Foi a 3 de março que "Sereia Louca" fez um ano. "Medusa", o disco de remisturas, foi lançado, mas só a 16 de abril é que Capicua desceu à capital para apresentar o seu novo concerto, mais "sujo" e forte do que o anterior que, por exemplo, o SAPO viu n'O Sol da Caparica.

Capicua - Paredes de Coura 14

Na altura dissemos: "Constantemente a celebrar as mulheres, a rapper portuense foi poeta e senhora do palco". E esta verdade continua a existir. Com "Maria Capaz" e "Medusa" fez esta quinta-feira o feminismo ecoar no LUX e a presença de palco foi inegável, ao lado das medusas que iluminaram a atuação que também foi acompanhada pela M7, um ilustrador, um scratcher e um DJ.

Cerca de meia hora depois da hora combinada, Capicua subiu ao palco do LUX para dar início ao mergulho debaixo de água com os remixes de "Medusa" na calha. Bem acompanhada, a portuense Ana não teve dificuldades em vestir a pele de Capicua e mostrar toda a força de uma rapper feminina portuguesa.

Acompanhada pela multifacetada M7, Capicua agraciou-nos com a sua lábia, espontaneidade e um à vontade nos momentos de transição entre músicas, ainda quando o concerto estava a aquecer. Pouco depois foi a hora de entrar o single que dá nome ao álbum do ano passado, "Sereia Louca", com a nova roupagem extremamente bem conseguida do DJ Ride.

As referências aos elementos marítimos começam e, por isso, é sem dúvida hora de ouvir o tema que dá nome ao novo disco: "Medusa". Valete entra em palco, o público delira, e Capicua está pronta para cantar o hino ao feminismo: "é sobre a culpabilização da vítima na violência doméstica a mulheres (...) a medusa que todas transportámos no rosto", termina antes de mergulhar nos versos. Um dueto estreado na semana passada, na apresentação do álbum no Porto, mas que agradou ao público presente em Lisboa.

Na projeção atrás do palco, um ilustrador continuava a fazer os seus desenhos: umas vezes um barco abandonado no mar, outras vezes caricaturas da própria Capicua. Como uma extensão do que ia sendo dito nos versos da canções, esta projeção só enriqueceu um concerto que já por si só carrega significado. Capicua não perdeu a oportunidade de estar ao lado de Valete para elogiar a "inspiração e competição entre pares para o hip hop evoluir (...) a sério e a ferver!". Em chamas esteve sempre a sua língua: meteu-se com o público, brincou com o sotaque nortenho perante uma plateia de alfacinhas e largou um valente "carago!".

Seguem-se "Casa do Campo" - "pão, terra molhada e manjerico", alegremente apregoa - e "Soldadinho", numa altura em que a voz angelical de Tamin sobe ao palco e deixa o LUX numa melancolia alegre. "Meninas dos olhos tristes...", ouviu-se. Um momento 'fofinho' que só podia acabar num abraço entre Capicua e Tamin, a junção perto da perfeição.

Espontânea, como sempre, Capicua continua a lançar frases que ficam na história desta noite: "Olha a Rita!", diz do nada enquanto olha para o público. O público reage com uma gargalhada. É preciso ver uma coisa: "MC quer dizer Maria Capaz!", avisa. Capaz de nos fazer suar, Capicua meteu todas as Marias a abanar a anca e todos os Josés com os braços no ar. Ainda bem que havia onde se limpar: "as toalhas do LUX são muito cheirosas", diz a rir Capicua. Até porque: "para ser rainha nunca foi preciso um rei", canta no momento musical em que M7 assume mais protagonismo.

Há tempo ainda para "Amigos Imaginários", numa remistura do produtor Virtus, e Capicua continua a pedir "as danças mais esquisitas a que tenho direito" - não desiste de trazer a loucura para o LUX. E ela sabe como o fazer. É com "Vayorken", que o público reconhece e acompanha na letra, que o LUX ganha mais luz e vibração. É caso para dizer: "a gente diverte-se imenseee".

No entanto, o maior bombom de Capicua para os fãs vinha no encore. Depois de sair do palco com Vayorken ainda no ouvido, Capicua regressa para fazer... "Barulho", numa remistura de Stereossauro. Sem grandes palavras para descrever o momento, apenas se pode dizer que foi intenso. Num final inesquecível, como se quer, Capicua mostrou ser a verdade Maria Capaz e rapper portuense sem medo de ser agressiva.