Publicado pela primeira vez em 1511, “Elogio da loucura” é considerado, na história do pensamento europeu, uma das obras mais influentes da civilização ocidental e um estímulo para a reforma protestante ocorrida na Europa, no século XVI, um movimento iniciado pelo monge cristão alemão Martinho Lutero, em 1515, quando começou a contestar abusos e discordâncias da igreja católica, e que atingiu o auge, dois anos mais tarde, quando este professor de teologia moral escreveu as “95 Teses” nas quais discorria sobre o poder e a eficácia das indulgências.

“Erasmo, um construtor da Europa”, escreve Hélder Mateus Costa na apresentação do espetáculo a propósito do teólogo e filósofo cristão humanista (1466-1536) que “sabia ver as falhas que existiam na opressão da igreja católica e o seu mundo de corrupção de que foi um ponto alto e inconcebível a invenção das indulgências”.

“Uns papéis que eram vendidos para absolver dos pecados quando chegasse o juízo final”, acrescenta, definindo Erasmo de Roterdão, que criticava também comportamentos e pensamentos da sociedade da época, como “um verdadeiro homem do Renascimento”.

Um homem que “construiu um humanismo de raiz cristã, unindo a sabedoria da Antiguidade com a ética do cristianismo, que combatia a hipocrisia de cristãos que cometiam erros e diziam que a culpa era do diabo”, frisa o encenador e dramaturgo que, desde 1976, tem escrito e encenado grande parte dos espetáculos de A Barraca.

Um novo homem que “tinha confiança em si próprio”, “fugia do medo e do pessimismo” e “olhava o futuro com otimismo, confiando na sua ação, no seu livre-arbítrio”.

“E como não era fanático, compreendeu sempre que um ateu é preferível a um falso cristão, como já disse o Papa Francisco”, sustenta Hélder Mateus Costa, lembrando que Erasmo espalhou os seus ideais pela Flandres, onde nasceu, Alemanha, França, Inglaterra, Itália e Suíça, onde “terminou os seus dias, também fugindo à Inquisição”.

“Talvez fosse de começarmos a pensar num Neo-Renascimento”, conclui Hélder Mateus Costa, recordando ainda ter sido ao autor de “Utopia”, Thomas More, que Erasmo dedicou “Elogio da Loucura”.

Já a atriz e coautora do espetáculo Maria do Céu Guerra, também numa nota de apresentação sobre a peça, lembra a fala da Loucura patente na obra, segundo a qual “ninguém consegue dizer o que é a loucura”. “Nem os médicos. Nem os santos”.

“Loucura é dar o que se tem sem ver a quem, como Quixote, é descobrir o traseiro do rei que não vai nu sem medo de perder a língua ou a vida”, é “criar beleza e utopia no meio do caos e do medo”, é “amar demais e morrer na cruz, como Jesus…”, sublinha a atriz e fundadora da companhia de teatro que fundou em 1975 com o cenógrafo Mário Alberto.

A interpretar “Elogio da Loucura” estão, por ordem de entrada em cena, Sérgio Moras, Mia Henriques, Matilde Cancelliere, Vasco Lello, Teresa Mello Sampayo, João Teixeira, Adérito Lopes, Maria do Céu Guerra, João Maria Pinto, Samuel Moura.

A música original é do maestro António Victorino de Almeida e, a execução musical, de Mia Henriques.

No desenho de luz está Vasco Letria, na operação de luz e som, Ruy Santos e Ricardo Silva, e, no guarda-roupa, Elza Ferreira.

“Elogio da Loucura” fica em cena até 14 de novembro, com sessões às quintas e sextas-feiras, às 19h30, aos sábados, às 21h30, e, aos domingos, às 17h00.

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