Após o encerramento de portas dos teatros, devido ao segundo confinamento, iniciado em 15 de janeiro, diretores de programação e artistas concentram-se agora nos novos espetáculos e nas estreias, esperando que não seja necessário voltar a confinar até ao final da temporada.
No Nacional D. Maria II, a reabertura de portas pauta-se pela apresentação, na sala Garrett, de “Catarina e a beleza de matar fascistas”, o mais recente texto de Tiago Rodrigues, diretor artístico deste teatro, que também a encena.
Estreada em 19 de setembro do ano passado, no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, a peça já foi representada no Centro Cultural de Belém e já partiu em digressão internacional. O texto do espetáculo também foi publicado em francês.
A peça fala de uma família que tem por tradição matar fascistas. Numa casa de campo, no sul de Portugal, os seus elementos reúnem-se para que o seu elemento mais jovem, Catarina, possa iniciar-se no ritual, matando o primeiro fascista que fora raptado de propósito.
No dia que estava previsto para ser de festa, beleza e morte, acaba, todavia, por principiar um conflito familiar, pois Catarina revela-se incapaz de matar, recusando-se a ser iniciada no ritual familiar.
“Catarina e a beleza de matar fascistas” ficciona aquilo que poderá ser Portugal em 2028, governado pela extrema-direita, como a ação deixa depreender.
A peça termina mesmo com um longo discurso de um membro do partido então no poder, que, em 2020, tinha apenas um deputado, mas que, entretanto, consegue chegar aos 117, alcançando maioria absoluta. Um partido que fala numa nova República, numa nova Constituição e em mais de meio século de um país “governado por bandidos” e que, então no poder, critica “as minorias que não respeitam as maiorias”.
“É uma peça que nos coloca num contexto imaginário, ficcionado, para pensarmos sobre as nossas vidas e sobre o que poderá ser o futuro se não tivermos cuidado e não refletirmos e agirmos no presente”, referiu Tiago Rodrigues quando da estreia em Guimarães.
Para o encenador e diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, trata-se de uma “abordagem muito clara à ameaça da ascensão de populismos de extrema-direita, de tendência fascista, para não lhe chamar efetivamente fascistas”.
Além desta peça, o D. Maria II terá em cena, na sala Estúdio, a partir de terça-feira, “Tempo de refletir”, um espetáculo de Ana Borralho e João Galante em que os criadores questionam a ideia de público como entidade de reflexão.
Com poemas de José Miguel Silva, nesta peça o público é visto como motor de pensamento e imagem, sendo guiado através dos atores do espetáculo, disse à agência Lusa Ana Borralho.
A peça “é também sobre a vida depois da morte e um dispositivo de reflexão e meditação sobre a morte em vida; sobre morrer e voltar a viver”, acrescentou Ana Borralho.
No Teatro da Trindade, a reabertura de portas ocorrerá apenas no dia 22, com a estreia de “Noite de estreia”, um projeto de Martim Pedroso e da Nova Companhia a partir de “Opening night”, de John Cassavetes, em cena na sala Cármen Dolores.
Na sala Estúdio, estrear-se-á, no dia 29, “Luísa de Jesus, a assassina da roda”, um texto de Rute Carvalho Serra, com interpretação de Maria Henrique.
No Teatro do Bairro, a poesia de Federico García Lorca assinala a reabertura, na terça-feira, com “Bodas de Sangue”, que encerra a "Trilogia Dramática da Terra Espanhola", dedicada às tragédias do poeta andaluz "Yerma" e “A Destruição de Sodoma”, encenadas por António Pires.
Quanto aos Artistas Unidos, a companhia dirigida por Jorge Silva Melo assinala o esperado regresso aos palcos com duas estreias: “Birdland”, de Simon Stephens, no dia 19, na sede da companhia, no Teatro da Politécnica, em Lisboa.
Quatro dias depois, no Centro de Artes e Espetáculos de Portalegre, põe em palco “Morte de um caixeiro-viajante”, um texto de Arthur Miller, que tem aqui a primeira etapa de uma digressão nacional.
Já no Teatro Municipal S. Luiz, a reabertura ocorrerá com a apresentação da peça “Comédia de bastidores”, um texto de Alan Ayckbourn encenado por Nuno Carinhas e João Cardoso.
Estreada em outubro de 2020, no Teatro Nacional S. João, no Porto, a peça põe em palco três casais disfuncionais.
Em Palmela, também na segunda-feira, O Bando estreará “A porta”, a mais recente criação da companhia fundada por João Brites, que assina igualmente a encenação deste texto de Gonçalo M. Tavares.
O Teatro Experimental de Cascais só reabrirá as portas no dia 21, quando estreará “Hamlet”. Este texto clássico de Shakespeare tem encenação do diretor da companhia, Carlos Avilez.
A reabertura das salas de espetáculos fica ainda marcada, no dia 20, pela estreia da peça “A margem do tempo”, no Auditório Eunice Muñoz, em Oeiras. Na peça, a consagrada atriz de 92 anos contracena com a neta, Lídia Muñoz, e prepara a despedida dos palcos, depois de oito décadas de carreira.
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