Do velho cinema Europa sobraram poucas coisas, como as colunas que sustentam o edifício e a escultura em alto-relevo de Euclides Vaz na fachada, da princesa Europa, raptada pelo deus grego Zeus, transformado em touro, antes de dar o nome ao “velho continente”.

O edifício é de habitação, mas o rés-do-chão, comprado pela Câmara de Lisboa por 1,4 milhões de euros ao proprietário particular do prédio, foi transformado num espaço cultural, onde, a partir de domingo, funciona uma sala de leitura de adultos, uma ludo-biblioteca e uma sala polivalente para atividades culturais.

“O nosso objetivo é que este seja um verdadeiro centro cultural de base local, muito ligado ao bairro, apesar de continuar integrado na rede de bibliotecas municipais de Lisboa, em que o catálogo continuará a ser disponibilizado em todas as bibliotecas da cidade”, afirmou à Lusa Pedro Cegonho, presidente da Junta de Campo de Ourique.

A biblioteca tem cinco mil títulos e capacidade para ir até aos oito mil, e a ludo-biblioteca, para crianças e jovens dos zero aos 16 anos, tem atividades além da leitura, como jogos e uma consola.

A presença constante dos utilizadores mais novos é uma das grandes esperanças, segundo Pedro Cegonho, devido à grande população escolar da freguesia e visto que atualmente já existe uma ludo-biblioteca a funcionar no edifício da junta, que tem uma presença diária média de cerca de 30 crianças e jovens, apesar de só abrir da parte da tarde.

A sala polivalente vai abrir com uma exposição onde há uma ligação entre a imagem do arquiteto Lourenço da Câmara Lomelino e os textos de Cristina de Freitas Branco e um concerto de música clássica com a jovem violinista do bairro Matilde Loureiro, “precisamente para demonstrar a versatilidade” que tem, preparada para eventos, conferências, teatro, concertos e projeção de cinema.

Na sala de leitura vai ficar sedeada a Biblioteca Cosmos, com 145 livros, editada há 75 anos pelo professor Bento de Jesus Caraça, que residiu no bairro, e que foi a primeira aquisição para este espaço, encontrada pela Junta de Freguesia num alfarrabista.

O espaço tem também um protocolo com o Centro Jacques Delors, sendo a primeira biblioteca Europe Direct Center em Lisboa, com um programa de informação e atividades sobre a União Europeia a desenvolver junto da comunidade escolar.

O projeto nasceu por iniciativa do Movimento SOS Cinema Europa, que o inscreveu no Orçamento Participativo da cidade, acabando por ser uma das ideias vencedoras em 2009, com uma verba alocada de 690 mil euros.

“A programação, a definição da linha cultural que queremos desenvolver (…) será algo que, na minha perspetiva, só pode ser feito, de forma a ser fiel ao espírito do espaço que aqui está, se tiver sempre a presença do Movimento SOS Cinema Europa”, disse, apesar de o espaço ser gerido como competência própria da Junta de Freguesia.

A biblioteca funciona entre as 10:00 e as 19:00, de segunda-feira a sábado, mas o programa cultural complementar terá horários próprios.

Campo de Ourique tem cerca de 22 mil habitantes e uma população mais envelhecida do que a média na cidade de Lisboa, tendo quase 600 utilizadores inscritos na rede de bibliotecas.

O Cinema foi inaugurado em 1930 e utilizado até 1981 e por lá passaram as gravações de diversos concursos da RTP, como o “1,2,3” ou o “Passeio dos Alegres”.