“Casa Portuguesa”, que se estreou em setembro de 2022 no TNDMII, tendo sido depois apresentada no Porto e em Ponta Delgada, é a continuação de uma “reflexão sobre a família” que, neste segundo momento de uma trilogia, centraliza o tema da masculinidade.

De acordo com a Força de Produção, que programa o Teatro Maria Matos, a peça de Pedro Penim estará em cena entre 9 de maio e 7 de julho, de quinta-feira a sábado às 21h00 e aos domingos às 17h00.

“Casa Portuguesa” conta a história ficcional de “um ex-combatente na guerra pela independência de Moçambique [interpretado por João Lagarto], que de alguma forma centraliza muita da informação do espetáculo”.

“É a história dele, já no fim da vida, a convocar vários fantasmas, não só figuras do seu passado e do seu presente, mas fantasmas também no sentido de ideias, de estruturas de poder, que vão aparecendo nesta ficção”, contou Pedro Penim, em declarações à Lusa, aquando da estreia da peça.

A “convocação de fantasmas” da personagem de João Lagarto “é uma forma metafórica de olhar para a História de Portugal dos últimos 50 anos, fazendo essa relação com as estruturas de poder, neste caso a figura paternal, a estrutura da família e o Fado também”.

O texto, da autoria de Pedro Penim, foi criado através da conjugação de três elementos: um diário de guerra, de Joaquim Penim, o fado “Casa Portuguesa” e o ensaio filosófico “Filosofia della casa”, de Emanuele Coccia.

Embora se tenha baseado em situações reais, que leu no diário que o pai escreveu enquanto esteve na guerra em Moçambique e em testemunhos de ex-combatentes da guerra colonial, Pedro Penim reforça tratar-se de “uma peça ficcional”.

“A peça inspira-se nessa experiência, mas não é a história do meu pai, a história é completamente ficcionada. Esta personagem é uma súmula de histórias que fui lendo de alguns ex-combatentes da guerra colonial”, explicou.

Já a canção que dá nome ao espetáculo, “uma das mais populares do Fado português”, “está muito relacionada com um certo ideal de vida portuguesa do Estado Novo, que servia como uma luva a algumas das ideias desse período da ditadura”.

No ensaio filosófico, o terceiro elemento na origem da peça, Emanuele Coccia “tenta repensar o espaço da casa, sobretudo o espaço pós-pandémico, como a casa se foi alterando”.

“São tudo movimentos que fazem parte de uma mesma história, mas que anda sempre à volta dessa ideia de olhar para estruturas - a casa, o Fado, a família – e perceber como elas se foram alterando ao longo da história da nossa Democracia, até hoje”, disse.

“Casa Portuguesa” acaba por ser “um segundo momento da mesma reflexão sobre a família”, que teve um primeiro em “Pais & Filhos”, peça que Pedro Penim estreou em 2021 no Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa.

Além de João Lagarto, a peça tem mais quatro intérpretes: Carla Maciel, Sandro Feliciano e as Fado Bicha (Lila Tiago e João Caçador).

Lila Tiago e João Caçador foram as primeiras artistas que Pedro Penim convidou para o projeto: “O projeto Fado Bicha é também de abanão de uma estrutura que é o Fado. Elas aproveitam aquilo que o Fado tem de bom, toda a sua importância cultural, a grande inventividade por trás de compor um Fado, mas depois acabam por imputar nessas músicas um conteúdo muito próximo de uma ‘queerização’ do Fado”.

Os figurinos da peça ficaram a cargo da Behén, de Joana Duarte, que “tem um trabalho muito apoiado na tradição – rendas, toalhas, colchas, apliques -, e faz uma recontextualização desses materiais, tem um trabalho muito sensorial, muito visual, que para aqui servia que nem uma luva”.