapõe. “Há muitas coisas boas de Angola que não são vistas aqui [em Portugal], porque não são consideradas úteis, e isso acaba por ter uma consequência na noção que as pessoas têm do que acontece lá [em Angola]”, reflete. As imagens distorcidas estão presentes nos dois países, admite, mas não duvida de que os angolanos são “um bocado mais recetivos em relação ao que Portugal faz”.

Até aqui mais internacionalizado pelas artes plásticas - que, em novembro, o colocaram na galeria Tate Modern, em Londres, e que o vão levar, no último trimestre deste ano, aos Estados Unidos (Walker Art Center, Minneapolis, em outubro; Performa, Nova Iorque, em novembro) e Rússia (em dezembro) -, desengane-se quem pensa que Nástio Mosquito não tem palcos mundiais para a música que faz.

No próximo ano, o músico levará “Se eu fosse angolano”, um olhar sobre Angola hoje, em tournée pela África do Sul e também à Europa (Bélgica, Holanda e Alemanha).

O novo álbum é um trabalho conceptual, tanto se pode aplicar ao “ecossistema” angolano, como a outro qualquer. A questão é “Se eu fosse angolano”, mas “podia ser ‘se eu fosse português’”, é preciso olhar para dentro, para “andar para a frente”.

Reconhecendo que pode parecer que fala de identidade, garante que se está “a borrifar” para o conceito, que utiliza para contextualizar e depois deitar ao lixo. “A identidade é a única coisa que eu conheço que tem a capacidade de, com o mesmo grau de consequência, com o mesmo grau de intensidade, aproximar e afastar as pessoas”, realça.

O que lhe interessa é, antes, "a motivação" nas relações entre as pessoas. “A identidade é hoje uma grande ferramenta governamental em todo o lugar e nós, cidadãos, temos de nos aperceber rapidamente que isso é uma patetice”, apela.

@Lusa