O cantor francês mais conhecido no exterior recebeu uma homenagem nacional que uniu líderes de França, onde nasceu, e da Arménia, país dos seus pais e com o qual manteve uma estreita ligação durante toda a vida.

Mais de 2000 pessoas reuniram-se desde cedo no Palais des Invalides, um complexo arquitetónico parisiense onde são realizadas as homenagens oficiais às grandes figuras francesas, como foi o caso de Simone Veil no ano passado.

Aznavour era "uma das caras de França", disse o presidente Emmanuel Macron durante o elogio fúnebre.

"Ao longo dos anos, esta presença, esta voz, esta entoação reconhecível por todos estabeleceu-se nas nossas vidas, qualquer que fosse a nossa condição, qualquer que fosse a nossa idade", acrescentou o presidente francês, saudando a memória de um artista que "sabia como fazer viver" a língua francesa.

Vários políticos estiveram presentes na cerimónia, incluindo os ex-presidentes Nicolas Sarkozy e François Hollande, além de personalidades da música francesa, como Eddy Mitchell e Mireille Mathieu.

O presidente Emmanuel Macron também convidou para a homenagem o primeiro-ministro arménio, Nikol Pashinian, e o presidente Armen Sarkissian, em referência às origens do cantor.

Despedida de Charles Aznavour

"Alguns heróis tornam-se francesas derramando o seu sangue. Este filho de imigrantes gregos e arménios, que nunca frequentou o Ensino Médio, sabia instintivamente que o nosso santuário mais sagrado é a língua francesa", e a usou como o poeta que era, acrescentou Macron.

O primeiro-ministro arménio saudou, por sua vez, este "herói nacional que deu aos arménios uma nova razão para sentir orgulho".

Na praça central de Yrevan, a capital da Arménia, as autoridades colocaram um ecrã gigante para transmitir ao vivo a homenagem a um dos mais visíveis representantes da diáspora arménia.

"Todos nós sentimos a perda de Aznavour como a de um filho do país. Chorei muito. Mas hoje, ao ver as homenagens de França, o meu coração enche-se de orgulho", declarou à AFP Anna Minasian, uma professora de 34 anos que veio com seus estudantes.

O artista recebeu uma ovação final, enquanto o caixão era carregado ao som de sua "Emmenez Moi".

Muitos, em lágrimas, entoaram em seguida o refrão de "La Bohème", como Kelly, uma fã de 20 anos que viajou do oeste da França para se despedir do ícone da música francesa.

Charles Aznavour in concert

"Não podia perder isto", declarou à AFP. "Mesmo os jovens como eu conhecíamos e adorávamos as canções de Aznavour. Eu fui a um concerto seu em Nantes em janeiro. Estava bem", acrescentou, visivelmente emocionada.

Após esta última homenagem, Aznavour será enterrado no sábado "na mais estrita intimidade" em Montfort-l'Amaury, cerca de 45 quilómetros a oeste de Paris, onde repousam os pais do cantor e seu filho Patrick, falecido aos 25 anos.

Charles Aznavour, que vendeu mais de 180 milhões de discos em oito décadas de carreira, morreu na madrugada de segunda-feira, após uma parada cardiorrespiratório em sua casa, em Alpilles, no sudeste da França.

O cantor tinha acabado de voltar de uma digressão pelo Japão e atuaria a 26 de outubro em Bruxelas.