"Vemo-nos em Agosto", o romance póstumo de Gabriel García Márquez (1927-2014) que estará à venda na quarta-feira (6), editado em Portugal pela Dom Quixote, com tradução de J. Teixeira de Aguilar, foi um desafio "indecifrável" para o Nobel colombiano perto da sua morte, contaram à imprensa os seus filhos Rodrigo e Gonzalo.

Cerca de 15 anos antes de falecer, em abril de 2014, "Gabo" iniciou a escrita do livro que conta a história de Ana Madalena Bach, uma mulher que visita o túmulo da sua mãe numa ilha das Caraíbas todos os meses de agosto. A protagonista aproveita as viagens para deixar de lado a sua vida de castidade e ter encontros eróticos com desconhecidos.

Em 1999, o Nobel de Literatura (1982) leu publicamente o primeiro capítulo, mas absteve-se de publicar o restante da obra, pois não o satisfazia, limitando-se a entregar versões do manuscrito a seus familiares.

Ele considerava que o texto não fazia sentido e estava em "desordem", pelo que deveria ser descartado, relataram na terça-feira Rodrigo e Gonzalo García Barcha durante uma conferência de imprensa imprensa virtual a partir de Espanha.

O "livro tornou-se algo um pouco indecifrável" nos seus últimos anos de vida, marcados por doenças e perda de memória, comentou Rodrigo.

Por decisão dos seus familiares, os manuscritos e datiloscritos de "En agosto nos vemos" foram depositados no Harry Ransom Center, uma biblioteca da Universidade do Texas, nos EUA.

De acordo com Gonzalo García, as opiniões de académicos que leram fragmentos da obra convenceram os irmãos a unificá-los num livro, que será lançado no dia em que o seu pai completaria 97 anos.

"Quando lemos as versões, percebemos que o livro estava muito melhor do que nos lembrávamos, pelo que começámos a suspeitar que, assim como Gabo perdeu a capacidade de escrever, também perdeu a capacidade de ler" e, portanto, "a capacidade de julgar" os seus próprios escritos, comentou.

Arqueologia</h3

Embora tenham surgido rumores de que o romance não tinha um final, os filhos do principal expoente do realismo mágico garantem que, antes de morrer, ele desenvolveu completamente a história de Ana Madalena Bach.

"O romance estava, talvez, um pouco disperso por um número indeterminado de originais, mas estava completo". Foi um "trabalho de arqueologia" para unir as partes e chegar a um final, acrescentou Gonzalo.

Rodrigo adiantou que não existem mais romances por descobrir de García Márquez, pelo que "Vemo-nos em Agosto" é o "último sobrevivente" do seu universo literário.

Falecido na Cidade do México, García Márquez é considerado um dos autores mais relevantes da história e o mais importante escritor do "boom latino-americano", um fenómeno das letras que surgiu nos anos 60 e 70.

A plataforma de streaming Netflix lançará este ano uma série inspirada em "Cem anos de solidão", a sua obra-prima.