“Outros Amores” é editado hoje e apresenta um alinhamento de 12 fados, maioritariamente melodias tradicionais, incluindo duas da autoria de Geadas, Fado Picadilly e uma marcha, respetivamente para os poemas “Fado Nosso”, de Mário Rainho, e “Outros Amores”, de Tiago Torres da Silva.

Sobre o título escolhido, “Outros Amores”, Geadas disse em entrevista à Lusa: “Quando falamos em amor pensamos sempre na cara metade que temos na vida, mas neste disco falo de amores passados, amor presente e amor permanente que vai ser sempre o fado”.

O álbum divide-se em três partes, explicou o fadista: “Uma primeira sobre o que é o fado, ‘que não precisa encenação’”, como canta no tema de abertura “Verdade do Fado”, de António Rocha, gravado na melodia “Maldito Fado”, de Raul Ferrão; “uma segunda sobre os amores passados e presentes, e uma terceira sobre o que permanece, que é o meu amor pelo fado”. Desta última parte citou “Nova Vida”, de António Rocha, gravado no Fado Maria Alice, de Armandinho, com o qual fecha o álbum.

O fadista António Rocha, uma das suas referências, é o autor mais cantado no álbum, com quatro temas. Segue-se Mário Rainho com dois, “Fado Nosso” e “Poema do Cansaço”, em que também assina a música. Este “Poema do Cansaço” aborda, como sublinha, “uma situação recente e que ainda vivemos, a pandemia da COVID-19, em que não podíamos abraçar aqueles de quem mais gostávamos”.

O fadista, que também toca guitarra portuguesa, disse à Lusa que, até editar este disco, desenvolveu “um processo longo de aprendizagem com os mais velhos, ouvindo os seus conselhos, tendo atuado em diferentes palcos”.

“Agora com 26 anos, finalmente decidi e acho que cheguei ao ponto de arriscar e gravar o meu primeiro álbum a solo”, declarou, acrescentando: “A matriz que eu escolhi e que sempre levei à risca foi a do fado tradicional, é aquilo que me faz feliz e que faz sentido cantar”.

Geadas disse que os fadistas da sua geração têm “a obrigação de criar novos fados tradicionais para que a tradição nunca morra”, indo “além dos cerca de 300 fados tradicionais que já existem, com melodias riquíssimas que podem ser exploradas em vários poemas".

“O fado é uma constante evolução, fala do quotidiano e nós fadistas, guitarristas, violistas desta nova geração, toda esta malta jovem que está no fado e contribui para ele, a nossa função é criar novos fados tradicionais para que a tradição nunca morra”.

Sobre o fado tradicional explicou: “O fado tradicional é a melodia com uma determinada métrica, que depois podemos cantar em decassílabos, sextilhas, quintilhas, quadras, alexandrinos, respeitando uma determinada matriz”.

Do alinhamento do seu álbum faz parte “Antigamente” (Martinho d’Assunção/Fado Corrido), que ouvia em menino pelo fadista Manuel de Almeida (1922-1995), outra das suas referências.

Entre o alinhamento, Geadas afirmou ter sentido algum medo em gravar o fado menor, “considerado o rei dos fados”, no qual gravou “A Minha Estrela”, de Hermano Sobral.

“Neste meu primeiro disco tinha medo de gravar o fado menor, que dizem que é o rei dos fados, e para o qual é preciso alguma maturidade e responsabilidade para se cantar esse fado, mas o meu produtor [o músico] Carlos Manuel Proença encorajou-me e disse-me que fadista que se preze tem de cantar o menor e eu gravei-o”.

Nesta gravação o fadista é acompanhado pelos músicos Carlos Manuel Proença, na viola, Luís Guerreiro, na guitarra portuguesa, e Daniel Pinto, na viola baixo.

Entre os temas encontram-se ainda “Benditos Loucos” (António Rocha/Fado Alcântara, de Raul Ferrão), “Contas Impossíveis” (João Linhares Barbosa/Fado José António de Quadras, de José António Sabrosa), “Depois Que um Beijo me Deste” (Maria Margarida Castro/Fado Marcha de Alfredo Marceneiro), “Talvez um Dia” (A.Rocha/Fado Ciganita, de Armandinho).

Geadas é o nome artístico de José Geadas, nascido há 26 anos em Rio de Moinhos, no concelho de Borba, que desde muito novo mostrou interesse pelo fado, tendo começado a cantar “pelos seis, sete anos”, como disse à Lusa.

Aos 14 anos começou a aprender a tocar guitarra portuguesa na escola do Museu do Fado, que chancela este álbum.

Em 2006, venceu a Grande Noite do Fado de Lisboa e, em 2011, venceu o concurso “Eu Nasci Para o Fado” da RTP1, tendo participado no musical “Fado História de Um Povo”, de Filipe La Féria. Ainda em teatro fez parte do projeto “Amore”, de Pippo Delbono.

O fadista conta já algumas internacionalizações. Em 2011, participou no Festival de Fado e Flamenco em Badajoz, em 2017, no Festival Internacional de Falcoaria em Abu Dhabi.

Geadas é presença regular em várias cassa de fado de Lisboa, como O Faia, Fado ao Carmo, Senhor Vinho, Mesa de Frades, Adega Machado, Café Luso e o Clube de Fado.