Cerca de três dezenas de manifestantes, que gritavam palavras de ordem como "Ana Tirana", "queremos mais 20", entraram por volta das 12:00 dentro das instalações da Fundação, onde se mantiveram em protesto contra o que consideram ser um ato de "censura".

Numa carta aberta que, às 10:00 de hoje já tinha sido subscrita por 389 pessoas, os signatários exigem, face "aos últimos acontecimentos ocorridos em torno da exposição do fotógrafo Robert Mapplethorpe, que o Conselho de Administração "apresente a respetiva demissão ou, caso não se confirmem os factos expostos, procedam ao contraditório".

À Lusa, Eduarda Neves, primeira signatária desta carta aberta, defendeu que "a presidente da fundação devia demitir-se" e que o museu devia desenvolver uma autorreflexão que envolvesse todos aqueles que trabalham no museu.

"Penso que já era altura de tornar públicos, de se objetivar aquilo que nos corredores se vai falando sobre o funcionamento do museu", afirmou.

Apesar de admitir que o comportamento do curador não foi o mais adequado, Eduarda Neves justifica este comportamento com a "cultura de medo" que se vive em Serralves, que como outras instituições culturais no país estão "dependentes das elites bancárias".

Até ao momento, ainda não foi possível obter qualquer reação por parte do Conselho de Administração da Fundação Serralves.

Na carta aberta, a que a Lusa teve acesso, os signatários acusam a presidente da Fundação Serralves, Ana Pinho, de praticar "censura" ao "não permitir que fossem exibidas algumas obras, a saber, um total de 20".

Acusam ainda aquele Conselho de Administração de "mentir" ao tornar público que tal decisão fora tomada pelo curador da exposição, lê-se no documento.

No abaixo-assinado, os subscritores defendem ainda que "o Diretor Artístico não deveria ter permitido a prévia censura a uma exposição da qual assumiu a curadoria, mesmo que tenha sido coagido a fazê-lo", e que a exposição não poderia ter sido inaugurada desta forma.

"Há falta de coragem. Há medo no Museu", acrescentam, acusando a atual Presidente do Conselho de Administração de "transformar o Museu de Arte Contemporânea de Serralves num espaço acrítico".

"Não queremos uma Administração que censura, mente e coage. Não queremos um Museu que não assegura o Estado de direito democrático nem os direitos fundamentais dos cidadãos (…). Este Museu também é nosso", afirmam na carta aberta.

O diretor artístico do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, João Ribas, apresentou na sexta-feira a sua demissão porque "já não tinha condições para continuar à frente da instituição", afirmou o próprio ao jornal Público.

Segundo o mesmo jornal, a demissão surge depois de a administração ter limitado a maiores de 18 anos uma parte da exposição dedicada ao fotógrafo norte-americano Robert Mapplethorpe, comissariada por Ribas, e ter imposto a retirada de algumas obras com conteúdo sexualmente explícito.

Segundo o comunicado enviado sábado, o Conselho de Administração da Fundação de Serralves afirma que "não retirou nenhuma obra da exposição", composta por 159 fotografias "todas elas escolhidas pelo curador", João Ribas.

A administração acrescenta ainda que "desde o início a proposta da exposição foi apresentar as obras de cariz sexual explicito numa zona com acesso restrito", afirmando que considerou "que o público visitante deveria ser alertado para esse efeito, de acordo com a legislação em vigor".

Ainda no sábado, o presidente do Conselho de Administração da Fundação Mapplethorpe, Michael Ward Stout, afirmou que a demissão de João Ribas foi "completamente inapropriada e pouco profissional", revelando ter ficado "chocado com a atitude".

A exposição, com fotografias de nus, flores, retratos de artistas como Patti Smith ou Iggy Pop e imagens de cariz sexual foi inaugurada na quinta-feira em Serralves, no Porto.

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