Um texto "desafiante”, segundo o encenador, dramaturgo, cenógrafo e intérprete, que assina a adaptação, cenografia, figurinos e desenho de luz do espetáculo, e que vê neste conto de Mário de Sá-Carneiro, um dos principais textos do autor de "Céu em Fogo".

"A Confissão de Lúcio" é "uma história de amor, obsessão, loucura e suicídio” em torno de três personagens – Lúcio, Marta e Ricardo –, disse André Murraças. "Um texto claramente estranho e por isso desafiante de colocar em cena”, mas que o espetáculo, com o mesmo título, "segue, quase por completo”, numa versão que vai estar em cena no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa.

A obra centra-se num “crime fantástico, sexual, anormal”. Lúcio aproxima-se de Ricardo, que é casado com Marta que, por sua vez, se aproxima de Lúcio.

A interpretação da obra admite a possibilidade de Ricardo ser Lúcio, numa projeção que Mário de Sá-Carneiro terá feito de si mesmo, enquanto Marta faz a ponte entre as duas figuras masculinas, observa André Murraças, num texto de apresentação do espetáculo.

“Uma incursão inusitada pela mente humana, passada entre a Lisboa dos cafés literários", cidade natal do escritor, "e a Paris boémia e aristocrática, numa espiral decadente", onde o poeta se suicidou, em 1916.

André Murraças sublinha o cariz “inovador e relevante” desta obra de Mário de Sá-Carneiro ao abordar temas como “o género, a sexualidade e a arte”.

A interpretar o espetáculo vão estar Francisco Goulão, Isac Graça e João Cachola.

Autor versátil, com obra publicada em poesia, conto ou ficção, Mário de Sá-Carneiro é considerado pela investigação literária, um dos principais autores do Modernismo em Portugal e um dos principais membros da Geração d'Orpheu.

“A Confissão de Lúcio”, que José Régio (1901-1969) considerava “a obra-prima” de Mário de Sá-Carneiro, é uma obra na qual autor/narrador e personagem visam atingir um mundo utópico e fantástico, no qual pontua a alteridade característica da obra do autor e, segundo especialistas, revela a angústia do escritor que se perdera no seu próprio labirinto mental.

A versão de André Murraças vai estar em cena na Black Box, do Centro Cultural de Belém, de 12 a 15 deste mês.