Alexandre Dumas (filho) escreveu a sinopse de todas as novelas portuguesas: "O casamento é uma cadeia tão pesada que para carregá-la são necessárias duas pessoas, e às vezes três”.
Noite na televisão portuguesa é sinónimo de telenovelas. Acredito que para os verdadeiros amantes da ficção, as gravações automáticas foram a salvação- graças a elas quantos suicídios já se evitaram? Acredito também que quem vê todas as novelas (se é que é possível) está parcialmente em estado vegetativo.
Mas vamos lá a um zapping pelas novelas. Comecemos por "Jardins Proibidos", que prova logo no genérico que é uma verdadeira história à portuguesa - corpos nus a tomar banho entre os créditos. Como cantaria Stromae (cantor francês), "Formidable, formidable".
A novela da TVI tem várias histórias dentro da história. A que mais mexe com o coração (literalmente) é a história da Clarinha, que está internada à espera de um coração para transplante. Eu não quero trazer más energias para a trama, mas acho que a menina não vai sobreviver - que mau, estão vocês a pensar... mas não estou a ser mau, estou a ser realista. A Clarinha não vai sobreviver porque os pais reais só a deixaram participar na novela durante as férias, agora com as aulas não tem tempo para gravações.
E de Queluz de Baixo, vamos até Carnaxide. "Mar Salgado" é a nova novela portuguesa da SIC. A sinopse diz: "Uma mentira no passado; duas crianças levadas à força; A busca e o reencontro entre uma mãe e os filhos". Só de ler isto fico emocionado.
O genérico de "Mar Salgado" diz muito sobre a novela. Apenas aparece mar, mar, mar e água e mais água, e às vezes rochas e areia- a meio de genérico até pensei que era uma reportagem da TVI sobre o Meco... mas isso só mesmo na TVI (ah, em "Jardins Proibidos" há cenas sobre a praxe. A isto se chama sinergia: aproveitar recursos do jornalismo para a ficção e vice-versa).
Antes de irmos até à RTP, aconselho aos telespectadores de "Mar Salgado" a irem "medir a tensão" - tanto sal pode fazer mal.
Finalmente chegamos a "Bem-Vindos a Beirais". A RTP diz que não é uma novela, que é uma série. É mais chique mas no fundo é tudo igual.
Basicamente a série é como um reality-show de uma aldeia onde estão todos os ingredientes: a funerária, a mercearia, o padre que é cobiçado, o presidente da junta (eleito democraticamente pelos guionistas) e o café da associação recreativa (quem está ao balcão é a voz do BES, que já não é a voz do BES... por isso já sabemos o que poderá acontecer ao Vítor Bento).
Enfim, em Portugal as novelas são como Deus: omnipresentes. Estão em todos os canais a todas as horas. Já agora, mesmo que não vejam novelas, se quiserem conversar com alguém sobre as ditas basta lançar para o ar a pergunta: "E o/a outro/a que tem outra/o?".
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