O Palco Super Bock iniciou a contagem decrescente com os X-Wife, banda nacional que já conta com quatro longas duração e um EP no currículo. A banda fez desfilar o seu som rock com travo a dança, onde não faltaram temas como “Keep on Dancing” - onde os GNR e os Pop Dell´Arte se encontram num fim de tarde no Meco para ver o sol descer -, “I Live Abroad” - do recente “Infectious Affectional”, que bem poderia ser um tema dos Franz Ferdinand cantado pelos Violent Femmes – o clássico “On the Radio” ou “Heart of the World”, o mais recente single com ecos de Interpol.
Brandon Flowers, vocalista e mentor dos The Killers, pegou na máxima idealizada por Marco Paulo nos idos anos e oitenta e entrou em palco acompanhado por uma loira e outra morena, usando uma indumentária onde se destacavam as calças à boca de sino. Entre êxitos dos The Killers - “Read my mind” -, um cover de Kim Carnes - “Bette Davis Eyes” (1981) – e temas do recente “Flamingo” - “Crossfire”, “Magdalena”ou “Swallow It” -, Flowers levou muita gente a puxar os cabelos em delírio, sobretudo muitas das adolescentes que às cavalitas dos namorados se divertiam na arte de bem suspirar. Uma vez mais não se deixou fotografar, talvez por ainda não ter conseguido descobrir qual o seu melhor ângulo.
Aos Elbow parecia estar destinada uma missão ingrata. Com muita simpatia, grandes canções e uma imensa presença em palco, a banda de Manchester ofereceu um magnífico concerto. Apesar de em Inglaterra serem um enorme caso de popularidade, tendo ganho o Mercury Prize em 2008 atribuído ao disco “Seldom Seen Kid”, em Portugal são praticamente desconhecidos, o que se fez notar na noite de ontem. Mas todas essas contrariedades não foram obstáculo para Guy Garvey, que, com muita ironia, estilo e sentido de humor levou a bom porto o barco em que os Elbow navegaram.
Depois de se lançarem com “The Birds” e “The Bones of You”, Garvey diz que o próximo tema será dedicado a todos aqueles que se apaixonaram hoje. A reacção foi tão fraquinha que Garvey brincou dizendo “Ok, esta música é só para vocês os dois”, oferecendo-nos o sublime “Open Arms”. Ainda disse que Portugal era o país mais bonito do mundo, confessando de seguida, sem qualquer pudor ou vergonha, que dizia isso a toda a gente.
“Grounds for Divorce” foi o momento alto da actuação, em que Garvey conseguiu que o público fosse entoando cânticos em estilo tribal até se dirigir para o refrão da canção, repetido mais tarde com sentimento entre muitas palmas.
Há que lhes tirar o chapéu. Com temas que dificilmente encaixam num festival deste tipo, os Elbow conseguiram que as suas melodias orquestrais navegassem tranquilamente no mar do Meco – Garvey pôs o público com os braços a ondular vezes sem conta, e até nos convidou a todos a sermos maestros -, transformando-se em intensas ondas de paixão (não as de Von Trier, antes um amor sem neuroses). Exige-se um regresso da banda a um espaço como o Coliseu ou a Aula Magna.
Já os The Vaccines, banda de quem se esperava uma actuação com muita pompa e pouca cicunstância, deram uma pálida imagem de si próprios, sem brilho, garra ou chama. Uma injecção de adrenalina não lhes teria caído nada mal.
Então e os The Strokes, perguntam vocês? Pois bem, correndo o risco de sofrermos uma decapitação, achámos que o concerto dos The Strokes foi apenas mais um concerto para os The Strokes, que serão muito provavelmente a banda mais empolada do planeta. É certo que “Is This It” (2001) e “Room on Fire” (2003) são dois discos fantásticos, mas desde então os Strokes têm vivido à conta de louros passados, envolvendo-se em projectos paralelos que também não têm deixado grandes saudades. O último “Angles” é um disco em ponto pequeno, e o futuro dirá se os The Strokes conseguirão descobrir novamente a veia criativa que os tornou num sério caso rock.
A banda fez desfilar single atrás de single, mas também não contou com a ajuda da qualidade sonora que, uma vez mais, deixou muito a desejar. Não demos o tempo por perdido, mas quando comparados com os cabeças de cartaz Arcade Fire ou mesmo os Artic Monkeys, os The Strokes foram as vedetas que terão passado pelo Palco Super Bock com direito a menos honras.
Uma nota final para algumas questões de organização. Há ainda muito para melhorar se se quer tornar o Meco numa paragem obrigatória e salutar nesta boa vida dos festivais de verão. Os acessos têm de ser melhorados, os tempos de espera têm de diminuir – é incrível existirem filas de seis quilómetros e esperar-se quatro horas para chegar ao recinto, mesmo saindo cedo de casa -, o campismo tem de ter outro tipo de condições que neste momento não oferece – como mais espaço para acampar, mais duches, mais zonas para descansar – e, mais importante, talvez se deva pensar em não meter 30 mil pessoas num espaço onde dificilmente já cabem 20 mil. É certo que um Festival não é uma estância de férias, mas algum conforto e qualidade de vida não ficariam mesmo nada mal. Até para o ano. No Meco ou em qualquer outro lugar.
Mais fotos do terceiro dia do Super Bock Super Rock aqui.
Texto: Pedro Miguel Silva c/ Ana Cláudia Silva
Fotografias: Filipa Oliveira
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