Todos os álbuns que David Bruno já editou, a solo, com Conjunto Corona ou na dupla David & Miguel, “têm uma história por trás”. “É assim o meu processo”, recordou em entrevista à agência Lusa.
Com o novo disco, “Sangue & Mármore”, o músico foi “um bocadinho mais além”: “É uma áudio novela, que tem uma banda sonora”.
O projeto nasceu na altura dos confinamentos impostos pelo combate à pandemia da COVID-19, altura em que David Bruno, à semelhança de tanta gente, “passava muito tempo em casa”.
O ‘gatilho’ estava no outro lado da rua: “Em frente a minha casa havia um daqueles palacetes à portuguesa, com estátuas de meninos a fazerem chichi no meio do jardim e aqueles azulejos todos, e tinha um nome de uma senhora – vivenda e o nome da senhora -, dragões nas chaminés, muitas coisas em mármore”.
“Comecei a imaginar quem é que lá moraria e a criar uma história, [que é] semirreal porque os personagens são inspirados em pessoas da minha infância e adolescência”, contou.
A história foi sendo criada na sua cabeça “sem o objetivo de fazer um álbum ou de editar o que quer que fosse”.
Entretanto decidiu escrevê-la, “aprimorá-la”, e foi depois de começar a contá-la a pessoas que “gostaram do que ouviam”, que decidiu “narrá-la e gravá-la”.
A história passa-se em 2001, em Avintes, freguesia do concelho de Vila Nova de Gaia, começa com um crime e tem três personagens: Sequeira, Sandra Isabel e inspetor Guedes.
Como em qualquer novela, cada uma das personagens tem direito a um tema musical, nascendo assim a banda sonora, para a qual David Bruno convidou “o Rui Reininho, a Gisela João e o Marlon, dos Azeitonas, porque são pessoas que têm bastante que ver com a personagem sobre a qual se está a cantar”.
Rui Reininho é convidado de David Bruno no tema de Sequeira, a personagem principal, um “senhor empresário dos mármores, um clássico ‘bom vivant’, muitos filhos, solteiro, que vive uma vida com muito dinheiro, mas na realidade só quer saber dele próprio, recusa-se a envelhecer, é vaidoso”. “Pensando nas pessoas que conheço com 60 anos ou mais, achei que o Rui Reininho era a pessoa ideal”, partilhou.
Gisela João, que “gosta muito do universo das novelas e da música popular portuguesa”, canta no tema de Sandra Isabel, “a ‘femme fatale’ [mulher fatal] da história, mas que é de Castelo de Paiva”.
Marlon Brandão empresta a voz ao tema do inspetor Guedes, “um homem muito sofredor”. “Eu precisava de alguém que fosse muito dramático, e sempre olhei para o Marlon, com aquele bigode e o aspeto dele, como um protagonista de uma telenovela mexicana”, contou.
A narração da história é feita por David Bruno, mas com um sotaque francês, “primeiro para dar um toque de ‘film noir’” e “porque é também uma dedicatória”.
“Aquela pronúncia que eu tento fazer, em francês, é a pronúncia de um jornalista chamado Olivier Bonamici. Ele agora está na Renascença, mas relatava jogos na Eurosport e eu ficava fascinado com o sotaque dele”, partilhou.
Já a descrição das personagens é feita por David Bruno sem o sotaque francês, “de uma forma muito ‘à café’ e portuguesa”.
“Sangue & Mármore” teve pré-estreia na quarta-feira à noite no Teatro de Avintes, tendo sido exibido “uma espécie de ‘film noir’ abstrato, com imagens dos sítios de que se fala na áudio novela, com alguma edição”, que está disponível a partir de hoje no Youtube.
O formato áudio está disponível nas plataformas digitais e, “mais para a frente, haverá o formato físico”, que será “um objeto colecionável”, como nos trabalhos anteriores de David Bruno, todos em edição de autor.
O concerto de apresentação da banda sonora de “Sangue & Mármore”, onde o músico tocará os temas da áudio novela, “mas não só”, está marcado para 4 de outubro no Hard Club, no Porto.
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