A dramaturga, produtora e encenadora já tinha denunciado a “guerra de agressão russa” numa petição datada de 24 de fevereiro, dia em que a Ucrânia foi invadida pelas tropas russas, acrescentou o festival num comunicado.

O contrato de Marina Davydova tem efeito a partir de outubro de 2023 e prolonga-se até 30 de setembro de 2026.

Nascida em 1966 em Baku (atual capital do Azerbaijão), Marina Davydova foi jornalista e chefiou a redação da revista Teatr até março último. Foi também cofundadora do festival NET (New European Theatre) em Moscovo, de que foi diretora artística durante 23 anos.

"O que os artistas devem fazer durante a guerra e qual é o objetivo da própria arte durante a guerra? Estas duas perguntas têm-me sido feitas desde Fevereiro de 2022 muitas vezes. E, para mim, estas são duas questões fundamentalmente diferentes”, disse Marina Davydova após a nomeação, citada pelo comunicado divulgado pelo festival austríaco.

“Em momentos de cataclismos políticos e sociais, um artista pode usar o seu recurso como personalidade pública para moldar a opinião pública. Pessoalmente prefiro aproveitar esta oportunidade”, porque “a arte não deve tornar-se refém das circunstâncias políticas momentâneas, mudando a opinião pública ou as tendências atuais”.

“O propósito e o significado da arte permanecem sempre, a meu ver, os mesmos: explorar a vida nos seus aspetos ontológicos, existenciais e sociais", referiu, sublinhando que, enquanto diretora artística do Festival de Salzburgo interessar-se-á, “antes de mais, pela profundidade e persuasão da investigação teatral".

O atual diretor artístico do Festival, Markus Hinterhäuser, por seu lado, disse que, "sob a sua liderança [de Marina Davydova], a nossa elevada proporção de visitantes de um total de 76 países será tida em conta com uma orientação cada vez mais internacional".

“Estou convencido de que Marina Davydova trará novos impulsos fortes ao departamento de teatro do Festival de Salzburgo, dada a sua extraordinária perícia e qualidades humanas", acrescentou o pianista austríaco que ainda dirige o Festival.

Marina Davydova vive em Berlim depois de ter sido forçada a deixar a Rússia na sequência de ameaças.

Formada no departamento de crítica teatral da Academia Russa de Arte Teatral (GITIS/ RATI), em 1988, a após defesa da sua tese de doutoramento, trabalhou como investigadora sénior no Instituto de Estudos de Arte.

Davydova ministrou também vários cursos sobre a história do teatro da Europa Ocidental em diferentes institutos e deu uma aula de mestrado sobre crítica teatral na Universidade Estatal Russa para as Humanidades.

Como autora é responsável pelas monografias “The End of the The Theatre Epoch” (2005) e “Culture ZERO” (2017), nas quais analisa os últimos vinte anos da história do teatro russo.

É também editora e coautora do livro “The History of Western European Theatre”, que abrange a história do teatro desde a Renascença até final do século XIX.

Durante muitos anos fez crítica de teatro no Izvestia, um dos mais antigos jornais russos e foi colunista do Colta.ru.

Entre os prémios recebidos por Marina Davydova, conta-se o do Sindicato dos Jornalistas da Rússia, em 2007, como melhor crítica teatral, enquanto em 2005, arrecadara o Prémio Stanislavsky para o melhor livro do ano, exatamente por "The End of the Theatre Epoch".