Palco Principal - Com um ADN luso-brasileiro e com Portugal no coração, como é que um carioca como o Pierre sente este cantinho à beira-mar plantado?

Pierre Aderne – Nas duas bordas dessa grande piscina que nos separa fica localizado o meu quintal. A minha casa é aqui e ali, cá e lá…

PP - Sempre com o mar como tema omnipresente, este “Bem me quer, mar me quer” atira em outras direções. É este um disco de amor? Celebra-se a paixão?

PA – É um disco de amor e desamor, sobre amar e desamar – talvez mais de desamar, tarefa que os miúdos não aprendem na escola.

PP - No texto de Valter Hugo Mãe que acompanha o disco, o autor realça o estreito relacionamento entre a música portuguesa e brasileira e a comunhão que daí resulta. Sente que a sua música resulta melhor com esta miscigenação?

PA – A mistura na música portuguesa é algo bem recente. Há um sotaque musical novo nos quintais de Lisboa, uma africanidade alfacinha que veio com a volta dos portugueses das antigas colónias e com a chegada a Portugal dos africanos de Cabo Verde, Angola, Guiné.. Logo a seguir, abriu-se o baú do Fado, chegou a música brasileira… O meu álbum talvez traga uma terceira coisa, que só ouvi bem depois de gravado – uma nova cor, nascida da mistura da música portuguesa com a brasileira. As minhas paredes novas foram pintadas com essa cor.

PP - As muitas participações de cantores de várias nacionalidades e estilos tornam este disco especial. O fado e a morna, por exemplo, são géneros musicais que o fascinam?

PA - Fado, morna e choro sempre caminharam lado a lado, pra mim. Há, entre eles, um elo rítmico, melódico… Cabo Verde é o meio do caminho de mar entre rio e Lisboa, está tudo ali, está tudo misturado, não sei onde começa um e termina outro.

PP - Diz que o seu processo criativo tem muito a ver com imagens que lhe surgem aquando da composição. Que imagens estiveram na génese deste “Bem me quer, mar me quer”?

PA – Miragens do amor surgiram à minha frente durante toda a criação desses temas.

PP - Na promoção do seu disco “Água Doce”, dizia que o álbum tinha uma fragilidade implícita, uma áurea de universo feminino. Este seu recente trabalho remete para outros cenários?

PA – Lá vem a metáfora de novo! Em “Água Doce”, eu estava na janela do lado de fora, olhando para dentro de casa. Em “Bem me quer, mar me quer” estou dentro de casa com a janela aberta para ver o mundo.

PP - Finda a “trilogia das águas”, sente que este novo trabalho é um passo em frente?

PA - Sempre a andar, como dizem vocês!

PP - Roda nas rádios nacionais o tema “eu preciso mentir que te amo”, um dueto com Jorge Palma, que é também o responsável pela música. Acha importante a participação dos seus companheiros de aventura na composição das músicas?

PA –Quando escrevi esse poema, fi-lo a pensar no Palma e no humor da sua música genial. Sozinho não se joga à bola!

PP - No seu disco anterior, teve a honra de contar com as vozes de Cuca Roseta, Alexia Bomtempo e Madeleine Peyroux. Neste convidou, por exemplo, Jorge Palma, Sara Tavares, JP Simões e Mário Laginha. Nos próximos trabalhos pretende voltar a fazer um disco de colaborações?

PA –Chamei para dentro dos discos quem já estava dentro da minha casa e do meu iTunes. Mas penso que não. No próximo trabalho devo estar sozinho e, pela primeira vez, revisitar temas de outros autores.

PP - Mudando de tema e sendo apreciador confesso de desporto e de futebol, conta já com alguma paixão clubística em Portugal ou o seu coração continua em exclusivo fiel ao Vasco da Gama?

PA –Fernando Pessoa dizia-se estrangeiro em qualquer lugar. Eu sou vascaíno em qualquer lugar.

PP - Terra de bom vinho e boa comida, Portugal é um apelo à degustação. O que pensa da gastronomia nacional?

PA – A minha balança não gosta muito. Eu amo! A culinária portuguesa está nos meus olhos e o Douro é o meu sangue.

PP - Pondera fazer uma digressão em Portugal? O que podem os fãs portugueses esperar da divulgação do seu trabalho?

PA –Uma tertúlia itinerante, dentro de uma carrinha com os meus músicos a chegar a cada cidadezinha de Portugal, do Douro ao Alentejo, da Bairrada ao Minho, onde tiver um copo de vinho e um par de ouvidos… é para lá que eu vou!

Carlos Eugénio Augusto

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