Zé Pedro e Amigos / Tributo a Lou Reed, 19h00 |Depois do concerto apresentado no ano passado, no Largo do Intendente, após a morte de Lou Reed, Zé Pedro quis prestar nova homenagem ao músico dos Velvet Underground, tendo, para tal, criado este concerto/tributo.

Mas depois da emotiva apresentação e da quantidade de músicos portugueses que subiram ao palco naquela altura, este novo tributo acabou por perder impacto, tanto no número de músicos em palco, como no espetáculo em si.Além dos Ladrões do Tempo – Tó Trips, guitarra; Samuel Palitos, bateria; Doni Bettencourt, baixo; Paulo Franco, guitarra e voz; e Zé Pedro, guitarrista –, subiram ao palco João Pedro Pais, a cantar “I Love Suzanne”; Lena d’Água (quem?), a quem coube “Sunday Morning”; Paulo Furtado, com “Femme Fatale”; Tomás Wellenstein, dos Capitão Fausto, a entoar “Venus in Furs”; Jorge Palma, ao piano, a lembrar “Perfect Day”; e Frankie Chavez, com “White Light/WhiteHeat”. Para o fim, ficou “Take a Walk on the Wild Side of Life”, com todos em palco.

Os Ladrões do Tempo foram intercalando estas apresentações com outros temas, como “Rok’n’Roll”, “Vicious” ou “Sweet Jane”. As melhores prestações ficaram a cargo de Paulo Furtado, a sussurrar uma quente “Femme Fatale”, que já havia cantado a meias com Rita RedShoes na anterior homenagem; e de Jorge Palma, com o ‘dia perfeito’. Ainda que embriagado (como sempre) e a falhar a letra da canção, consegue ter o carisma suficiente para fazer esquecer qualquer falha.

Enquanto o concerto decorreu, o artista plástico e grafitter Miguel RAM criou uma tela ao vivo (e a cores), que segue agora para a Casa da Música.

Albert Hammond Jr., 20h30

Muito fraca. É o que se pode dizer da prestação do guitarrista dos The Strokes e da audiência – meia dúzia de gatos pingados – neste concerto. O facto de, só a partir das 22h00, entrarem em palco os maiores nomes neste dia, fez com que tudo acontecesse a meio gás até lá. E Albert Hammond não foi imune a isto.

O seu último disco – não é descabido oadjetivo –, “Cómo te LLama?”, é já de 2008 e, assim, não havia grandes novidades a apresentar, exceto talvez a cover que fez de “Ever Fallen in Love”, dos Buzzcocks. De resto, aquilo que se viu foi um concerto sem muita garra – não basta fazer altas tiradas de guitarra para se fazer um espetáculo.

Skaters, 21h10 | Quando nos aproximámos do Palco EDP, já os Skaters tocavam há dez minutos para uma multidão de curiosos, que escutava as músicas do grupo, vincadas pelo Ska, com picos de influência, ora mais punk, ora mais reggae.

O quarteto nova-iorquino, que numa outra era poderia, talvez, até atuar num CBGB, brindou-nos durante a nossa curta estadia junto ao palco secundário com “Miss Teen Massassuchets” e “I Wanna Dance (But I Don't Know How)”, que fizeram o público mexer.

The Kills, 21h50 | A sensual “URA Fever”, de "Midnight Boom", deu início ao concerto dos The Kills, com Jamie Hince, de chapéu militar, a dedilhar os acordes desta malha de 2008, e Alison Mosshart, de cabelo loiro e casaco de cabedal - um animal de palco -, com a garra que já lhe conhecemos, a espicaçar e puxar por um público bem composto. O fundo, um padrão tigre, deixou adivinhar que este seria um concerto rock n’ roll, selvagem.

Ouvimos ainda, do último álbum lançado por esta dupla, "Blood Pressures", “Future Starts Slow” e “Heart is a Beating Drum”. Um grupo de rapazes grita por Alison, que em palco abana os cabelos loiros e dá tudo na “Tape Song” e até na mais calma “Kissy Kissy”. A carismática vocalista é adorada por ambos os sexos e, entre o público, vemos inúmeras cabeças e braços a abanar de forma descontrolada.

“Satellite”, também do mais recente álbum, teve direito a um coro gospel, para intensificar o refrão, acompanhado pelo público. Ainda ouvimos “Baby Says” e “No wow”, que nos levou ao segundo álbum da discografia dos The Kills. A emotiva “Black Balloon”, cantada por Alison e com o ritmo marcado pelas baquetas dos dois bateristas, foi um dos momentos mais altos de um concerto que começou de forma intensa, passou rapidamente e acabou de forma abrupta, morna e inesperada, com “Monkey 23”, deixando de fora alguns êxitos da dupla, como “Cheap and Cheerful” ou “Cat Claw”.

Dead Combo, 22h40

Não há nada igual aos Dead Combo em Portugal. Fado, música latina, rock, blues, western, cabaret - tudo é misturado com mestria num caldeirão perfeitamente manuseado por Pedro Gonçalves (melódica, piano, contrabaixo e guitarra) e Tó Trips (guitarra), e ao qual Alexandre Frazão, na bateria, veio dar o tempero certo.

É Trips quem vai provocando o público - “A próxima canção é dedicada a um senhor da guitarra, chamado Pacheco. Mas este senhor já não vem a festivais”; “alguém gosta de cachupa?”; “alguém sabe o que é sopa de cavalo cansado?”; ou “esta música é dedicada às meninas que vieram de saias” - e é Trips, também, quem vai apresentado as músicas, cabendo apenas a Pedro Gonçalves as despedidas e agradecimentos finais.

O santuário colocado no centro do palco – oratório, muitas flores vermelhas, caveiras... – veio tirar alguma da maldição que se havia abatido sobe o palco EDP, na noite anterior. É aqui que “Bunch of Meninos”, o mais recente trabalho da banda, vai desfilando na noite amena, com músicas como “Miúdas e Motas”, “Waits” (dedicada a Tom Waits) e a “Bunch of Meninos”, entre outras, intercaladas com músicas “do começo”, como “Cachupa Man”, “Blues da Tanga” e “Lusitânia Playboys” – “a história de dois amigos que vão ao Cais do Sodré e acabam à pancada por causa de duas miúdas”.

Uma festa contagiante que perdeu ligeiramente para os Foals, que levaram alguma gente a ‘abandonar’ a dupla portuguesa, pouco antes das 23h20. Ainda assim, foi este um dos pontapés de saída para a noite que aí viria.

Foals, 23h20 | A banda de Oxford regressou a Portugal depois de um concerto, no final do mês de outubro, no Coliseu. A duração desta passagem pelo Super Bock Super Rock foi mais curta, mas nem por isso menos festiva. “Prelude” iniciou esta apresentação de "Holy Fire", o terceiro e último álbum lançado, tendo os britânicos sido recebidos por um mar de luzes da EDP. “Balloons” levou-nos ao primeiro “Antidotes” e a orelhuda “My Number” foi reconhecida e aplaudida por todos.

Seguiram-se “Milk and Black Spiders” e a explosiva “Providence”, que levou o vocalista Yannis Philippakis a descer até junto do público e a tocar enquanto fazia crowdsurfing, levando a multidão ao rubro. Um som de mar no fundo deixou adivinhar a mágica “Spanish Sahara”, que não teve o mesmo impacto em festival, mas que foi, de seguida, compensada pela “Red Socks Pugie”, extensa, que teve direito a coros, mosh e strobes com fartura.

“Late Night” foi o bálsamo para acalmar e abrir caminho para a intensa “Inhaler” e “Two steps twice”, com Philippakis a descer novamente ao público e apelidar os portugueses de “bad ass”, deixando uma tarefa difícil para os Kasabian.

Oh Land, 00h48 | Repescada do Mexefest, tal como Woodkid, foi Oh Land, o projecto de pop da dinamarquesa Nanna Øland Fabricius, que subiu ao palco pouco antes da uma da manhã, com um novo visual - de cabelo curto azul e vestido branco. Quando chegámos ao palco EDP, Nanna cantava ao piano “Green Card”, de "Wishbone", lançado no ano passado, seguindo para “Cherry on Top”. Sempre muito comunicativa e enérgica, brincou, perguntando se os portugueses não dormiam, pois não havia visto muitas tendas, seguindo para a animada “Renaissance Girls”, uma crítica aos estereótipos de mulher perfeita.

Chegada a hora de Kasabian, descemos, deixando Oh Land apresentando duas novas músicas.

Kasabian, 01h05 | Junto ao Palco Super Bock, a expetativa aumentava para a última banda desta vigésima edição do festival. Curioso, uma vez que os Kasabian nunca tiveram o estatuto de grande banda e passam muitas vezes despercebidos entre festivais. Contudo, o caso muda de figura cada vez que sai um novo álbum da banda de Leicester. É o caso deste "48:13", que realça a sonoridade mais eletrónica do quarteto.

Depois de uma enérgica "Bumblebeee", "Steve" e "Treat", também deste álbum. Logo de seguida, “Shoot the Runner”, que nos levou ao segundo álbum dos Kasabian, tal como “Empire”, que meteu o público aos saltos durante cerca de uma hora e meia. E se há coisa que podemos dizer sobre esta atuação, uma das melhores do dia e do festival, é que realmente envolveu o público, desde as grades até ao fim dos primeiros stands, com o vocalista Tom Meighan a coordenar palmas e coros, e com os Kasabian a mostrarem que são uma banda completa, que dominam a coesão entre o rock e o lado mais eletrónico, sem grandes diferenças palpáveis entre os seus já cinco álbuns de estúdio.

E esta coesão é visível em momentos do concerto, já que é difícil escolher o melhor, dentro de uma performance tão intensa, com direito a mosh. Meighan é sempre apoiado pelo guitarrista Sergio Pizzorno, sempre muito comunicativo, entretendo e puxando pelo público. “Underdog” levou-nos a "West Ryder Pauper Lunatic Asylum", possivelmente o álbum mais notável do quarteto, a seguir ao álbum de estreia, do qual também ouvimos “Take aim”.

“Eez-Eh”, o single do álbum recentemente lançado, mostrou ser um sucesso junto do público e culminou numa festa. Reação semelhante teve aquela que é uma das músicas mais célebres da banda, do álbum de estreia, “Clubfoot”, com direito a foguetes. Do álbum homónimo ouvimos também "I.D." e a inesperada "Lost Souls Forever". "Days are forgotten" foi a única em representação de "Velociraptor", o penúltimo álbum, que ficou aquém dos restantes registos dos Kasabian em termos de aceitação.

“Vlad the Impaler” terminou em beleza a atuação , voltando a deixar os Kasabian na memória de muitos e deixando a própria banda, que percorreu os corredores cantando “All you need is love”, dos The Beatles, satisfeita. A segunda versão da noite, para a despedida, depois de uma cover de Fatboy Slim.

C2C, 02h30 | Mas a derradeira despedida do festival fez-se com a estreia em Portugal dos C2C. O quarteto de DJs franceses trouxe as suas músicas, que fundem géneros tão distintos quanto swing, jazz, rn’b e hip-hop, juntando, no palco EDP, uma multidão de resistentes, a dançar. Apresentando as músicas do álbum “Tetra”, o grupo fez uso do improviso, com tempo para batalhas, scratch, e até para mudar o palco, decorado com efeitos luminosos. Em destaque, “The Cell” e o êxito “Down the Road”, que encerraram em beleza o festival do Meco.

Texto: Helena Ales Pereira e Rita Bernardo

Fotografias: Nuno Bernardo e João Lambelho