O músico falava numa sessão incluída nas atividades paralelas do Festival Músicas do Mundo, em Sines, que hoje retomou os concertos, prolongando-se até sábado.

Questionado pela plateia sobre o atual estado da Cultura, Sérgio Godinho não se furtou a dar a sua opinião. Realçando que “outra coisa é analisar se se fez um bom trabalho”, o músico – em Sines para falar do seu livro “O Sangue Por Um Fio”, editado pela Assírio & Alvim – afirmou-se “absolutamente contra” o fim do Ministério da Cultura, porque “um ministro pode ter outro grau de influência e tem assento em Conselho de Ministros”.

Sobre o argumento usado pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, para acabar com o Ministério da Cultura – de que a Cultura ficaria sob a sua alçada direta e que é uma área transversal –, Sérgio Godinho classificou-o como “esotérico”, porque “também a Educação é transversal”. Portanto, defende, “é preciso que agilizem a máquina, não que a destruam”.

Sublinhando que tem “simpatia pessoal” pelo atual secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, o músico disse também que o que se vai passar na Cultura “é um ponto de interrogação”.

E, quando da plateia veio de novo a informação de que o secretário de Estado da Cultura considerou na terça-feira, no Parlamento, que "Portugal tem um excesso de equipamentos culturais", Sérgio Godinho não escondeu a surpresa e a desaprovação, dizendo que essa abordagem “é preocupante”.

No final da sessão, em declarações à agência Lusa, argumentou que esses equipamentos não existem em demasia e que “são indispensáveis” à descentralização da Cultura.

Segundo Francisco José Viegas, das 70 salas da rede de cineteatros só sete cumprem as exigências para ter acesso às verbas do QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional), ou seja ter 150 eventos programados e cinco mil espetadores.

Recordando que tem percorrido os auditórios e os cineteatros do país e elogiando o ex-ministro socialista da Cultura Manuel Maria Carrilho como “o grande impulsionador” de uma rede nacional, Sérgio Godinho sublinhou que os equipamentos culturais locais e regionais “têm motivado pessoas e cidades” e mesmo criado “novos públicos”, para bailado e ópera, por exemplo, que de outra maneira ali não chegariam. “Muitas vezes são as autarquias que têm a ousadia de gastar dinheiro” em cultura, contra quem preferiria que fosse gasto “em estradas”, frisou.

Sérgio Godinho - que ficaria em Sines pelo menos para ouvir a galega Mercedes Peón, que abre o segundo rol de concertos do Músicas do Mundo – participou esta tarde numa sessão dos Encontros com Escritores, que terão ainda mais duas, com José Duarte (no dia 29, às 17:00), que apresentará “Jazzé e outras músicas”, e com Carlos Clara Gomes e José Moças (dia 30, às 17:00), sobre o CD/livro “Auto da Fonte dos Amores”.

@Lusa