A afirmação foi feita na quinta-feira, à margem da semifinal do Operalia antes de saber que viria a estar nos 12 finalistas na categoria de ópera e nos cinco de zarzuela do concurso internacional criado por Plácido Domingo, a decorrer até domingo, no Teatro Nacional de S. Carlos, em Lisboa.

De sorriso aberto, Luís Gomes confessou ser a segunda vez que se inscreveu para este concurso criado por Plácido Domingo em 1993, com o objetivo de descobrir e lançar a carreira dos mais promissores jovens cantores da atualidade.

Se estar nos 40 escolhidos para disputar a prova que vai na 26.ª edição, e para a qual o tenor e maestro Plácido Domingo disse terem recebido 700 candidaturas, foi “uma vitória”, ter passado os quartos-de-final “é uma coisa fantástica”, admitiu Luís Gomes.

Porque o seu objetivo “foi sempre tentar fazer o melhor que conseguisse” e tentar que o ambiente de competição não interferisse com a sua ‘performance’, confessou.

Admitindo estar a “adorar” o concurso, porque a ópera é a sua vida e o Operalia o principal concurso da área, pelo que “tinha mesmo de concorrer”, Luís Gomes indicou que candidatar-se na categoria de zarzuela foi uma decisão “um bocadinho com o coração”.

“Porque esta música toca-nos também. É muito próxima das nossas raízes e ainda por cima, sendo do Montijo, onde há muita cultura de banda filarmónica”, afirma o tenor nascido em Sarilhos Grandes, uma pequena localidade deste concelho do distrito de Setúbal.

Apesar de ter ido para Londres estudar depois de frequentar o conservatório, em Portugal, para aperfeiçoar o canto, Luís Gomes não esconde que foi na igreja da localidade onde nasceu há 31 anos que começou a cantar.

Luís Gomes
Luís Gomes

Depois, frequentou aulas de canto na única escola da modalidade que havia no Montijo, porque, na altura, era “muito difícil ir para Lisboa”, participou em muitos festivais infantis e juvenis, aventurou-se pelo fado e até ousou cantar música pop.

A ida para o Conservatório Nacional e a participação, aos 18 anos, no Concurso Nacional de Canto Luísa Todi mudou-lhe, contudo, “o caminho”.

Ainda que não seja a primeira vez que canta no S. Carlos – onde, em junho último, interpretou a personagem Alfredo Germont, em “La Traviata”, de Verdi - diz que “não podia esperar melhor” do que participar no Operalia.

Não é a mesma coisa que fazer um espetáculo ou uma ópera, onde há um público que também julga, mas por se estar perante um júri que ainda que esteja ali para se divertir e ouvir boa música está também para julgar.

“E é a expectativa que faz o stress”, argumentou, sublinhando, porém, a importância que a “generosidade e abertura” de Plácido Domingo assumem na diminuição do stress.

“Ele é uma daquelas pessoas mesmo grandes, que são aquilo que são pelo trabalho que fizeram e não pela forma de estar”, afirmou, sem esconder a admiração que tem pelo fundador do concurso que é também um dos seus três ídolos, juntamente com Luciano Pavarotti e José Carreras.

Durante a semifinal, Plácido Domingo dirigia-se aos concorrentes em inglês, com uma “Boa noite”, tratou cada mulher pelo nome, cada homem pelo sobrenome e a quem competia em zarzuela – área que era cantada após a de ópera – recomendava sempre que tomassem água antes desta interpretação.

Tão ou mais feliz que Luís Gomes está António Ribas, de 70 anos, um “fã incondicional de Plácido Domingo e de Amália” que se deslocou ao S. Carlos para pedir um autógrafo ao tenor concretizando assim “um sonho de uma vida”.

Natural de Figueira de Castelo Rodrigo, mas a viver na Póvoa de Santa Iria há muitos anos, António Ribas esperou horas e horas para ter um autógrafo do tenor espanhol que admira desde o início da carreira “como já admirava os pais dele, que eram cantores de zarzuela”.

“Esperei horas, mas valeu a pena, consegui falar uns minutos com ele e tenho um autógrafo dele”, disse à agência Lusa, confessando ter “chorado baba e ranho” sem que disso “se envergonhe”.

Devemos lutar pelos sonhos, conclui António Ribas que vai ouvir Plácido Domingo sempre que este vem a Portugal e que espera agora também que o jovem português finalista na Operalia concretize “todos os sonhos”.

Luís Gomes participa no Operalia no mesmo palco onde estará em outubro a cantar “Stabat Mater”, de Dvorak, uma semana antes de subir ao palco do Coliseu do Porto, onde voltará a cantar “La Traviata”.

Um recital em Windsor e outro no Marble Hall, em Holkham, ambos em Inglaterra, ainda este ano, são os trabalhos futuros de Luís Gomes que, em abril de 2019, estará na Semperoper, em Dresden (Alemanha), a cantar a “Missa de Lord Nelson” (“Missa in Angustiis), de Haydn.

Espetáculos onde atuará com o mesmo amor à profissão como o fez na semifinal do Operalia quando, antes de subir ao palco do S. Carlos, pensou apenas em “estar calmo”, visualizar a cena de ópera que cantava e tentar enquadrar as personagens nessa cena, confessou.

Além de Luís Gomes, para a final da categoria de ópera foram qualificados Migran Agadzhanyan (Rússia), Rihab Chaieb (Canadá), Emily D’Angelo (Canadá/Itália), Samantha Hankey (EUA), Johannes Kammler (Alemanha), Long Long (China), Pavel Petrov (Bielorússia), Sean Michael Plumb (EUA), Simon Shibambu (África do Sul), Marina Viotti (Suíça/França) e Arseny Yakovlev (Rússia).

Na final de Zarzuela estarão Emily D’Angelo, Luís Gomes, Pavel Petrov, Josy Santos (Brasil) e Vanessa Vasquez (Colômbia/EUA).

O primeiro prémio, para a melhor voz feminina e masculina, é de 30 mil dólares, cerca de 25,7 mil euros.

O júri do concurso integra, sobretudo, diretores-gerais de teatros de ópera internacionais, entre os quais Patrick Dickie (diretor artístico do S. Carlos), Anthony Freud (da Ópera Lírica de Chicago), Joan Marabosch (do Teatro Real de Madrid) e a soprano Marta Domingo, mulher de Plácido Domingo.