“Moving people” é um dos projetos para Lisboa de Christiane Jatahy, Artista na Cidade 2018, e consiste na gravação, montagem e projeção de um documentário, dentro de um contentor, no mesmo momento em que é feito.
O trabalho centra-se no encontro de pessoas que se cruzam entre si - imigrantes, refugiados, habitantes locais -, e no modo como memórias, ideias e utopias de todos se conjugam, num “diálogo vivo sobre os dias de hoje”, estimulado com questões que a encenadora coloca aos participantes, à medida que os vai filmando.
Para a realização deste trabalho, Jatahy solicita ao público que leve objetos para compor o que define “uma casa em construção”, de pessoas que se movimentaram no mundo.
A obra de Christiane Jatahy vive na fronteira entre o teatro e o cinema, entre as grandes narrativas e os episódios do quotidiano, espaço teatral e o espaço público.
Concebido e dirigido por Christiane Jatahy, no âmbito do programa Lisboa na Rua, “Moving people” tem cenário e iluminação de Thomas Walgrave, colaboração técnica de Marcelo Lipiani, no desenvolvimento de cenário, e vídeo de Júlio Parente, enquanto a câmara é de Paulo Camacho. A assistência é de Juliane Elting, a produção local de Agnes Oberauer e a direção de produção de Henrique Mariano, numa coprodução do Thalia e do Theater der Welt (Teatro do Mundo).
Integrado na programação do Lisboa na Rua, que termina a 30 de setembro, “Moving people” sucede a outras iniciativas concebidas e dirigidas pela artista brasileira, escolhida para a Bienal Artista na Cidade 2018.
Desde maio, o trabalho de Jatahy esteve em cena no Teatro Nacional D. Maria II ("Julia", "E se Elas Fossem para Moscou", "A Floresta que Anda") e o Teatro Municipal São Luiz ("Ítaca - Nossa Odisseia", com o festival Alkantara), envolvendo ainda 'workshops' ("Relação. Reação. Criação") e o lançamento de um livro ("Fronteiras Invisíveis: Diálogos para criação de A Floresta que Anda").
Em novembro, a obra de Christiane Jatahy estará de novo em diferentes salas de Lisboa.
No âmbito do festival Temps d'Image, no Cinema Ideal, serão apresentados os filmes "In the Confort of Your Own Home", que resultou da ocupação artística em Londres, nas Olimpíadas Culturais (2012), e "Utopia.doc", que a criadora define como "um documento político" sobre a atualidade, um projeto montado durante a pesquisa para a peça "E se Elas Fossem para Moscou?".
A exibição da longa performance "A Falta que Nos Move" também chegará ao Cinema São Jorge e ao Teatro São Luiz, nos dias 20, 21 e 24 de novembro.
Esta obra, que envolve vídeo-instalação e cinema, testemunha um 'work in progress' que se "estende e se desdobra na linha do tempo", conjugando histórias individuais e as realidades políticas do Brasil, desde a ditadura militar.
O Cinema São Jorge, no dia 21, projetará igualmente a encenação de Jatahy da ópera de Beethoven, "Fidélio", filmada em 2015, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
A encenadora sublinhou o caráter político da obra do mestre alemão, que "fala da injustiça de manter no cárcere prisioneiros políticos, da mistura das relações pessoais com as relações de poder, e da luta de uma mulher para resgatar o seu marido desaparecido".
"Beethoven estreou essa obra em 1805, mas poderia ter sido ontem, ou poderia ter sido hoje. Montar essa ópera nos dias de hoje, além de trazer ao público a beleza da música de Beethoven, também pode ser uma forma de dizer que não precisamos de escrever de novo essa mesma história amanhã", escreve a encenadora na apresentação da obra.
Para Christiana Jatahy, o teatro "é sempre sobre contemporaneidade", como disse à Lusa, no passado mês de março, quando foi apresentada como Artista na Cidade 2018. Só assim "se acerta no alvo" e se "entra na essência da obra", sublinhou na altura.
Ao longo do mês de novembro, a Cinemateca Portuguesa também incluirá "As escolhas de Christiane Jatahy" na sua programação.
Christiane Jatahy, nascida no Rio de Janeiro, em 1968, sucedeu ao bailarino e coreógrafo congolês Faustin Linyekula, que foi Artista na Cidade de Lisboa em 2016. O dramaturgo e encenador britânico Tim Etchells, em 2014, e a coreógrafa belga Anne Teresa de Keersmaeker, em 2012, foram os anteriores convidados da bienal que junta diferentes palcos e instituições de Lisboa.
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