O SAPO comemora esta sexta-feira, dia 4 de setembro, 25 anos e celebramos a data olhando para o que aconteceu na cultura e no entretenimento nos últimos 25 anos. Para isso, lançámos o desafio a várias personalidades para que escolhessem o que foi para si o momento mais relevante na Cultura e Entretenimento desde 1995.

Conheça as escolhas de Júlio Isidro, Richard Zimler, Herman José, David Fonseca, Manuel Luís Goucha e Pilar del Rio.

Pilar Del Rio

Pilar del Rio

Um acontecimento marcante dos 25 anos, que vão de 1995 até os dias atuais, aconteceu em 1998, especificamente no dia 8 de outubro. Nesse meio-dia soubemos, e com que emoção ficámos ao saber, que José Saramago tinha recebido o Prémio Nobel da Literatura. Quando as estações de rádio deram a notícia, houve uma enxurrada de telefonemas, conversas, comentários e demonstrações de alegria. O professor e ensaísta Eduardo Pardo Coelho disse então que Portugal foi 'um país que cresceu na alegria' e José Saramago acrescentou que todos nós, portugueses, tínhamos crescido três centímetros naqueles dias… Nós leitores sentimo-nos recompensados ​​porque descobrimos que cabia a nós o prémio: se não teríamos lido e valorizado José Saramago, sem orgulho do nosso autor, sem a exigência de que continuasse a escrever, talvez o autor tivesse desistido e o prémio não chegasse. Em José Saramago foi reconhecida uma grande obra, também uma grande tradição, que reivindicou em Estocolmo. E nós leitores fomos reconhecidos, que somos detentores das literaturas nacionais e da Literatura Universal.

Outro facto marcante relacionado com a cultura portuguesa que destaco também teve a ver com a Suécia e o Prémio Nobel da Literatura. Por várias razões, o Presidente Jorge Sampaio viajou a Estocolmo com o seu amigo José Saramago. Naquela época, o escritor e diplomata português Paulo Castilho era embaixador, e os três conheceram, numa calorosa recepção, os emigrantes portugueses na Suécia, uma grande colônia de deslocados para o norte da Europa, alguns por motivos económicos e, sobretudo, por razões políticas do tempo da ditadura. A recepção foi um acto que nenhum participante terá esquecido. A comunidade, tantas vezes invisível, sentiu-se reconhecida e valorizada. Estavam com o presidente do país, mas também com o Nobel. Foram distribuídos pastéis de bacalhau e tocou música portuguesa ao fundo. A alegria refletida nos rostos dos presentes, homens e mulheres de duas ou três gerações, foi tão evidente que ainda hoje não consigo descrevê-la sem emoção. "O país veio ver-nos", disseram. Assim foi. Era dezembro de 1998.

Manuel Luís Goucha

Manuel Luís Goucha:
créditos: TVI

A Expo-98 foi um marco de grande importância. Porque possibilitou a recuperação de toda a  zona oriental de Lisboa, resgatando-a da lixeira industrial que era. Depois, e não menos importante, porque permitiu que milhares e milhares de visitantes tivessem um primeiro contacto com outras culturas e tradições, através dos mais diversos pavilhões dos países presentes e das mais variadas manifestações artistico-culturais que então ocorreram.  Da memória ficou ainda vária obra edificada ligada à Cultura, como o Teatro Camões, actual casa da Companhia Nacional de Bailado, o Pavilhão Atlântico, hoje Altice Arena, palco de tantos eventos musicais de qualidade... entre outras,  sem esquecer a Estação do Oriente, obra inspirada de Santiago Calatrava e já que estamos a falar de arquitectura que dizer da pala de Siza Vieira do Pavilhão de Portugal (prémio Valmor desse ano)?. Definitivamente a Expo-98.

Pedro Abrunhosa

Pedro Abrunhosa

A decisão do Governo liderado por António Guterres de suspender os trabalhos de construção da barragem do Côa para dar lugar a uma melhor compreensão das gravuras rupestres então descobertas, é, na minha opinião, o acontecimento cultural mais relevante, porque simbólico, do pós-25 de Abril. A dotação do país de uma rede nacional de Bibliotecas e de Teatros, muito da responsabilidade do então Ministro Maria Carrilho, é o acontecimento que epitomiza, a par do Parque do Côa, Portugal como destino contemporâneo assente na Cultura.

Júlio Isidro

Festival da Canção 2018

EXPO 98. Nasceu de um sonho e cresceu do zero. A ruína oriental de Lisboa, deu lugar a um espaço de criatividade, cultura, alegria e futuro.

"Os oceanos um património para o futuro", 500 anos de descobrimentos, levaram milhões a navegar por milhares de experiências culturais.

Ficaram, o Parque das Nações, o Oceanário, o Pavilhão Atlântico e o do Conhecimento. O do Futuro, é hoje um Casino, mas Portugal não está na roleta.

Richard Zimler

Richard Zimler

Em março de 2001, por ordem do governo fundamentalista islâmico Talibã, foram destruídas as impressionantes e maravilhosas estátuas dos Budas de Bamiyan - a maior das quais tinha 53 metros de altura - que tinham sido escavadas em nichos na rocha, por volta do século V.  Para mim, este acto bárbaro simboliza a forte politicização da cultura e o perigo do fundamentalismo (islâmico, cristão, judaico e outros) no nosso mundo atual. É cada vez mais claro que que no século XXI, vamos ter que lutar constantemente para defender a cultura contra os ataques da gente violenta, ignorante e preconceituosa.

David Fonseca

David Fonseca

Há vários momentos na nossa história que merecem relevo de alguma forma, é difícil escolher apenas um. Hoje escolho a Expo98, pelo impacto que teve no nosso país, sendo uma iniciativa que atingiu quase todos os parâmetros da nossa sociedade. Talvez tenha sido uma das últimas vezes em que assistimos a um enorme consenso à volta de uma iniciativa política de cariz cultural e que deixou ecos até aos dias de hoje. Lisboa expandiu-se como cidade e a zona  ganhou outra vida depois de terminada a exposição, deixando a sua marca para sempre. Foi a oportunidade para estar perto de outras culturas, desde as mais mainstream às mais alternativas, uma montra para o mundo e uma mudança de paradigma no que diz respeito à forma como Portugal era reconhecido lá fora.

Herman José

Herman José

Há um momento no ano 2000 que me está colado à pele, e que provocou grandes mudanças na minha vida: a opção de deixar a RTP rumo á SIC. Os primeiros dois anos, a reboque do entusiasmo do saudoso Emílio Rangel, foram vividos à velocidade da luz. Entre shares estratosféricos e uma miríade de convidados especiais – do Sting ao Copperfield, da Anastasia ao Tom Jones, do Iglésias à Shania Twain – viveram-se dias de sonho e de encantamento totais. Compensaram largamente os momentos menos bons que o futuro tinha reservado para todos, e dez anos depois, estava-me reservada a alegria de, pela mão do José Fragoso, poder recuperar a felicidade de regressar ao conforto criativo e artístico da RTP, cuja camisola não deixei de vestir com orgulho, até hoje.