Chegámos ao recinto já depois das 20h30 e, ao estilo de uma oferenda e partilhando o sentimento de dever cumprido, os The Walkmen cantavam “Victory” a plenos pulmões.
Para quem teve a felicidade de os ver no Coliseu dos Recreios no ano passado, este foi um concerto sem grande história. A música destes americanos deve ser degustada num espaço fechado e tranquilo, sem ruído de fundo ou conversas paralelas, e a sintonia com o público fez-se apenas a espaços com temas como “The Rat”.
Hamilton Leithauser bem que espalhou charme com o seu fato branco-prata, mas por ali o ambiente era mais de chinelo e calção de praia. Missão cumprida mas sem direito a distinção.
Malas feitas para o palco secundário, onde os australianos Tame Impala se dedicavam à boa vida da experimentação; uns com ar de quem tinha acabado de regressar da praia e outros com arde quem só agora ia dar por terminada uma difícil noite de rambóia.
O som destes rapazes recorda a fase “Revolver” dos Beatles, ou uma evocação mais pop e menos arenosa de uns Led Zeppelin. Tendo como cenário de fundo uma floresta iluminada por cores vivas, osTame Impala foram evocando a sombra de um druida a braços com a fabricação de uma poção mágica. Apesar da boa vontade e de temas como “Alter Ego” ou “Expectation”, os australianos revelaram-se uma banda mortiça ao vivo, longe do brilhantismo mostrado em “Innerspeaker”, disco de estreia lançado em 2010.
Os The Kooks levaram ao Meco uma grande fatia teen deste país à beira mar plantado, num alinhamento que intercalou entre a apresentação de novos temas - “Junk of the Heart” ou “Saboteur”- ou a revisitação de clássicos da banda – “She Moves in Her Own Way” ou “Seaside”.
A sonoridade da banda faz-nos pensar que, num estranho sonho, os Franz Ferdinand se dedicaram a recriar temas de Jack Johnson, sem grandes preocupações líricas e onde o que importa mesmo é deixar as raparigas embeiçadas com uma bela conversa – e não é que o conseguiram? Foram uma das bandas mais aplaudidas da noite, e certamente regressarão em breve para um concerto em nome próprio.
Já os Beirut começaram de forma tímida, quem sabe espantados com uma multidão que deveria ultrapassar, de longe, as 30mil almas.
Ao fim de alguns temas é como se tocasse o trompete para o início de uma corrida de touros musical, onde a arena se vê transformada num imenso salão de baile. A partir de então viajamos entre a insanidade da música sonhada nos balcãs e os ritmos mexicanos que nos chegam aos ouvidos enquanto desfrutamos de um saboroso cocktail numa cadeira de praia.
O som da banda está agora bem mais pop, orientado para o formato canção, e será isso que iremos encontrar no novo “The Rip Tide”, com saída agendada para o próximo mês. Não faltaram clássicos com “Nates”, “Elephant Gun” ou “A Sunday Smile”, mas parece-nos que, ainda assim, a actaução no Sudoeste de 2010 terá sido bem mais efusiva.
No palco secundário tivemos tempo para espreitar nuestros hermanos El Guincho, que nos oferecem uma sonoridade bem mexida, propícia ao ambiente de festa e ao inevitável abanar de anca.
Foi também no palco secundário que aterrou a grande surpresa da noite, vinda do frio sueco eenvolta numa reconfortante negritude (uma espécie de Wimbledon, só que ao contrário).
Lykke Li ofereceu-nos um verdadeiro espectáculo visual, onde à musica se juntou a dança contemporânea e a arte da representação. O alinhamento girou à volta do último “Wounded Rhymes”, mas ainda houve tempo para revisitar “Silent Shout”, dos The Knife – inspiração óbvia –, brincar com um excerto de Kanye West e terminar com grande estilo, evocando uma Janelle Monae loura e de olhos azuis.
Li foi um verdadeiro furacão, martelando furiosamente bombo, pratos e dançando com uma sensualidade vanguardista, num palco povoado por faixas negras esvoaçantes que lhe davam um ar de celebração. Muito provavelmente o grande concerto desta primeira noite de SBSR.
Coube aos Artic Monkeys o fecho da primeira noite de folia -algo que cumpriram com distinção. Os rapazes são decididamente de poucas falas, mas temas como “When the sun goes down”, “I bet you look good on the dancefloor”, ou os mais recentes “Brick by brick” ou “Don´t sit down cause i´ve moved your chair” fazem já parte da enciclopédia rock de muita gente.
A confirmação de que o concerto foi bem sucedido foi dada pelo poeirómetro, com ondas imensas de pó a tomarem conta do recinto e de todos os que por lá andavam.
Neste primeiro dia há algumas notas que saltam à vista. Um fenómeno curioso é que o SBSR parece estar a tornar-se numa espécie de mini-zambujeira da margem sul, um ritual de iniciação para muito boa gente que, mais do que a música, parece interessada no lado social do evento; por outro lado, e olhando para questões de organização, os acessos continuam um caos, as filas são uma constante e a lotação esteve claramente a funcionar em modo de sobrelotação – como será amanhã com ainda mais gente no recinto?
Texto: Pedro Miguel Silva c/ Ana Cláudia Silva
Fotografia: Filipa Oliveira
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