O texto do vocalista Bono é publicado na mesma semana em que a banda irlandesa inicia uma digressão que tem passagem marcada por Lisboa nos dias 16 e 17 de setembro.
“A palavra patriotismo foi-nos roubada por nacionalistas e extremistas”, afirma Bono, considerando que “os verdadeiros patriotas procuram a união acima da homogeneidade”, e que este é que é “o verdadeiro projeto europeu”.
Partindo deste pressuposto, o músico questiona: “Poderemos colocar os nossos corações nesta luta?”.
Os valores e as aspirações da Europa fazem desta muito mais do que apenas uma geografia, vão ao âmago de quem somos como seres humanos e quem queremos ser, escreve o músico, considerando que esta ideia de Europa “merece canções escritas sobre ela, e grandes bandeiras azuis e brilhantes acenadas”.
Esta afirmação decorre de uma ideia “provocadora” que a banda teve para a sua próxima digressão, que começa esta semana em Berlim.
“Disseram-me que uma banda de rock está no seu melhor quando é um pouco transgressora: quando estica os limites do chamado bom gosto, quando choca, quando surpreende”, escreveu, adiantando que a banda pretende, durante o concerto, agitar uma bandeira da União Europeia (UE), “grande, brilhante e azul”.
“Imagino que mesmo para um público de rock, agitar uma bandeira da UE nos dias de hoje é um aborrecimento, uma chatice, uma referência kitsch ao Festival da Eurovisão, mas para alguns de nós tornou-se um ato radical”, defendeu Bono.
O músico lembra que a mesma Europa que durante muito tempo provocava um bocejo, “hoje desencadeia uma disputa de gritos na mesa da cozinha”, que é um palco de forças poderosas, emocionais e conflituantes que vão moldar o futuro.
“O nosso futuro”, sublinha o cantor, considerando: “não há como negar que estamos todos juntos neste barco, em mares agitados pelo clima extremo e pela política extremista”.
Bono aborda ainda a questão dos refugiados, afirmando que se sente orgulhoso, quando se lembra de que “os alemães receberam refugiados sírios assustados” (e mais se sentiria se mais países se tivessem juntado); “orgulhoso da luta da Europa para acabar com a pobreza extrema e as alterações climáticas; e, sim, extraordinariamente orgulhoso do acordo de Belfast e de como outros países se uniram à Irlanda na questão das fronteiras, reavivada pelo Brexit”.
“Sinto-me privilegiado por ter testemunhado o maior período de paz e prosperidade de todos os tempos no continente europeu”, acrescentou.
No entanto, Bono alerta que todas essas conquistas “estão a ser ameaçadas, porque o respeito pela diversidade - premissa de todo o sistema europeu - está a ser desafiado” e salienta que “a diferença é da essência da humanidade, e deve ser respeitada, celebrada e até mesmo cultivada”.
“Adoro as nossas diferenças: os nossos dialetos, as nossas tradições, as nossas peculiaridades, ‘a essência da humanidade’, como definiu Hume. E acredito que eles ainda deixam espaço para o que Churchill apelidou de ‘um patriotismo ampliado’: alianças plurais, identidades em camadas, irlandeses e europeus, alemães e europeus, e não uma coisa ou outra”.
Bono termina afirmando que “para prevalecer nestes tempos conturbados, a Europa é um pensamento que precisa de se tornar um sentimento”.
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