“Lê-se tão pouco e a cultura não é devidamente valorizada, em quase todos os lados, mas em Portugal de uma maneira bastante patente”, afirmou, em declarações aos jornalistas, na academia alentejana, à margem da cerimónia de entrega do prémio.

Questionada sobre a importância deste tipo de galardões, a escritora, de 77 anos, reconheceu que “um prémio é sempre estimulante”, não apenas “para quem o recebe”, mas também “para o público em geral, porque leva à curiosidade de ler mais”.

Para Teolinda Gersão, em Portugal, ainda vigora a ideia de que “o que vem de fora é que é bom”, pelo que, por exemplo numa livraria, “só se veem livros traduzidos, fundamentalmente, de língua inglesa, quase todos” de autores “americanos”.

E os autores portugueses, comparou, “estão numa prateleira, algures lá atrás ou, quanto muito, estão 15 dias nas bancadas, normalmente, nunca nas vitrinas ou muito pouco”.

Segundo Teolinda Gersão, outros países, como França, cujas “grandes livrarias estão cheias de autores franceses, em primeiro lugar”, defendem “muito melhor os seus interesses do que Portugal”.

Depois de participar, durante a tarde, num encontro literário na Universidade de Évora, Teolinda Gersão recebeu o Prémio Vergílio Ferreira 2017, numa cerimónia na Sala de Docentes do Colégio do Espírito Santo, o principal edifício da academia alentejana.

“É, antes de mais nada, uma homenagem ao Vergílio Ferreira, que é um escritor de que gosto imenso, que admiro muito e que ainda tive o privilégio de conhecer pessoalmente no fim da vida dele, nos últimos anos, e de quem fiquei amiga”, disse a galardoada.

O júri, presidido por António Sáez Delgado e que, este ano, integrou Pedro Ferré, Mário Avelar, Gustavo Rubim e Elisa Esteves, decidiu distinguir Teolinda Gersão devido à "alta qualidade” da sua “arte narrativa expressa nos vários géneros de ficção clássica, em particular o romance e o conto".

A premiada, destacou hoje aos jornalistas António Sáez Delgado, “tem uma qualidade invulgar nos escritores ou que todos os escritores gostariam de ter”, que é o facto de ter “uma voz muito própria e inconfundível dentro, não só da literatura portuguesa, mas de toda a literatura lusófona”.

O Prémio Vergílio Ferreira foi atribuído, pela primeira vez, a Maria Velho da Costa, seguindo-se Maria Judite de Carvalho, Mia Couto, Almeida Faria, Eduardo Lourenço, Óscar Lopes, Vítor Manuel de Aguiar e Silva e Agustina Bessa-Luís.

Manuel Gusmão, Fernando Guimarães, Vasco Graça Moura, Mário Cláudio, Mário de Carvalho, Luísa Dacosta, Maria Alzira Seixo, José Gil, Hélia Correia e Ofélia Paiva Monteiro, Lídia Jorge e João de Melo foram os outros galardoados, antes de Teolinda Gersão.