“Um espetáculo que não é político, mas poético, e pretende dizer 'basta' às ditaduras que ameaçam voltar a implantar-se no mundo”, disse Adriana Queiroz à agência Lusa, sublinhando tratar-se de "um repertório que não integra canções de intervenção”.

Temas interpretados por Elis Regina, Maria Bethânia, Chavela Vargas, Violeta Parra e Mercedes Sosa preenchem o espetáculo, com o qual Adriana Queiroz pretende “chamar a atenção de todos para o que se passa na América do Sul”.

“Porque há que dizer basta e que gritar basta ao aumento das ditaduras na América do Sul”, frisou a antiga bailarina do Ballet Gulbenkian que, depois de ter posto fim à carreira na dança, já gravou dois discos.

“Ay Carmela”, “Los hermanos”, “Gente humilde”, “Cruz de olvido”, “Maria Tepotzeca”, “Debaixo d´água”, “Como nossos pais”, “O bêbado e a equilibrista”, “Asa branca”, “Alfonsina e el mar”, “Balderrama”, “La maza”, “Canción com todos”, “Gracias a la vida”, “Todo cambia”, “Cartomante e “Velha roupa colotida” são os 19 temas que preenchem o espetáculo no qual a América do Sul estará presente em cenário sem que Adriana Queiroz queira revelar mais pormenores.

A artista “tinha [este espetáculo] na cabeça há três anos” e, após “alguns percalços”, a sua montagem ocorre num momento “certo” face ao que se passa no Brasil, sublinhou Adriana Queiroz.

“'Mulheres do sul' surgiu-me numa época em que me perguntava e me dizia que eu era uma mulher do sul, na altura em que começou a haver uma certa diferenciação entre o norte e o sul da Europa, na União Europeia”, indicou.

"E digo-me que sou uma mulher do sul, para tentar perceber o ativismo das mulheres do sul, mas no século passado", prosseguiu. "E então fui procurar esse ativismo na música, nas cantoras, e comecei pela América do Sul por paixão por aquela música", enfatizou.

Apesar de ter percorrido a música de outros continentes, Adriana Queiroz ficou-se pela América do Sul, não apenas “por opção de coração”, mas também porque foi neste continente que as mulheres mostraram uma forte capacidade para lutar, ultrapassando tudo e levando a sua voz, acrescentou.

“Como não sou cantora de intervenção, nem quis cantar, fui escolher [canções]. Para diminuir o repertório vastíssimo, primeiro escolhi cinco grandes ativistas: a Elis Regina, a Maria Bethânia, a Chavela Vargas, a Violeta Parra e a Mercedes Sosa”.

"Depois, para estreitar ainda mais o repertório, escolhi várias canções que não eram de intervenção e que mudaram a mentalidade dos povos", indicou. "Canções que passaram a censura e se tornaram uma bandeira de luta e de resistência e que mudaram mentalidades", disse.

No espetáculo, as três intérpretes não irão “imitar” as cantoras que vão interpretar, mas antes “tentar passar ao máximo a mensagem poética dos temas que cantavam”.

“É uma mensagem que continua atual, mas tão atual que é muito assustador”, sublinhou Adriana Queiroz à Lusa.

Adriana Queiroz diz mesmo que a civilização “não pode voltar atrás”, pelo que é preciso “unir vozes para que não se retroceda em conquistas alcançadas”.

Este espetáculo - que a 08 de março, Dia Internacional da Mulher, será interpretado em Bragança -, encerrará em Lisboa a digressão pensada para 2019, para que as três intérpretes entrem em estúdio para gravar “Mulheres do sul” - uma forma de dizer não às ditaduras que estão a querer implantar-se no mundo, disse a cantora.

Sobre a escolha de Lara Li e de Luanda Cozetti, Adriana Queiroz disse já ter trabalhado com a segunda. De Lara Li, diz que “a aprecia”, pois “canta e diz muito bem”.

“Três mulheres que não deixam a sua personalidade de parte e que sabem resistir”, disse.

Questionada sobre o facto de não haver qualquer tema português no repertório do espetáculo, Adriana Queiroz explicou que o único que encontrou foi “Somos livres”, interpretado por Ermelinda Duarte, mas é posterior ao 25 de abril de 1974.

Daí que tenha optado por outros, de resistência. “Todos temas do sul e de mulheres do sul”, concluiu.

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