De acordo com a associação, o teatro municipal cancelou o projeto de mediação artística "O público vai ao teatro", que o Teatro Meia Volta dinamizava desde 2011 no São Luiz e que contava renovar por uma nova edição, para o período 2019-2022.

Em comunicado, os coordenadores do projeto dizem que o teatro municipal lhes comunicou, em maio, "a intenção de realizarem um contrato plurianual que contemplasse a totalidade do projeto", mas um mês depois foram informados que "face aos iminentes cortes orçamentais motivados pela crise pandémica, o plano de trabalho e orçamento acordados teriam de ser revistos, o que implicaria o adiamento de algumas atividades".

A 17 de setembro, a associação cultural é informada pelo teatro municipal de que "apenas seriam contratualizadas as atividades previstas para 2020", por determinação da EGEAC, a empresa que gere os equipamentos culturais municipais de Lisboa.

À agência Lusa, Alfredo Martins, um dos coordenadores do projeto "O público vai ao teatro", explicou que o valor relativo às atividades já realizadas entre janeiro e julho de 2020 é de 14.450 euros e que essa verba ainda não lhes foi paga pelo teatro municipal ou pela EGEAC.

"A EGEAC permitiu que a equipa do projeto trabalhasse durante meses sem contrato, colocando os seus elementos em situação de desproteção laboral", lamenta a associação cultural, que também quer uma compensação "pelo cancelamento repentino das restantes atividades acordadas (até julho de 2022)".

"Interpelamos, em primeiro lugar, a direção do teatro e posteriormente o conselho de administração da EGEAC, solicitando o não cancelamento do projeto e a contratualização das atividades já realizadas e a realizar. Uma vez que não chegámos a um acordo, enviámos um recurso hierárquico para a vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa e para a presidente do conselho de administração da EGEAC, solicitando a revisão da decisão ou compensação pelo cancelamento. Estamos a aguardar resposta", explica Alfredo Martins.

De acordo com dados solicitados pela agência Lusa, o orçamento destinado à realização da nova edição do projeto de mediação era de cerca de 70 mil euros a repartir entre 2019 e 2022.

O projeto "O público vai ao teatro" é dinamizado desde 2011 pelo Teatro Meia Volta com o objetivo de envolver diferentes públicos na "fruição artística das instituições culturais e da sua programação".

"O público vai ao teatro" teve uma primeira edição entre 2011 e 2013, em colaboração com o Teatro Nacional São João (Porto) e uma segunda edição, entre 2016 e 2018, em parceria com o Teatro Municipal São Luiz.

"Este projeto inovador tornou-se numa referência a nível nacional para as áreas da mediação artística e do envolvimento de públicos, sendo mencionado e apresentado em vários contextos artísticos e académicos", refere a associação cultural.

Os coordenadores sublinham que foi no Teatro Municipal São Luiz que "o projeto encontrou o espaço necessário à experimentação e sistematização metodológicas", lamentando, por isso, a decisão de cancelamento.

A agência Lusa pediu mais esclarecimentos tanto à direção do teatro municipal como ao conselho de administração da EGEAC, não tendo obtido qualquer resposta em tempo útil.

No início de dezembro, o teatro municipal, dirigido por Aida Tavares, já tinha sido criticado, num manifesto público com mais de 350 assinaturas, pelo afastamento da programadora Susana Duarte, responsável pela "Programação Mais Novos", para crianças, jovens e famílias.

Na altura, contactado pela Lusa, o teatro municipal não se referiu ao afastamento da programadora, mas afirmou que se encontrava a "repensar a relação" com escolas e públicos jovens.