Aquela que será a 11.ª Edição da Bienal de Liverpool, dedicada à arte contemporânea e tendo como tema "The Stomach and the Port" ("O Estômago e o Porto", em tradução livre) terá mostras prévias nos dias 18 e 19 de março.
Esta edição da bienal explora noções do corpo e formas de ligação com o mundo. O programa será o originalmente concebido - mas respondendo ao novo contexto -, com curadoria de Manuela Moscoso, e a lista de artistas, anunciada em novembro de 2019, inclui os portugueses André Romão e Pedro Neves Marques, e os brasileiros Sonia Gomes (1948) e Jorge Menna Barreto (1970).
O programa anunciado inclui exposições, debates e performances em vários espaços da cidade, como a Tate Liverpool e o Victoria Gallery & Museum.
No entanto, revela a organização na sua página oficial ‘online’, os conceitos e práticas que esta edição explora assumem uma sensibilidade acrescida no contexto de uma pandemia e do movimento global 'Black Lives Matter’.
“Abraçamos o desafio de continuar a desenvolver estas ideias num mundo em transformação, reconhecendo estas profundas mudanças sociais, e as respostas dos artistas a esta realidade alterada”, afirmam os organizadores.
Do mesmo modo, garantem que continuam a acompanhar as diretivas e os conselhos emanados das autoridades da saúde, para que esta edição decorra em segurança e com o devido cuidado e atenção às necessidades dos artistas, do pessoal e dos parceiros, assim como do público local, nacional e internacional.
"Vivemos coletivamente mudanças sociais sísmicas. O mundo teve de se adaptar a viver, a trabalhar e a sofrer através de uma pandemia. Vidas e meios de subsistência foram afetados, em alguns casos permanentemente, e espera-se uma recessão mundial. Mais recentemente, à luz do maior movimento de justiça racial das nossas vidas, temo-nos envolvido na necessidade urgente de criar sociedades iguais, diversificadas e inclusivas. Estas questões coletivas ressoam fortemente na nossa edição ‘The Stomach and the Port’”, afirmou Fatos Üstek, diretor da Bienal de Liverpool.
A curadora da bienal, Manuela Moscoso, sublinhou, por sua vez, que o modo de estar no mundo e a forma como as pessoas se relacionam entre si estão a ser “dramaticamente” remodelados pelos efeitos da covid-19, ao mesmo tempo que o mudo “é marcado” pelo movimento ‘Black Lives Matter’, um apelo à justiça social e uma exigência de ação antirracista.
“A ocorrência simultânea de ambos está longe de ser coincidência. Têm as suas raízes numa economia de extração de longa data: a natureza, os corpos, definidos pelo género ou pela raça, são vistos como mercadorias e descartáveis”, afirmou a curadora de origem equatoriana, uma das responsáveis pelas coleções do Museu Tamayo de arte contemporânea, da Cidade do México.
Moroso adiantou que os artistas e pensadores que colaboram na 11.ª edição da Bienal de Liverpool “questionam empenhadamente as rígidas categorias definidas e perpetuadas pelo capitalismo colonial através das suas práticas”.
Esta edição da bienal continua “enraizada num compromisso de descolonizar os nossos pensamentos e a nossa experiência do mundo, o que exige um longo processo de recalibração dos sentidos, requer uma aceitação da vulnerabilidade e o reconhecimento dos nossos próprios privilégios e preconceitos”, considerou a curadora, sublinhando que isto “deve ser mais do que uma reflexão: precisa de se tornar uma prática em todos os aspetos da vida".
Para esta edição, artistas de todo o mundo foram convidados a apresentar trabalhos inspirados no tema "The Stomach and the Port", dentro do contexto de Liverpool, numa perspetiva de olhar para o corpo e para formas de conectar com o mundo.
André Romão, que vive e trabalha em Lisboa, tem vindo a desenvolver o seu trabalho nas fronteiras da interação entre o humano, o cultural, o animal e o artificial, ancorado na poesia e usando diversos suportes artísticos.
Entre as suas mais recentes exposições estão "Fauna", mostra individual com curadoria de Pedro Lapa, que esteve patente no Museu Berardo, em Lisboa, durante a primavera de 2019, e "Flora", que levou ao Museu da Imagem, em Braga, no âmbito da BoCA, Bienal de Arte Contemporânea.
No primeiro trimestre deste ano, fez uma residência artística em Londres, nos estúdios da organização Gasworks, de apoio à arte contemporânea.
Pedro Neves Marques, que tem a curta-metragem "A Mordida" nomeada para os prémios da Academia Europeia do Cinema, depois da distinção no festival de 'curtas' Go Short, dos Países Baixos, vive e trabalha em Nova Iorque, nos Estados Unidos, como artista visual, realizador e escritor.
Recentemente, Neves Marques escreveu o ensaio "Contaminação por capital: Violência contra a terra, violência contra os nossos corpos", para a revista Revista Punkto, "projeto indisciplinar e indisciplinado", do Porto.
Larry Achiampong, Erick Beltrán, Diego Bianchi, Alice Channer, Judy Chicago, Ithell Colquhuon, Christopher Cozier, Yael Davids, Ines Doujak & John Barker, Jadé Fadojutimi, Jes Fan, Lamin Fofana, Ebony G. Patterson, Ane Graff, Ayesha Hameed, Camille Henrot, Nicholas Hlobo, Laura Huertas Millán, Sohrab Hura e Evan Ifekoya são alguns dos artistas que também foram selecionados para participar nesta edição da bienal.
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