O espetáculo, sempre apresentado a pedido de entidades locais e sem cobrar - por ser “impensável ganhar dinheiro à conta do sofrimento do povo palestiniano”, como disse à Lusa a produtora da companhia, Alaíde Costa -, estará hoje em cena no espaço Sede do Imaginário, em Évora.
“Artistas contra o genocídio – Cessar-fogo já”, escrito a branco, verde e vermelho, as cores da bandeira palestiniana, sobre fundo negro, é o mote do espetáculo "Desver" que alude à ocupação de territórios palestinianos por forças israelitas, num jogo com o significado da palavra: deixar de ver, perder o sentido da visão, para que se veja o país que existe e não está no mapa.
“Desver – uma breve performance sobre um país ocupado por outro” tem texto, conceção e interpretação de Joana Craveiro e resulta de uma viagem que a diretora artística do Teatro do Vestido realizou em maio de 2023 à Palestina, depois de ter sido convidada para se juntar a uma viagem em grupo, disse a atriz à Lusa.
Um bloco de notas para escrever um diário de viagem e uma câmara para gravar o que depois poderia ter dificuldade em contar foram os objetos com que a criadora de "Desver" se muniu para documentar a experiência vivida.
“Foi uma viagem. O avião não parou no aeroporto daquele país, foi noutro. Aquele país não vinha no mapa. Mas, se passássemos por 'checkpoints' e muros e outras fronteiras, chegávamos lá”, lê-se numa nota sobre o espetáculo.
Feita a viagem, chega-se "a uma parte de um país que tinha sido inteiro em tempos", lê-se na nota de apresentação de “Desver”. "Ele disse, escrevam tudo já, não esperem. Escrevam enquanto ainda está quente. E eu escrevi".
Em julho de 2023, no Largo Residências, em Lisboa, Joana Craveiro fez a primeira apresentação de "Desver", atuação que se manteve sempre em construção “ganhando ainda mais sentido”, disse a autora do espetáculo à agência Lusa, numa referência à invasão da Faixa de Gaza por Israel, na sequência do ataque do Hamas a de outubro do ano passado.
Nesta apresentação, em jeito de conferência, a criadora abria, em frente ao público, uma caixa de onde retirava objetos banais - livros, sabonetes, mapas, lenços, recortes de jornais - que, apesar de inofensivos, lhe podiam ter sido retirados em qualquer momento pelas autoridades israelitas, disse a produtora Alaíde Costa à Lusa.
“Desver” mantém-se em “jeito de conferência”, com Joana Craveiro a atualizar os materiais apresentados face à escalada da invasão de Israel a Gaza e à Cisjordânia. E só “podia assumir outro formato caso a guerra terminasse”, disse a autora e intérprete à Lusa.
Porém, "mesmo que este conflito terminasse, continuava a haver um país ocupado”, frisou.
“Desver”, performance em progresso que o Teatro do Vestido apresenta em locais para que é convidado, mediante a disponibilidade de agenda da companhia, teve representações, em dezembro de 2023, em Lisboa e no Porto, onde voltou em fevereiro. Coimbra e Sertã foram outras localidades onde foi apresentado em fevereiro último. Hoje chega a Évora.
A apresentação de "Desver" conta com assistência e colaboração de Henrique Antunes.
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