TININHA DE ALFAMA

Sextas e sábados, no inverno; quinta, sexta e sábado, no verão. É nestes horários que pode encontrar as atuações de fado da família de Tininha de Alfama, “nascida e criada”. “Em vez de ter a televisão acesa, dou eu o espetáculo” – é este o lema que a guia no restaurante que agora gere.

“O Caixa Alfama traz-me um bocadinho mais de clientes mas eu não me posso queixar porque realmente a minha casa é conhecida pela animação que tem, por isso a casa está sempre cheia”, confessa ao SAPO On The Hop. O turismo e os estrangeiros veem por acrescento, principalmente por se promover Alfama como o bairro típico para ouvir fado.

Tininha de Alfama

É contra a lei que proíbe a entrada de crianças em casas de fado, pois este é um “género para a família”: “uma casa de fados não é uma casa de striptease”. O filho da Tininha de Alfama já canta e, segundo nos conta, interpreta fados “bem alegres”. “Temos de dar lugar à juventude para eles ficarem com a nossa herança”, refere. “Quero que o meu filho fique com as raízes do meu bairro de Alfama”, partilha com o SAPO On The Hop.

Aqui há fado vadio: “antes havia as tascas onde as pessoas viam cantar (…) o fado começou por ser vadio porque nasceu na rua! Aqui na minha casa ouve-se fado vadio (…) e o fado bairrista à minha maneira, assim como o humorístico”. Para contrariar o ambiente morto das outras casas de fado, Tininha de Alfama até ensina os estrangeiros a cantar um pouco de português, tudo para que aquele seja um momento de festa.

UMA FAMÍLIA DE ALFAMA, COM CERTEZA

Umas ruas a seguir, o SAPO On the Hop  encontra uma família tipicamente de Alfama. Uma senhora mais velha, uma mãe, uma filha e um senhor que parece pertencer ao círculo de amigos. Maria Goretti nasceu em Alfama e não hesita em dizer que o fado fez e faz parte da sua vida. Nestes dois dias de Caixa Alfama, “há mais movimento, mais interesse pelo fado… por isso é que nós estamos aqui também… há mais interesse por Alfama, e é bom também para a gente, os bairristas”. É bom para os de fora, como para os de dentro: “também ouvimos mais fado e depois vamos à descoberta”.

Família Alfama

Ao lado, Florinda, de poucas palavras, diz que o fado “foi sempre a mesma coisa”. Apesar disso, “este é um festival bonito porque vem tudo para a rua ver”. A intrometer-se na conversa timidamente estava Renata, a filha de Goretti: “gosto de fado”, diz a medo. Amália Rodrigues é a fadista preferida da pequena Renata que, nestes dias, vê em Alfama “muita gente”.

OS MÚSICOS QUE TOCAM EM ALFAMA

Enquanto caminha pelas ruas de Alfama, o SAPO On The Hop encontra Italo Assunção e José Maria da Fonseca, dois nomes antigos do fado, que nos prendem logo pelo seu conhecimento profundo deste mundo. A nossa primeira pergunta é óbvia: o Caixa Alfama retira público às casas de fado tradicionais? “As pessoas que vão às casas de fado não têm nada a ver com isto; pelo contrário, até podia prejudicar as casas de fado (…) por acaso até nem prejudicou, isto ontem até esteve cheio”, confessa Italo Assunção. “Infelizmente, na atualidade os grandes clientes das casas de fado são os turistas (…) há 20 anos os portugueses é que eram os grandes clientes das casas de fado… não há dinheiro para as pessoas virem”, refere.

Alfama Músicos

Guitarrista profissional, José Maria da Fonseca diz ser uma “das pessoas mais antigas a cantar o fado”. Sobre o Caixa Alfama tem uma opinião sem margem para dúvidas: é uma “montra de empresários de fado para ganharem dinheiro”, patrocinados pela Rádio Amália e toda a publicidade que fez e faz. Com mágoa, o guitarrista não esconde que se sente esquecido e menosprezado: “90% das pessoas que vivem do fado estão excluídas disto.

Ambos criticam ainda o facto ocorrido na noite anterior, na sexta, quando pessoas que compraram o bilhete não tiveram oportunidade de ver Gisela João, por exemplo, porque o local estava lotado (e o mesmo verificou-se noutros locais, a outras horas).

A terminar, Italo Assunção diz que esta “é uma boa iniciativa”, mas que tem de ser feita de outra forma. “Os empresários fizeram um muro… isto não mostra o fado, mostra as pessoas que estão num momento promocional”, conclui José Maria da Fonseca.