Em conferência de imprensa na Culturgest do Porto, o novo programador das Artes Visuais da Culturgest, Bruno Marchand, explicou aos jornalistas que a segunda versão da exposição “Red Lines with Landscapes: Portugal” vai ter 14 obras do artista Evan Roth, que captou imagens em “zonas costeiras portuguesas com uma câmara com infravermelhos”, e que vão estar em diálogo com 12 obras dos pintores portugueses “Silva Porto, Artur Loureiro e Henrique Pousão”, emprestadas pelo Museu Nacional Soares dos Reis.
“Aquilo que vão encontrar são constelações de vídeos e de pinturas onde há o encontro entre uma paisagem digital e contemporânea com a lógica da construção da paisagem naturalista dos finais do século XIX”, em que o artista usava pincéis e tintas, explicou Bruno Marchand, acrescentando que o que Evan Roth tem vindo a fazer com este projeto é “encontrar os sítios onde os cabos entram em cada lado do [Oceano] Atlântico e fazer tomadas de vista, fazer retratos dessas paisagens, desses locais, onde a Internet circula e entra dentro dos continentes”.
Estas tomadas de vista foram feitas com uma câmara de infravermelhos, que dá um tom "sépia à imagem" e que tem um “peso pictórico muito evidente”, explica Bruno Marchand.
Os vídeos no tom sépia aproximam-se de “pinturas ou desenhos em sanguínea, que víamos na arte clássica”, acrescenta.
Em declarações aos jornalistas, Evan Roth assume estar muito feliz por ter tido a oportunidade de trabalhar em Portugal e poder associar as suas obras a pinturas de paisagens portuguesas, pintadas no passado por artistas portugueses.
“Penso que uma maneira de pensar no trabalho é pensar que a Internet é o oposto à 'clowd' [nuvem]. É algo que é físico e que faz parte da paisagem da mesma forma que as ondas do mar ou o céu fazem parte da paisagem. E é também algo que está conectado com a história e é por isso que me sinto realmente feliz pela oportunidade de trabalhar com os museus e mostrar o trabalho que fiz em Portugal e que foram, em primeiro lugar, paisagens pintadas por pintores portugueses”, uma oportunidade que sabe que nem sempre é fácil de conseguir e, por isso, está “super agradecido”, declarou.
A exposição “Red Lines with Landscapes”, cuja primeira versão foi inaugurada a 30 de janeiro deste ano, em Lisboa, tem a curadoria de Delfim Sardo e foi realizada no âmbito do projeto "Reação em Cadeia", numa parceria entre a Culturgest e a Fidelidade, surgindo no seguimento do trabalho que Evan Roth desenvolveu com a organização londrina Artangel, onde começou a explorar as conexões subaquáticas entre continentes.
No Porto, a exposição é inaugurada no sábado, dia 3 de outubro, e vai estar patente ao público nas instalações da Culturgest, na Avenida dos Aliados, até 6 de dezembro, onde vão poder ser vistas, no total, 26 obras – 14 do artista norte-americano e 12 dos pintores portugueses Silva Porto, Artur Loureiro e Henrique Pousão.
Em Lisboa, o artista escolheu obras de artistas como Tomás da Anunciação, Aurélia de Souza, Silva Pinto, Marques da Silva e António Carneiro, que foram requisitadas ao Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado.
Evan Roth vive e trabalha em Berlim, formou-se em arquitetura na Universidade de Maryland (EUA) e prosseguiu os estudos na área de ‘design’ e da tecnologia, tendo arrancado com o projeto “Red Lines With Landscapes”, em 2014.
Esta exposição continua o trabalho desenvolvido com a organização londrina Artangel, que explora as conexões subaquáticas entre continentes, e Roth tem vindo a filmar, com câmaras de infravermelhos, as localizações costeiras de onde partem os cabos que atravessam os oceanos, lê-se na página oficial da Internet da Culturgest.
O norte-americano pegou numa investigação sobre a transmissão física de informação por via subaquática, mostrando que este trabalho tem uma componente física, não está “só na nuvem”, e juntou-a a um trabalho sobre zonas costeiras que já passou por vários pontos na Europa, mas também por países como a Argentina e a Austrália.
“Red Lines with Landscapes: Portugal” é também um projeto web e ao qual se pode aceder em qualquer lugar no mundo, através da Internet, e reproduzir nos nossos dispositivos as paisagens em movimento captadas pelo artista.
No site Red Lines estão disponíveis em streaming os vídeos que o artista filmou.
Evan Roth tem trabalhado entre a instalação vídeo e a conceção de projetos para a Internet, com obras na coleção permanente do Museum of Modern Art (MoMA), de Nova Iorque. Expôs na Smithsonian Gallery, em Washington, no Museu de Chicago, na Bienal de Sydney, no próprio MoMA e na Bienal de Estrasburgo, entre outros locais, e fundou o coletivo Free Art & Technology Lab, no qual expande a investigação sobre arte e tecnologia, além do Graffiti Research Lab, dedicado a arte urbana.
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