Em entrevista à agência Lusa, no estúdio onde alinhava o espectáculo "35v50", marcado para novembro em Lisboa, o músico recordou que ganhou o primeiro salário aos 15 anos, a manipular dois gira-discos para pôr as pessoas a dançar.
"O DJ não era ninguém a não ser uma pessoa que estava atrás de um balcão a por uns discos. Tinha tanta importância como um 'barman', um porteiro. Não é nada daquilo que fizeram hoje do DJ, uma 'star'. Na altura, a única coisa que diferenciava num DJ era o assédio das miúdas", afirma DJ Vibe, ou seja António Pereira.
Nascido em Lisboa em 1967, largou a escola cedo e começou a ouvir música por causa da loja de discos do pai.
Era o início dos anos 1980 e ali, entre vinis, diz que podia ouvir de tudo, do 'boom' do rock português às tendências que chegavam de fora. As primeiras experiências como 'disc-jockey' foram ensaiadas em festas com amigos, para onde levava as descobertas da loja do pai.
A primeira discoteca onde atuou como profissional pago, pouco antes de completar 16 anos, foi o Bataclan, em Lisboa. Depois disso inscreveu o nome na história de algumas das mais conhecidas discotecas de Lisboa, onde foi DJ residente por várias temporadas: Plateau, Kremlin, Alcântara-Mar e Lux-Frágil.
"Arriscava imensa coisa que mais ninguém tocava (...) Ia comprar música lá fora, numa primeira fase a Espanha, e depois a Londres, quando rebenta o acid house, quando começam as raves de acid. Quando toquei isso aqui, as pessoas chamaram-me maluquinho, que punha música de martelos", recordou.
Nestes 35 anos, a par da vida noturna nas pistas de dança, Tó Pereira estendeu a manipulação dos 'pratos' a programas de rádio - Rádio Comercial, Rádio Energia e Antena 3 -, integrou os LX90 e fez dupla com Rui da Silva em Underground Sound of Lisbon, criadora em 1994 de "So Get Up", um dos maiores sucessos da música de dança portuguesa.
Foi nessa época que Tó Pereira escolheu ser DJ Vibe e expandiu o circuito de atuação para fora de Portugal.
"Há uma maneira de estar diferente em cada país. Nos Estados Unidos acho que até ao 11 de setembro [de 2001], a noite foi uma coisa, a partir daí acabou. Não se vive a mesma intensidade, as pessoas divertem-se, mas parece que estão sempre de pé atrás, com receio que alguma coisa possa acontecer", opinou.
Por causa do espectáculo que fará a 4 de novembro no Armazém 16, em Lisboa - uma maratona de pelo menos seis horas de música -, Tó Pereira tem estado a ouvir muito do material de arquivo que acumulou nestes 35 anos, entre cassetes e milhares de discos de vinil.
No estúdio, onde guarda os antigos gira-discos, sequenciadores, mesas de mistura e amplificadores ao lado da tecnologia mais recente, o produtor admite uma certa emoção a ouvir o que tem guardado, mas sem grandes nostalgias.
"Ouvir a música daquela época com as ferramentas de hoje! Na altura a música era mais musicalizada, havia canções e isso acabou um bocado. Há noites em que entras numa discoteca e não ouves uma voz. É ritmo, ritmo, ritmo e no meio desse ritmo, se prestamos atenção às vezes não tem nada. Sinto um bocado isso na música que se faz hoje", constatou.
Com a indústria da música de dança e eletrónica a valer atualmente milhões de dólares e com nomes mais massificados como Martin Garrix, Hardwell e Tiesto, o português DJ Vibe fala numa banalização da figura do 'disc-jockey' e da música de dança.
"É uma pena, porque as pessoas boas que sabem e que percebem de música poderiam estar a trabalhar e não estão, porque há outras que estão a ocupar esse espaço por meia dúzia de tostões e algumas por hobby. E isso descredibiliza a profissão", disse.
Comentários