Composto pelo violinista russo após o 11 de setembro de 2001 como reação ao atentado terrorista em Nova Iorque, “Rockquiem” estreou em 2013 em Šiauliai, na Lituânia, e nunca mais foi interpretado.

Mas, no domingo, a criação de Tolpygo, escrita para voz soprano, coro misto e banda rock, volta a palco revista e com direção do maestro Alberto Roque, num espetáculo integrado na inauguração do novo espaço verde de Leiria.

“Mais do que uma estreia nacional, é uma estreia mundial. A versão tocada na Lituânia foi alterada. Portanto, algumas partes nunca foram tocadas”, explicou à agência Lusa o compositor e primeiro-violino da Orquestra Metropolitana de Lisboa, há três décadas a viver em Portugal.

Descendente de uma família de músicos eruditos, Alexéi Tolpygo é um apaixonado pelo rock-progressivo.

“Tenho uma carreira de músico clássico, mas sempre guardei uma paixão pelo rock, e rock progressivo em primeiro lugar: Genesis, Emerson, Lake & Palmer, Yes, Gentle Giant, Van der Graaf Generator…”, contou o músico.

Esse contexto pessoal levou-o, ao longo dos anos, a tentar cruzar “aspetos da música erudita com o melhor do rock”.

Depois de várias tentativas, o atentado às Torres Gémeas levou-o até “Rockquiem”, composição “dedicada às vítimas do terrorismo mundial, quaisquer que sejam os motivos deste”.

“Como uma das minhas obras preferidas é ‘Requiem’, de Verdi, surgiu esta ideia de fazer uma obra grande para voz clássica e grupo de rock”, recordou Tolpygo.

Mas, após a estreia menos conseguida na Lituânia há pouco mais de uma década, para a comemoração dos 150 anos da "Revolta de Janeiro" lituano-polaca contra o Império Russo, a obra ficou quase esquecida.

Até que Alexéi falou dela ao maestro Alberto Roque que, em parceria com o Teatro José Lúcio da Silva, dá agora novamente vida a “Rockquiem - Requiem para o Século XXI”, juntando a soprano Sara Afonso, um coro misto de 16 vozes e um grupo rock formado por Tiago Ferreira e João Grácio (teclados), Rui Costa (baixo), João Maneta (bateria) e Nuno Barradas (guitarra).

“Estou muito feliz, porque é uma obra muito especial. A linguagem do rock progressivo está muito bem escrita e é incrível a sonoridade”, afirmou Alberto Roque.

O maestro destacou a convivência de “um texto bíblico com um peso brutal” com “a envolvência, a cor, o colorido, o ‘groove‘ e a energia” que Tolpygo imprimiu à composição, “tanto em termos musicais como dramatúrgicos”.

Pela estrutura inusitada, “Rockquiem” afigura-se “um grande desafio para todos, para os músicos e para quem canta”, disse Alberto Roque.

Já para o público, antecipou, “vai ser muito gratificante”.

No domingo, a partir das 18:00, no novo Parque Verde de Leiria vai assistir-se a “uma experiência sonora muito rica”.

“Recua-se no tempo milénios, à missa ‘Requiem’ e, de repente, é como se desse passado milenar surgisse um ‘boost’ que nos faz avançar para o século XXI do ponto de vista sonoro. A abordagem é fabulosa e extrema”, realçou o maestro, que espera levar “Rockquiem” a outros palcos.

“É um espetáculo bom demais para ficar apenas por aqui e por Leiria”, concluiu.