D’Alva deram o pontapé de saída. Os Buraka Som Sistema (e um dos membros, DJ Branko) marcaram a última goleada musical do primeiro dia d’O Sol da Caparica, esta quinta-feira. Pelo meio houve de tudo: o pop rock português dos GNR e do enérgico João Pedro Pais, assim como a mistura de estilos e influências de Gabriel, o Pensador - de onde se sobressai o rap - e de Dead Combo. Todos juntos formaram uma erupção solar musical que tornou o primeiro dia d’O Sol da Caparica num interessante espetáculo onde se celebrou a música portuguesa.
Eram 18h15 quando os D’Alva subiram ao palco. Incumbidos de abrir o festival, entram sem pedir autorização, fazendo com que o público rapidamente se levante para se dirigir à frente do Palco Blitz: “queres mais ação e menos conversa?”, canta Alex D’Alva Teixeira, o vocalista. Estamos a ouvir Frescobol, o primeiro single do álbum de estreia dos D’Alva, #batequebate , e sentimo-nos dentro de uma festa.
Num concerto alimentado por referência 100% pop, tudo valeu: mini-twerks, momentos de ensinar o público a dançar em paralelo com a dança constante do vocalista, as camisas coloridas que eram elas próprias um sol, e os vários momentos de interação onde pediam ao público para cantar as canções orelhudas de #batequebate ao mesmo tempo que batiam palmas. “Toda a gente dança, toda a a gente canta” – era hora de outra das músicas preferidas dos fãs do álbum, Não Estou A Competir, - “agora sim a festa pode começar”. Seguiu-se um pequeno júbilo com Aquele Momento e um aviso de Alex D’Alva: “a minha mãe está aqui… é a primeira vez que ela me vê ao vivo”.
LLS prossegue o concerto e, apesar de se notar que o público desconhece os D’Alva, começam a cantar Livre, Leve e Solto sem hesitar. Oportunidade para invocar Wanna Be Startin' Somethin' de Michael Jackson, seguida um solo de baixo. Da pop internacional para a pop portuguesa dos anos 1980: em 1988, os BAN lançavam Irreal Social; em 2014, os D’Alva acordam a canção. Homologação é já um presságio para o fim que vem com 3 Tempos de quando Alex D’Alva Teixeira estava a solo. Um aviso final: “somos todos d’Alva!”.
Márcia veio acalmar a festa com um registo mais sereno que refletia o pôr do sol. Acompanhada por quatro músicos, a cantora portuguesa conseguiu ainda assim juntar muitos festivaleiros que relaxaram ao som das suas canções. Márcia reforçou a simplicidade do seu concerto ao tocar o seu single, A Pele Que Há Em Mim, que não deixou ninguém indiferente e arrecadou uma salva de palmas geral. “Quando o dia entardeceu | E o teu corpo tocou | Num recanto do meu | Uma dança acordou | E o sol apareceu | De gigante ficou | Num instante apagou | O sereno do céu”.
20h. Estava na hora de abrir o Palco SIC/RFM. Os Dead Combo chamaram a multidão para o palco principal que logo se ambientou: um piano branco, as flores, os dois músicos frente-a-frente. Tó Trips e Pedro V. Gonçalves brindaram o público da Caparica com o habitual espetáculo dos Dead Combo em que não faltaram os sons da guitarra ou do kazoo. Esta foi também uma oportunidade para dar a conhecer A Bunch of Meninos, o último álbum da banda.
Enquanto os Dead Combo iam do fado ao rock e aos westerns no palco principal, o público do palco secundário esperava por Samuel Úria. O português acabou por chegar, por volta das 20h30, mas as atenções já estavam voltadas para o palco principal, onde os GNR começariam entretanto. Úria mostrou-se com força, apesar dos percalços, mas pouco antes das 21h os festivaleiros rumaram ao Palco SIC/RFM. Rui Reininho e os seus companheiros já estavam prontos para começar a festa do pop-rock português. Depois das polémicas na TV, Reininho apareceu em boa forma e até bem-humorado: no final não deixa de dizer – “conduzam com cuidado… não bebam como eu”. Os clássicos foram ouvidos e cantados pela multidão que ali se juntou: Sangue Oculto, Pronúncia do Norte, Dunas, Mais Vale Nunca, e por aí fora. As gerações mais avançadas que foram ao Sol da Caparica foram as que ficaram mais entusiásticas com este concerto, mas mesmo os mais novos entoavam as letras sem enganos.
Entre GNR e João Pedro Pais, ainda fomos espreitar Capitão Fausto. Infelizmente não fomos a tempo de apanhar a ‘Teresa’, mas vimos bem o rock n’roll eletrizante da banda que nos deixou sem fôlego, de tal forma estavam acelerados. Porém, João Pedro Pais já dizia Um Volto Já no palco principal e, por isso, dirigimo-nos até lá sem demoras. Surpreendentemente, o cantor português mostrou-se uma verdadeira rockstar sem precisar do sol que já ia longe. “Estou pela primeira vez na Costa da Caparica”, disse. E ainda bem que veio. Não Há (Ninguém Como Tu), Mentira, Ninguém É De Ninguém, Louco Por Ti, Nada de Nada, Estás À Espera De Quê e por aí fora: foram muitos os hits, e até os saltos de João Pedro Pais que mostrou ter um vozeirão.
Ainda a tempo de dar um salto a Peste & Sida, chegamos na altura certa: a banda cantava O Sol da Caparica, música sucesso dos anos 1990 que deu nome e tema a este festival. Mal os Peste & Sida, os últimos a pisar o palco secundário, começaram a tocar os primeiros acordes deste tema, o público reconheceu e começou a bater o pé. Daí até ter uma multidão a cantar e a saltar ininterruptamente foi um tiro: “Aqui vou eu… Aqui vou eu cheio de pica! De Lisboa vou fugir, vou para o Sol da Caparica!” Estava feita a festa da nostalgia. Porém, antes de Gabriel O Pensador, ainda ficámos para apreciar um peculiar momento: toda a performance de Estrela na TV que teve direito a isso mesmo… a uma estrela literalmente dentro da TV. De rir.
Fomos na corrente do público que se dirigia para o palco principal e depressa chegamos a Gabriel O Pensador. Músicas como Surfista Solitário ou Linhas Tortas agradaram até aos que não vasculharam muito a obra do brasileiro, mas foram os verdadeiros fãs do rapper quem aproveitou o concerto para meter cá fora as letras das músicas. Na Palma Da Mão, Tá Na Hora de Molhar ou Astronauta puseram O Sol da Caparica a acompanhar os ritmos brasileiros.
Os ‘não fãs’ aproveitaram o tempo para descansar. Sim, descansar. E era necessário. De seguida, os Buraka Som Sistema entraram e não deram descanso. ‘Sente’ abriu o leque de movimentos sensuais que preencheu toda a atuação dos BSS. Blaya e Kalaf interagiram com o público e protagonizaram os melhores momentos da noite, seja na Hangover ou Get Stoopid, seja na We Stay Up All Night e, principalmente, na Parede onde Blaya foi rainha do seu corpo. Depois deste repertório mais recente, os BSS dão espaço a Blaya para cantar o seu single a solo, Superfresh, mas rapidamente seguem para músicas mais antigas como Aqui P’ra Vocês.
Momento para uma confissão de Kalaf: “eu vivi naquela rua ali atrás”, referindo as suas origens e o quão especial é estar ali na primeira edição d’O Sol da Caparica. A música prossegue com Komba misturada com Não Faz Isso Bela e Yah!, o que levou a multidão à loucura. Vuvuzela (Carnaval) e Sound of Kuduro prosseguem, mas foi Tira O Pé que realmente fez levantar poeira no recinto. Oportunidade para algum público subir ao palco e para o DJ Branko começar as suas misturas com Aerosol Can, dos Major Lazer, e You’re In Trouble, de M.I.A. O final vinha já anunciado com o maior hit dos BSS: Wegue Wegue. Abana o Eskeleto e Voodoo Love fizeram o encore de um espectáculo em grande onde quem deu tudo foi mesmo a própria banda.
Fotografias: Joana Jesus
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