Em declarações à agência Lusa, o membro do coletivo Teatro Praga, explica que o trabalho assenta na “troca de lugares entre duas pessoas que se conheceram, e que não têm ainda espaço”, pretendendo “tornar visível a história alemã em Portugal e também a história portuguesa na Alemanha.”
Tomando como ponto de partida uma ligação entre Lisboa e Berlim, “Inverted Landscapes” (“Paisagens invertidas”, na tradução do inglês) aprofunda a história de duas figuras das artes performativas portuguesas que trocaram de geografia em busca de um objetivo artístico comum: Ruth Aswin, alemã, que vem dançar para Portugal nos anos 30 do século XX, e Valentim de Barros, que tinha sido seu aluno e foge para Berlim em busca de trabalho e liberdade.
“São duas pessoas com as quais, nos últimos anos, tenho andado obcecado. Queria dar a conhecer mais, uma vez que existe pouca historiografia sobre elas. O meu trabalho parte muito de recuperar historiografias perdidas, ou pelo menos dar visibilidade a epistemologias e formas de conhecimento que têm sido esquecidas, postas de parte, ou que não são tratadas pela academia”, descreve André Teodósio.
“É fazer uma homenagem, à sua história, torná-los visíveis, não só através dos seus documentos e das suas caras, mas também dos seus procedimentos artísticos […] desde gravar poemas, pintar telões, construir bonecas”, adianta.
“Inverted Landscapes” está patente na Galeria Kunstraum Botschaft – Camões Berlim e é uma coprodução com a Fundação EDP, o MAAT e a Embaixada de Portugal/Camões Berlim. A exposição está a cargo de André Teodósio e Bruno Bogarim e a performance, que decorreu a 11, 12 e 13 de setembro, foi construída por Ana Tang, Aurora Pinho e Paulo Pascoal.
“Há uma exposição onde estão estes materiais, desde o processo de Valentim de Barros na Alemanha, pelos nazis, quando foi expulso, à fotografia de Ruth Aswin numa performance que a tornou muito conhecida em Portugal, com os próprios desenhos do Bruno Bogarim, que assentam em grafias, desde partituras de dança, às próprias ideias de telões, uma publicação onde figura esta história […]”, conta o artista, membro do coletivo Teatro Praga.
“[Na performance] são ativados uns poemas, com os figurinos, que remetem a toda esta historiografia. É tornar visível e material, mas não o fazendo apenas de uma forma informativa, e sim dando a volta, conseguindo criar uma realidade artística agora, que não seja só informativa daquilo que foi a história deles”, acrescenta.
Para André Teodósio, há uma grande ligação da exposição com a atualidade já que continua a haver “muitos artistas que vão para a Alemanha, por exemplo, ou alemães que vão para Portugal”.
“No fundo, nunca temos espaço em nenhum dos sítios para onde vamos. […] ‘Inverted Landscapes’ é uma homenagem a todas estas pessoas, criadores, comunidade LGBTQI, pessoas negras, pessoas trans, que têm sempre mais história do que espaço, espaço na academia ou espaço geográfico. Porque estão sempre a ter de ser nómadas, como estes artistas tiveram de ser nómadas de alguma forma”, frisa.
O encenador, compositor e professor admite que a crise provocada pela pandemia de covid-19 provocou “um momento muito difícil de gerir”.
“Existe uma precarização inicial de base, que já torna mais precárias estas pessoas. Ou seja, quando há cortes, quando há reduções, quando não há programação, quando não trabalho, ainda que precário, estas pessoas estão reduzidas a nada. Mas, ao mesmo tempo, para quem consegue ter algum fundo de maneio, para quem consegue sobreviver, pode ser uma forma de redimensionar aquilo que pode ser a prática artística”, explica.
“Inverted Landscapes” pode ser visitada até ao dia 16 de outubro, na Galeria Kunstraum Botschaft – Camões Berlim.
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