Editado pela 7 Nós, o livro é composto por três ensaios que funcionam como “um conjunto de experiências pessoais” que advêm de uma vivência ligada ao jazz há 22 anos, através do Guimarães Jazz, mas também na rádio e em colaborações com publicações como a Acto ou a espanhola Cuadernos de Jazz.

O primeiro texto, que dá título ao livro, é “verdadeiramente o trabalho de fundo” e foi escrito “recentemente”, enquanto o segundo, “Espaços de liberdade”, sintetiza “o que é trabalhar num festival e os seus dilemas existenciais”.

O terceiro e último ensaio, “Boys and girls”, é mais antigo e olha para o jazz como “uma música que vai ser alterada pela facilidade do acesso à audição”, sendo que Ivo Martins estava “longe de imaginar as mudanças que viriam a surgir, como a facilidade com que se fazem discos e o acesso fácil á tecnologia”.

“Na prática, é uma espécie de síntese, porque estou ligado ao jazz há muito tempo, no Guimarães Jazz e na rádio, e a experiência dos contactos, de como se constrói o festival, cria um conjunto de dados e referências que os textos condensam”, apontou o autor, que descreve à Lusa o “conjunto de experiências pessoais e coletivas” que passou para o papel.

O livro, que se segue a “Em trânsito, em Morte”, lançado em 2012, na mesma editora, fala “do que é hoje fazer jazz”, dando-lhe a resposta de “agir de forma aberta em qualquer cenário”, até porque “há jazz em tudo, há música pop que tem jazz e até a música clássica é influenciada pelo jazz”.

“Fazer jazz hoje é uma espécie de abordagem, uma forma de atuação criativa, não é verdadeiramente um estilo ou género musical. É uma forma de estar na música em que se usa a improvisação e uma abertura perante as lógicas predominantes e as imposições do mercado”, comentou Ivo Martins, que descreve o jazz “como uma música que, por si, é de mestiçagem e de mescla”.

O acesso à tecnologia e o aparecimento da Internet são pontos de viragem fundamentais no mundo da música, considera, o que se estendeu ao jazz, numa fase de “pós tudo e que é de transição entre momentos diferentes”, na qual “tudo está interligado”.

O avanço tecnológico revolucionou o mundo da música do lado dos criadores, que “nunca tiveram tanta facilidade em criar música” com boas condições técnicas, e do lado do público, que “aumentou muito nos concertos ao vivo” por consequência das mudanças na forma de consumo, além de se ter perdido “a ideia de categorizar as coisas por género ou por ano”, dada a facilidade de acesso através da Internet.

“Não podemos olhar o jazz como um nicho ou um objeto fechado e estanque, com uma fronteira definida, e dentro desse quadro percebe-se tudo. Não é assim, é um sistema poroso, que absorve e exala”, afirmou Ivo Martins, que procurou no livro traçar, de uma perspetiva “não historicista”, a evolução do estilo musical ao longo dos anos.

Quanto ao panorama português, o diretor artístico do Guimarães Jazz considera que sofreu “uma evolução impressionante”, pelo aumento da quantidade e qualidade dos músicos que se têm formado e criado novos projetos musicais.

“A cena jazzística em Portugal é riquíssima comparativamente há 20 anos. Claro que se levantam questões de subsistência, de aguentarem os projetos que têm e imporem-se”, explicou.

O trabalho de produção e o aumento de estruturas que permitem que os músicos “se movimentem e deem mais concertos e festivais” faz com que “todos os anos surjam bons projetos, com jovens”.

“Faz-me acreditar que daqui a 20 ou 30 anos Portugal tenha um conjunto de músicos, um património acumulado de gravações, que fizeram um pouco da história do jazz em Portugal, que é relativamente curta, terá uns 50 anos”, acrescentou.

Não descarta voltar a escrever sobre o tema, até porque continuou a escrever desde o último ensaio, mas futuras publicações estão dependentes de “como este livro é recebido” e o interesse gerado, bem como outras publicações da área, para que o conteúdo seja “pertinente e não escrever por escrever”.

“O jazz depois do jazz”, editado pela 7 Nós, terá duas sessões de apresentação: a primeira na associação Sonoscopia, no Porto, a 20 de outubro, e a segunda no Bar Irreal, em Lisboa, a 22 de outubro.

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