Nesta quarta-feira assinala-se o Dia Internacional do Idoso e o Dia Mundial da Música. Na véspera, aqueles coralistas, entre os 55 e os 84 anos, cumpriram mais um dos ensaios semanais em Lisboa, orientados pelo maestro Pedro D'Orey, para afinar um repertório que é feito apenas de pop rock em português.

"Queremos quebrar um bocadinho os estereótipos do que é ser idoso. O idoso não é o avô que quer ficar em casa a tomar conta dos netos, quer continuar a ter uma vida ativa socialmente. E queremos sair do formato tradicional da música. Sai fora daquilo que é esperado", afirmou à agência Lusa uma das fundadoras do coro, Maria José Gonçalves.

O repertório inclui canções dos Xutos & Pontapés, Táxi, Rádio Macau, Rio Grande ou Deolinda, grupo do qual escolheram "Movimento Perpétuo Associativo".

Depois de porem a conversa em dia e de fazerem um aquecimento vocal e físico - que ao fim de um ano de ensaios ainda causa risinhos entre os participantes -, o coro começa o ensaio a interpretar aquela canção dos Deolinda. E cantam: "Agora sim damos a volta a isto/ Agora sim, há pernas para andar/ Agora sim, eu sinto o optimismo/Vamos em frente, ninguém nos vai parar". Os versos assentam bem ao espírito do grupo.

Maria Teresa Marques, de 71 anos, contou à Lusa que soube da existência do coro pelo Facebook. Apesar de pertencer a outro grupo coral, com repertório de música clássica, percebeu que precisava de um compromisso que a fizesse sair mais de casa e que o coro é uma coisa terapêutica. "Dava conta de dias inteiros que não saía de casa. Foi uma forma de conhecer gente, de confraternizar e de ver coisas alegres (...). Foi uma coisa muito boa para mim. Hoje faltei à fisioterapia para vir aqui, porque acho que isto acaba por fazer melhor. É um compromisso que eu sei que não posso faltar", disse.

O Projeto Com Voz é inspirado numa iniciativa intitulada "Young @ Heart", que nasceu nos Estados Unidos em 1982 e que integra apenas pessoas mais velhas. "Este projeto nasceu de uma necessidade - da nossa necessidade - de, quando chegarmos às idades que o grupo tem, termos uma atividade relacionada com a música. E percebemos que há falta deste tipo de atividades, em Lisboa pelo menos", afirmou Filipa Coelho, outra das fundadoras.

Neste ano de ensaios, no Centro Cultural Casapiano, o coro fez duas apresentações ao vivo, uma para os alunos da Casa Pia e outra para familiares.

"O repertório é muito giro, porque somos já cotas, como dizem os miúdos, e estamos a cantar rock, que é uma coisa inédita. Até os miúdos gostam de nos ouvir cantar", afirmou Maria do Céu Fernandes, 73 anos, reformada da Função Pública e membro do coro desde o início. Aluna da Universidade Sénior de Alcântara, Maria do Céu Fernandes sublinha: "Estar em casa o tempo todo sem fazer nada é horrível. Isto ocupa-me o tempo, predispõe-me e o convívio é muito bom".

É pelo convívio, pela música, que António Ferreira, de 76 anos, também entrou no coro. "Faço uma vida pacata, sem muitas confusões, porque isto não está para confusões. Oiço muita música clássica. Entretenho-me com o computador em casa. E é isto. Vou acordando todos os dias, porque me sinto bastante feliz", descreveu.

Nos ensaios, os cantores vão-se preparando para a primeira atuação fora do Centro Cultural Casapiano. Vai acontecer no dia 18, no Fórum Lisboa, no encontro TEDxLisboaED, cujo tema é "Mobilizar é Agir". Em novembro haverá outra atuação, no cinema São Jorge.

Filipa Coelho e Maria José Gonçalves estão satisfeitas com o projeto, mas lamentam a falta de financiamento para poderem alargá-lo, até porque existem idosos e reformados que ficaram em lista de espera.

As duas fundadoras esperam ainda encontrar músicos portugueses que, de alguma forma, apadrinhem o projeto. "Fizemos alguns convites e estamos à espera que um dia apareçam no ensaio e que sintam esta alegria", disse Filipa Coelho.

@Lusa