"Jogo do Fim" é “o retrato de um espaço e de um tempo possíveis após o apocalipse”, concentrando este texto, em si, todos os grandes temas 'beckettianos', “tempo, ser, existência, anormalidade”, refere o Teatro da Rainha na sinopse da mais recente criação da companhia.
A peça é a versão original de Isabel Lopes para “Fin de Partie”, escrita em 1957 pelo Nobel da Literatura, após a Segunda Guerra Mundial, em plena Guerra Fria, num tempo em que se temia a ameaça de uma guerra nuclear.
Em palco estarão o rei Hamm e o peão Clov, “numa interdependência ‘reconfiguradora’ das figuras de um senhor caído em desgraça e de um escravo incapaz de se libertar”, a par com Nagg e Nell, personagens descritas pela companhia como “peças tombadas para fora do tabuleiro”, que “espreitam do fundo de caixotes do lixo como a memória espreita do fundo do pensamento”.
As quatro personagens de "Jogo do Fim" são o que sobra da humanidade, refugiadas numa espécie de 'bunker', rodeado de cinzas, onde o tempo parece ter parado e se assiste à “claudicação das utopias, à ausência de horizontes", onde a memória é "feita detrito", numa "espera em que o presente se joga na ausência de qualquer perspetiva acerca do futuro”, escreve o Teatro da Rainha.
Na peça, a companhia das Caldas da Rainha mostra as analogias entre o universo de Beckett e a atualidade, marcada ”pela vertigem do apocalipse, seja pelos campos de concentração onde milhares de refugiados desesperam no vazio, seja pelos lares da nossa vergonha onde a velhice definha lentamente”, conclui o Teatro da Rainha.
“Jogo do Fim” tem encenação de Fernando Mora Ramos, tradução e direção de atores de Isabel Lopes. Ambos fazem igualmente parte do elenco, juntamente com Fábio Costa e Nuno Machado.
O espetáculo vai poder ser visto de quarta a sábado, com lotação reduzida para se manter o distanciamento.
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